TRABALHAR CANSA. Brasil, 2011. Direção e roteiro: Juliana Rojas e Marco Dutra. Com Helena Albergaria, Marat Descartes, Naloana Lima, Marina Flores, Lilian Blanc. 99 min.
Que trabalhar cansa não há a menor dúvida. Que o mundo do trabalho pode trazer muitas angústias, incertezas e frustrações, também é fato. Pode, ainda, elevar muito as tensões e o estresse da vida cotidiana. E o tal do mercado, em que os trabalhadores de todos os tipos têm de se inserir, é um desafio permanente e potencialmente destruidor.
Bem, o mundo do trabalho pode não ser só isso, mas também uma fonte de realizações e sucesso, sem grandes traumas para alguns. Pode ser. Mas, certamente, esse não é o caso dos personagens de “Trabalhar Cansa”.
Helena (Helena Albergaria), dona de casa, resolve contratar uma empregada que possa cuidar da casa e ajudar a cuidar da filha Vanessa (Marina Flores), ainda pequena, e alugar um local para tocar um modesto supermercado. Vai enfrentar todo tipo de dificuldades, desde a reforma, montagem e adaptação da loja, que já havia sido mercado há algum tempo, até a contratação de empregados, pagamento de despesas e o risco natural do negócio. No caso, agravado por suspeitas diversas, entre elas, a do roubo de mercadorias pelos próprios funcionários.
Enquanto isso, Paula (Naloana Lima), a empregada, enfrenta uma situação bem difícil, tendo de morar num cubículo, onde a única distração possível é um radinho de pilha, ganhando salário mínimo, sem registro. E, ainda, ouvir reclamações a respeito do seu trabalho, apesar do esforço que faz para deixar tudo impecável e o esmero no cuidado com a menina.
Em paralelo a isso, Otávio, vivido pelo ator Marat Descartes, fica desempregado após dez anos de trabalho numa empresa, numa idade que já não lhe favorece a conquista de um novo emprego. Tem de se submeter a entrevistas,estranhas dinâmicas de seleção de pessoal e negativas de todo tipo, capazes de abalar seriamente sua autoestima e complicar seu casamento com Helena. Até tentar o indefectível trabalho de telemarketing sobra para ele. Afinal, há muita gente disputando cada vaga no mercado de trabalho e os jovens levam vantagem.
Essa história toda, contada de forma realista e muito concreta, constrói um painel bastante nítido das agruras do mundo do trabalho na classe média e nos que a servem. Mas há algo mais e esse não é um ingrediente realista. Há algo de muito primitivo permeando tudo isso.
É por aí que o filme vai caminhar também, sem nunca perder o fio condutor, tal como o exposto até aqui. Esse elemento permitirá aos diretores explorar uma dimensão de estranhamento e de suspense, numa trama colada ao cotidiano mais reconhecível por todo mundo. É uma boa solução, que dá um sentido forte a tudo o que vai sendo mostrado ao longo da fita. E o filme não cansa, apesar de tratar de trabalho o tempo todo.
Trata-se de um filme brasileiro de produção paulista, tendo a cidade de São Paulo e sua tradicional vinculação ao trabalho como referência da ação dos personagens. As cenas foram filmadas não só em São Paulo, mas também em Paulínia e Campinas. O filme participa da mostra competitiva do 44º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, foi exibido na mostra “Um Certo Olhar”, no Festival de Cannes, e ganhou o prêmio especial do júri do Paulínia Festival de Cinema.
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