Tatiana Babadobulos
Biutiful, Espanha, México, 2010. Direção e Roteiro: Alejandro González Iñárritu. Com: Javier Bardem, Maricel Álvarez e Hanaa Bouchaib. 147 minutos.
Escancarar os dramas urbanos no cinema está na moda. E qualquer semelhança em filmes provenientes de vários países não terão sido mera coincidência, uma vez que, seja na Europa ou na América do Sul, os dramas são parecidos. Basta lembrar dos conflitos com a polícia no brasileiro “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite 2”, de José Padilha, ou o recente “Abutres”, do argentino Pablo Trapero.
Agora, é a vez de a Espanha mostrar o drama que acontece em Barcelona, aos olhos do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, também autor do roteiro, no filme “Biutiful”, que estreia nesta sexta-feira, dia 21 de janeiro.
Conhecido por ter dirigido filmes escritos por Guillermo Arriaga, que ficou conhecido como a trilogia do caos, formada por “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”.
A trilogia tem filmes formados por sequências não-lineares, mas “Biutiful” só tem um detalhe: começa com a cena final e dá a volta para retornar ao ponto de onde parou. Na trama, Uxbal (Javier Bardem) é pai de duas crianças e detém a guarda dos filhos porque a mãe é bipolar, trai o marido e vive bêbada. Embora seja tradicional no modo como cuida da família, seu trabalho não é, digamos, muito ortodoxo. Isso porque ele é espiritualmente sensitivo e ganha dinheiro indo a velórios para ouvir o que os mortos dizem. Outra questão é que ele vive do dinheiro que ganha do mercado paralelo, informal: suborna a polícia para proteger os camelôs africanos que comercializam produtos chineses e piratas, como relógios, bolsas, filmes.
Em meio a esse caos urbano do qual é apenas um sobrevivente, Uxbal quer também se reconciliar no amor, cuidar dos filhos, mas recebe o prazo de dois meses para combater o câncer de próstata que deu metástase e se espalhou para os ossos e para o fígado.
Com a câmera muitas vezes na mão para mostrar o nervosismo e a pobreza nas ruas, Iñárritu também abusa dos closes, principalmente quando mostra a vida familiar em casa, o cochicho do pai e da filha vendo o anel. Há cenas chocantes, como a do porão, mas também é emocionante ver como o pai trata os filhos; ou irritante, quando a mãe larga o filho menor em casa, de castigo, e segue para os Pirineus, na fronteira da Espanha com a França, para ver a neve. A sequência na qual os camelôs saem correndo assim que veem a polícia lembra o centro de São Paulo, tal como quando os camelô veem a polícia se aproximando e gritam: “Olha o rapa!”
Javier Bardem se entrega ao personagem e convence o espectador de seu sofrimento, de sua angústia e do seu amor aos filhos. “Biutiful” trata, sobretudo, da paternidade, mas também do medo do filho perder o pai, tal como diz a garota, em uma passagem, enquanto Uxbal começa a fazer “contagem regressiva” e a filha diz: “Deve ser horrível não ter pai”, justamente quando ele diz que o seu morreu no México, país para onde fugiu quando Franco começou a perseguir os espanhóis.
Ah, e sobre o nome do filme ser escrito Biutiful, com I, e não com E, como é correto, aguarde para conferir na fita: a explicação é mais simples que parece...
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Vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo filme dirigido pelos irmãos Cohen, “Onde os Fracos Não Têm Vez”, Bardem também fez a comédia de Woody Allen, “Vicky Cristina Barcelona”. Durante o Festival de Cannes, no ano passado, evento no qual a fita fez a sua estreia, Bardem ganhou o prêmio de Melhor Ator. Mas o filme não levou o Globo de Ouro. Para o Oscar, o longa foi pré-selecionado na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
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