quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Além da Vida


Tatiana Babadobulos

Além da Vida (Hereafter). Estados Unidos, 2010. Direção: Clint Eastwood. Roteiro: Peter Morgan. Com: Matt Damon, Cécile de France, Bryce Dallas Howard. 129 minutos.

Clint Eastwood é daqueles diretores esperados pelo seu público cativo, assim como Woody Allen, Pedro Almodóvar, Martin Scorsese. Quando vai lançar um longa-metragem, não importa o assunto ou o elenco; o cinéfilo estará lá para conferir se ele continua em boa forma ou se seria melhor fazer outra coisa da vida.

A partir de sexta, dia 7 de janeiro chega aos cinemas “Além da Vida” (“Hereafter”). Sim, mais um longa sobre vida após a morte, se o leitor quer saber logo de cara. E já na primeira sequência, Eastwood provoca o espectador a ponto de lhe tirar o fôlego. Sem dizer onde está a francesa Marie Lelay (a atriz belga Cécile de France), uma grande onda, que ficou conhecida como tsunami, arrasa a praia onde ela se encontra. E, a partir de então, a jornalista muda um pouco o rumo da sua vida profissional e afetiva.

A vida de muitas pessoas acaba mudando e é exatamente o que mostra o longa que tem roteiro escrito por Peter Morgan (o mesmo de “Frost/Nixon”, “A Rainha”). A fita se passa na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde vive o protagonista vivido por Matt Damon. O ator faz o papel de George, um vidente que deixou de fazer previsões por achar que não se trata de um dom, mas uma maldição.

Nos primeiros 15 minutos de exibição, Eastwood faz as apresentações dos personagens de cada lugar, ou seja, Marie que está em férias na Tailândia e depois retorna para a emissora onde trabalha, em Paris; dos gêmeos ingleses Marcus e Jacob (George e Frankie McLaren), que tentam fazer com que a mãe não perca a guarda deles, já que vive drogada, e os assistentes sociais estão atrás dela. Além, é claro, do médium.

Embora os três personagens sejam bastante diferentes entre si (um garoto, uma jornalista e um vidente), o que faz sentido na história toda é um denominador comum: o fato de todos terem tido re­cente ligação com a morte e, por algum motivo, precisam aprender a viver o agora. E, para não fugir do final clichê e previsível, os três, de alguma maneira e em algum lugar, vão se encontrar.

Embora não atue no filme, tal como fez em longas anteriores, como “Gran Torino”, “Menina de Ouro”, entre outros, Clint Eastwood é também produtor do filme (juntamente com Steven Spielberg) e responsável por duas canções que compõem a trilha sonora, que, aliás, é belíssima.

Depois de fazerem “Invictus”, filme que contou a história da equipe de rúgbi da África do Sul de Nelson Mandela, Matt Damon e o diretor retornam a parceria de sucesso. Os dois mostram a cumplicidade de ator e diretor e quem apro­veita é a plateia.

Se a sequência mais marcante é a do início, principalmente pela grande produção, ou seja, a do tsunami (que na verdade fora filmada no Havaí e não na Tailândia, como sugere a história), a mais cativante é uma próxima ao final, que envolve o espectador e mostra a ele que é hora de se emocionar...

Um dos pontos altos de “Além da Vida” é que, apesar de falar sobre aquilo que desconhecemos, ainda que o personagem de Damon diga o que está ouvindo dos mortos, o filme não explora demais o lado espírita, tal como os filmes “Chico Xavier” ou “Nosso Lar”, duas produções brasileiras. Como disse Clint Eastwood no material de divulgação para a imprensa, “não sabemos o que acontece do lado de lá, mas, do lado de cá, tudo acaba”.

“Além da Vida” é desses filmes para sair do cinema e continuar pensando sobre a mensagem transmitida, principalmente se o espectador já teve, em algum momento, contato com a morte. E que destino, apesar de parecer surreal, pode ser mais convencional do que imaginamos. 

A propósito: sim, Eastwood continua em plena forma! 

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