SANTUÁRIO (Sanctum). Estados Unidos, 2010. Direção: Alister Grierson. Com Richard Rokburgh, Rhys Wakefield, Christopher Baker. 109 min.
É muito marketing e muita tecnologia para pouco filme. Essa foi a sensação que eu tive, ao assistir, em 3D, “Santuário”. Apresentado como o mais novo êxito de James Cameron, talvez melhor do que “Avatar” e se utilizando da mesma tecnologia inovadora. Pois bem, James Cameron é produtor do filme, que tem direção do australiano Alister Grierson e roteiro de John Gavin e Andrew Wight. Portanto, vamos com calma.
“Santuário” é uma enorme caverna subaquática, com um grande conjunto de túneis em um lugar remoto, muito distante da chamada “civilização”. Só uma parte dessa caverna é conhecida pelo ser humano. A sua parte mais profunda tem seus caminhos inexplorados. É um lugar aonde nenhum homem, ou mulher, chegou. Exploradores experimentados buscam o desafio e a grande aventura de conhecer e dominar os caminhos dessa caverna.
O que seria essa grande aventura logo se transforma em uma luta de vida ou de morte, em que a sobrevivência se coloca como a única alternativa possível às pretensões humanas frente ao santuário em forma de caverna. Brincar de Deus não é coisa para qualquer um.
Embarcamos todos, então, numa expedição aflitiva e prolongada, em que também há beleza e a tecnologia 3D mostra sua eficiência: deixou de ser brinquedinho de ocasião para ser recurso que enfatiza e valoriza a trama.
O problema, porém, é a trama: um tanto banal e sem imaginação para tal teconologia. Se não se têm uma boa história, um bom roteiro e situações plausíveis, o que sobrevém é o incômodo, o tormento. Não basta mergulhar no mundo subterrâneo para envolver o espectador. Ou melhor, para ir além da aflição. Quem gosta de pôr à prova sua ansiedade pode se fartar em inúmeras cenas (quase todas, aliás) de “Santuário”. Mas quem se questiona sobre o que tudo isso significa e como se justifica vai ficar decepcionado.
Os personagens da história são mais do que frágeis, não têm consistência psicológica, são rasos e unidimensionais. O pai, grande explorador de cavernas, e seu filho, aprendiz, são os únicos personagens que apresentam consistência, os demais são meros apêndices. E, é claro, toda a dinâmica das relações se centra no conflito entre eles, na superação da rivalidade edípica, no amadurecimento do garoto e na flexibilização do pai, até então onipotente. Mas também não há profundidade nisso. E algumas atitudes são tão “clichês” que chegam a incomodar.
Belas locações nos arredores de Queensland, na Austrália, podem ser apreciadas e a caverna, vista do alto, é espantosa. Pena que o filme se concentre tanto em interiores e em ambientes aquáticos. É para mostrar que é tecnologia até debaixo d’água!
Quando a técnica se destaca muito, isso é mau sinal. Em “Avatar” isso já se podia notar, mas a história se pretendia complexa, original e com muita ação. Havia algo mais do que aquela tecnologia toda para apreciar e era possível até debater a sua mensagem. Aqui, não: é tudo óbvio e bastante previsível, quando não totalmente inverossímel. Afinal, exploradores experimentados não têm o direito de cometer erros primários.
Não tenho nada contra a tecnologia 3D. Ela é sedutora, atraente e, no caso aqui, muito bem utilizada. Não sei se terá o papel que a ela se atribuiu de salvar o cinema ou de popularizar novas engenhocas televisivas para uso doméstico. Acho que vai cansar e se mostrar supérflua. Já foi um modismo no passado e, apesar dos óculos hoje muito melhores, pode voltar a sê-lo.
Por ora, o que é legítimo esperar é que a qualidade dos filmes não se resuma à sua tecnologia.
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