terça-feira, 11 de outubro de 2011

OS TRÊS MOSQUETEIROS

 Antonio Carlos Egypto


OS TRÊS MOSQUETEIROS (The Three Musketeers).  Estados Unidos, 2011.  Direção de Paul W. S. Anderson.  Com Orlando Bloom, Christoph Waltz, Logan Lerman, Milla Jovovich.  93 min.

Se você está interessado em mais esta versão cinematográfica de “Os Três Mosqueteiros”, em função da obra de Alexandre Dumas, de inegável valor literário, esqueça.  A obra de Dumas é apenas o pretexto para mais uma série de filmes de ação, recheados dos efeitos especiais mais atualizados e da tecnologia 3D mais avançada. É mais um mote para a indústria do entretenimento hollywoodiano encher suas burras de dinheiro.  O que não significa que o produto seja ruim.  Vai agradar à garotada, com certeza.

Os óculos para usar nas sessões em terceira dimensão ainda incomodam às  pessoas que usam óculos habitualmente.  Se usar um óculos já é chato, imagine dois, um em cima do outro.  Mas, pensando bem, isso não deve ser um grande problema, porque a maioria das pessoas que têm menos de 40 anos não precisa usar óculos e filmes como “Os Três Mosqueteiros” se dirigem a um público infanto-juvenil e que pode atingir também jovens adultos.  E para por aí, eu acho.

Os elementos constitutivos da história estão lá: o rei, muito jovem, despreparado e abobalhado, os seus fiéis, mas já um tanto desmotivados, mosqueteiros (Athos ,Porthos e Aramis) e um D’Artagnan adolescente heróico, sem qualquer controle ou medida no comportamento, milady traindo para todo lado, o “mau” Cardeal Richelieu, os confrontos com o duque de Buckinghan, etc.  Mocinhos e bandidos bem marcados.  São personagens sem nuances, sem medo ou dúvida, que, afinal, já conhecem o fim da história.  Assim como o público que vai ao cinema.


A capa e a espada também estão lá, mas as armas de fogo e os dirigíveis que voam e seus canhões têm a primazia.  Acabam produzindo dentro da aventura uma espécie de disaster movie.  Um dirigível tromba com e pousa sobre a igreja de Notre Dame, símbolo turístico de Paris.  Destrói pelo menos uma de suas famosas gárgulas, é perfurado por sua torre e em seu topo se desenvolvem batalhas decisivas da história.  Claro que uma das gárgulas também vai ser usada para sustentar D’Artagnan, no auge da luta.

Nova York já foi muitas vezes destruída, agora será a vez de Paris?  Isso ainda não sabemos, o filme acaba na cena que dá início à Parte 2, prometendo uma guerra muito maior do que a que acabamos de ver.  E assim a franquia se estabelece.  Quantas partes terá?  Para mim, essa primeira já bastou, dispenso a sequência, como fiz com “Piratas do Caribe”, por exemplo.

Mas quem gosta mesmo do gênero aceita tudo, por mais absurdo que seja, em nome da diversão.  Eu desconfio de que esse conceito de diversão é um tanto idiotizante, porque, afinal, não é preciso parar de pensar para se divertir.  Mas parece que é assim.

Quanto às possíveis mensagens que ficarão implícitas na cabeça dos jovens, pelo menos uma me parece inadequada.  Logo no início do filme, D’Artagnan, adolescente, parte para Paris disposto a tudo, a todo tipo de briga e provocação para “vencer na vida” mosqueteira.  A mãe tenta freá-lo, dizendo que ele evite provocações.  O pai, ao contrário, a desautoriza e o aconselha a ir atrás das provocações e mostrar suas habilidades, treinadas pelo próprio pai. O filme todo reforça a correção dessa estratégia. Embora o personagem leve algumas invertidas, a impetuosidade e a total falta de limites do jovem é premiada com um êxito sem precedentes.

D’Artagnan dá novo sentido à vida dos três mosqueteiros, cai nas graças do rei e conquista sua amada, sem nunca parar para pensar ou avaliar uma de suas atitudes sequer.  O descontrole e a exposição gratuita ao risco são valorizados como virtudes.  Responder agressiva e provocadoramente a qualquer um, sem nem mesmo remotamente saber com quem está lidando, também acaba sendo correto, já que a figura ignorada seria o grande vilão, com muito poder, mas que acabará levando a pior.

É típico da fase adolescente uma tendência onipotente: a de que nada vai acontecer comigo e de que eu posso tudo.  A identificação com o personagem mais importante, um adolescente que reina soberano na história, com mais força do que os mosqueteiros experientes do rei, será óbvia.  Um pouco de temperança e equilíbrio para esse personagem tornaria as coisas menos idealizadas, mais humanas, e poderia se constituir num modelo mais apropriado para a realidade já arriscada, em que grande parte dos jovens se encontra.  Para que botar mais lenha na fogueira?

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