Antonio Carlos Egypto
CONFIAR (Trust). Estados Unidos, 2011. Direção: David Schwimmer. Com Clive Owen, Catherine Keener, Viola Davis.105 min.
Relacionamentos virtuais abrem novas e interessantes perspectivas na comunicação de ideias, de interesses, nas transações comerciais, na atuação profissional ou política e na vida sexual e afetiva. Muitos relacionamentos amorosos via Internet dão certo, se efetivam, geram casamentos que, muitas vezes, unem pessoas de países distantes. São novas oportunidades e possibilidades que se colocam para muita gente.
Existe, porém, o reverso da medalha: os falsos perfis, as mentiras, a caçada a crianças e jovens para exploração sexual. A pedofilia – a busca de um objeto de desejo infantilizado – encontra campo fértil para suas pesquisas e para a cavação de imagens eróticas infanto-juvenis em chats de relacionamento, salas de bate-papo, blogs, sites, redes sociais. Basta lembrar que crianças e jovens são os maiores usuários da Internet e os que melhor e com mais desenvoltura se adaptam ao meio virtual.
Annie (Catherine Keener), uma garota de 14 anos, se encanta com seu novo amigo virtual, supostamente um garoto pouco mais velho do que ela, e acaba caindo nas redes de um pedófilo. Em busca de ser valorizada e desejada, o que é mais do que esperado nessa idade, ela custa a perceber a diferença entre ser amada e ser simplesmente explorada sexualmente. Mesmo que as evidências se apresentem com a entrada em cena da polícia, do FBI, pode ser complicado decifrar essa charada para uma adolescente. Por definição, para os mais jovens, os pais e outros adultos não entendem o que se passa. A questão é: como protegê-los, então? Ou, ainda, como controlar o que fazem com um computador na mão, em que fria podem se meter?
O desespero do pai (Clive Owen) pode não ajudar, nessas horas, e até complicar mais as coisas. Mas o fato é que a família toda tende a se desestruturar, diante da evidência de um crime de abuso sexual, na forma de pedofilia, que entra por uma janela de computador não de forma agressiva, mas, sedutora.
Uma trama que trate desse tipo de assunto com seriedade, como é o caso de “Confiar”, é sempre bem-vinda. Ainda há muito que debater, numa questão como essa, e o cinema, pela sua capacidade de provocar identificações e envolvimento emocional com personagens, é um bom veículo para mostrar a dimensão e a importância do que se está observando em suas imagens e na história construída para apresentar o assunto.
É verdade que “Confiar” diversas vezes exagera na dramaticidade das cenas ou dos comportamentos mostrados, no afã de expor essa dura realidade. Se conseguisse ser mais sutil, alcançaria um patamar superior. Se conseguisse trabalhar mais com o subentendido, com a ambiguidade, poderia ter conseguido, por meio do suspense, um espetáculo mais envolvente e atraente. E, quem sabe, mais inteligente, também. Não importa. “Confiar” merece ser visto, debatido, divulgado, porque mostra uma realidade que precisa ser muito melhor percebida e enfrentada na atualidade.
Quero também chamar a atenção para o fato de que a explicação sobre o tipo de pessoa que comete esses crimes só aparece em imagens complementares, após o filme, como se fossem extras, concomitantemente com os créditos finais. Uma ideia não muito adequada, já que as pessoas já estarão levantando de suas cadeiras, se dispersando, e podem perder essa informação importante. Portanto, aguarde um pouco mais, antes de sair do cinema. É relevante o que estará sendo mostrado ali. Assim como é relevante tudo o que é abordado em “Confiar”.
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