Antonio Carlos Egypto
TURNÊ (Tournée). França, 2010. Direção: Mathieu Amalric. Com Mathieu Amalric, Miranda Colclasure, Suzanne Ramsey, Antela de Lorenzo. 111 min.
“Turnê” mostra um empresário produtor francês, Joachin (Mathieu Amalric), que excursiona com suas garotas norte-americanas num espetáculo de strippers, com dança e canto: New Burlesque. Percebe-se que Paris é uma espécie de cidade do desejo do grupo, mas as cidades visitadas são outras. Joachin se vê às voltas com garantir teatros para o show, nem sempre consegue. Percebe-se que o glamour é modesto, mas o clima é alegre, as garotas riem, se divertem, se esbaldam. Joachin e seu colaborador Ulisses tentam cuidar das moças em todos os sentidos: viagens, hotéis, comida, descanso, e o comportamento expansivo delas, que por vezes causa problemas.
O show é delas. A parte artística é criação de cada uma, Joachin administra o negócio e dá seus palpites. Mas são elas as donas do palco.
Por aí vai o filme. Cena após cena, vamos acompanhando o clima da turnê, suas dificuldades e os problemas do grupo, principalmente os de Joachin. E as informações vão aparecendo, sem maiores explicações. Ele já foi produtor de TV em Paris, mas, por alguma razão, não se deu bem e acabou na América, onde, possivelmente, seduziu essas moças para a fama e a glória na França.
Aparece uma ex-mulher, que está no hospital, se mostra que ele tem filhos e eles são incorporados a uma parte da turnê. Parecem pedaços de uma história que tinha ficado para trás quando ele saiu da França, mas agora ele está de volta. Ele vai visitar um amigo, em busca de solucionar um problema e se vê que a relação é de amor e ódio intensos, em que brigas e ofensas pesadas aparecem. Muito complicada essa relação.
O nosso protagonista já aprontou muito coisa no passado e “queimou seu filme”. E assim vão surgindo novos dados do quebra-cabeça, entremeados por números do show erótico, alguns bem atraentes, outros, puro clichê. Destaca-se a personalidade marcante de Mimi (Miranda Colclasure), o personagem com mais densidade entre as garotas.
Muita coisa do que aparece no filme é jogada ao espectador sem razão aparente. Por que a insistência da cena em que Joachin vive pedindo que se desligue ou abaixe o som, a TV ou cesse a música ao vivo e, em geral, não consegue seu intento? O produtor do show não aguenta ouvir algo semelhante ao que ele mesmo faz? Quer descansar do show business e não consegue? Há uma saturação disso em todas as partes? Cada um entenda como quiser. Mas são cenas soltas, que não se ligam a nada.
As situações não são costuradas, não chegam a formar um todo integrado. Também não dá para dizer que a fita se centre nos climas da turnê do show, porque isso não dá um sentido ao que se conta, ao que se mostra, e varia muito ao longo da narrativa.
O que o filme faz é uma aproximação a esse mundo do espetáculo mambembe, que tem seu charme, as figuras que circulam em torno dele e as coisas às vezes estranhas ou curiosas que acontecem por lá. Não sobra muito ao final da projeção, além das garotas e do show.
Mathieu Amalric parece não dar conta de dirigir e ser o ator principal do filme. A sensação que fica é de que ainda falta muita coisa para que “Turnê” seja um produto acabado. É feito de fragmentos, pedaços que poderiam se constituir num bom filme, se fossem bem mais trabalhados do que de fato foram.
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