Antonio Carlos Egypto
ENTRE IRMÃOS (Brothers). Estados Unidos, 2009. Direção: Jim Sheridan. Com Tobey Maguire, Jake Gyllenhaal e Natalie Portman. 110 min.
Se um irmão é bom, dedicado, persistente e conquista as coisas, não surpreende nada que o outro aja como moleque, inconsequente, transgressor, irresponsável. Sam (Tobey Maguire) é um capitão em ação no Afeganistão, Tommy (Jake Gyllenhaal) acaba de sair da cadeia, porque esqueceu de cumprir as leis. No jogo de compensações se dá o equilíbrio. Certamente não para o pai deles, que vê o militar como herói (ele mesmo já serviu no Vietnã antigamente) e o outro, como um renegado que ele mal suporta ver.
No filme de Jim Sheridan, essas oposições rapidamente se borrarão. E se o militar morrer em ação? E se o irresponsável for capaz de conquistar a simpatia das sobrinhas e da cunhada, Grace (Natalie Portman), apesar de todas as evidências em contrário até aqui? Tudo começa a mudar. E se o morto não estiver morto e voltar, que quadro encontrará em família? E que relação entre irmãos poderá então se estabelecer? O caleidoscópio vai girando e aparecem novas configurações.
O que aconteceu no Afeganistão? Que escolha ética envolveu nosso protagonista? Por que ele voltou tão traumatizado? Tudo mudou e conviver com essas mudanças pode ser penoso de uma forma ou de outra para todos, dos pais às crianças, passando pela mulher e, naturalmente, entre os irmãos.
Se o foco na família e nos relacionamentos caracteriza o filme, não menos importante é o tratamento dado aos traumas de guerra. Aqui é o Afeganistão. Mas poderia ser qualquer guerra, intervenção militar ou missão de paz. O poder destruidor da passagem pela guerra, especialmente quando situações-limite se apresentam, deixa consequências terríveis, que podem se tornar insuportáveis, a ponto de levar a desistir de viver. Afinal, não se pode viver a qualquer preço. Ultrapassados certos limites, a vida perde todo o sentido. E, no entanto, ela está lá, a vida segue seu curso.
São questões muito interessantes as que movem este trabalho cinematográfico e que vão mudando e surpreendendo os próprios personagens e a plateia, compondo um drama humano com forte conotação política. Incomoda que tenha cabido aos personagens afegãos simplesmente o papel de maus, impiedosos, selvagens. O discurso que eles usam é cristalino: “O que é que vocês vieram fazer aqui? Esta é a nossa terra”, mas não sobrou nuance que não seja a da maldade.
A história de “Entre Irmãos” é inegavelmente muito boa e o diretor irlandês Jim Sheridan parece gostar de contar histórias fortes numa narrativa linear. Ele destaca a intensidade do drama aliado a uma causa, geralmente. Lembram-se de “Meu Pé Esquerdo” (1989) ou de “Em Nome do Pai” (1993)?
“Brothers” é uma refilmagem. O original dinamarquês é de 2004, dirigido e roteirizado por Susanne Bier, que dirigiu também “Depois do Casamento” (2006), um bom filme que envolve questões humanas dentro da globalização e os contrastes existentes entre países ricos e pobres.
Nesta versão de 2009, o trabalho dos atores se destaca. Tobey Maguire pôde exercer um papel cheio de nuances e mudanças, muito diferente do heroísmo do Homem-Aranha. Não que ele já não tivesse feito trabalhos em que a sensibilidade se evidenciasse, como em “Regras da Vida”, de Lasse Halström. Mas o capitão Sam é uma figura mais intensa e dilacerada.
Jake Gyllenhaal vive um personagem em transformação. Sua atuação nos mostra este processo de amadurecimento e humanização progressiva e os diferentes humores e comportamentos por que ele passa.
Natalie Portman faz um personagem feminino que tem de se relacionar de forma radicalmente diferente com cada um dos irmãos, ao longo do filme. Ela consegue isso, sem apelar para nenhum exagero interpretativo.
Para quem gosta de apreciar uma boa história, conduzida por um diretor tarimbado, com bons atores em cena, “Entre Irmãos” é uma boa pedida.
ENTRE IRMÃOS (Brothers). Estados Unidos, 2009. Direção: Jim Sheridan. Com Tobey Maguire, Jake Gyllenhaal e Natalie Portman. 110 min.
Se um irmão é bom, dedicado, persistente e conquista as coisas, não surpreende nada que o outro aja como moleque, inconsequente, transgressor, irresponsável. Sam (Tobey Maguire) é um capitão em ação no Afeganistão, Tommy (Jake Gyllenhaal) acaba de sair da cadeia, porque esqueceu de cumprir as leis. No jogo de compensações se dá o equilíbrio. Certamente não para o pai deles, que vê o militar como herói (ele mesmo já serviu no Vietnã antigamente) e o outro, como um renegado que ele mal suporta ver.
No filme de Jim Sheridan, essas oposições rapidamente se borrarão. E se o militar morrer em ação? E se o irresponsável for capaz de conquistar a simpatia das sobrinhas e da cunhada, Grace (Natalie Portman), apesar de todas as evidências em contrário até aqui? Tudo começa a mudar. E se o morto não estiver morto e voltar, que quadro encontrará em família? E que relação entre irmãos poderá então se estabelecer? O caleidoscópio vai girando e aparecem novas configurações.
O que aconteceu no Afeganistão? Que escolha ética envolveu nosso protagonista? Por que ele voltou tão traumatizado? Tudo mudou e conviver com essas mudanças pode ser penoso de uma forma ou de outra para todos, dos pais às crianças, passando pela mulher e, naturalmente, entre os irmãos.
Se o foco na família e nos relacionamentos caracteriza o filme, não menos importante é o tratamento dado aos traumas de guerra. Aqui é o Afeganistão. Mas poderia ser qualquer guerra, intervenção militar ou missão de paz. O poder destruidor da passagem pela guerra, especialmente quando situações-limite se apresentam, deixa consequências terríveis, que podem se tornar insuportáveis, a ponto de levar a desistir de viver. Afinal, não se pode viver a qualquer preço. Ultrapassados certos limites, a vida perde todo o sentido. E, no entanto, ela está lá, a vida segue seu curso.
São questões muito interessantes as que movem este trabalho cinematográfico e que vão mudando e surpreendendo os próprios personagens e a plateia, compondo um drama humano com forte conotação política. Incomoda que tenha cabido aos personagens afegãos simplesmente o papel de maus, impiedosos, selvagens. O discurso que eles usam é cristalino: “O que é que vocês vieram fazer aqui? Esta é a nossa terra”, mas não sobrou nuance que não seja a da maldade.
A história de “Entre Irmãos” é inegavelmente muito boa e o diretor irlandês Jim Sheridan parece gostar de contar histórias fortes numa narrativa linear. Ele destaca a intensidade do drama aliado a uma causa, geralmente. Lembram-se de “Meu Pé Esquerdo” (1989) ou de “Em Nome do Pai” (1993)?
“Brothers” é uma refilmagem. O original dinamarquês é de 2004, dirigido e roteirizado por Susanne Bier, que dirigiu também “Depois do Casamento” (2006), um bom filme que envolve questões humanas dentro da globalização e os contrastes existentes entre países ricos e pobres.
Nesta versão de 2009, o trabalho dos atores se destaca. Tobey Maguire pôde exercer um papel cheio de nuances e mudanças, muito diferente do heroísmo do Homem-Aranha. Não que ele já não tivesse feito trabalhos em que a sensibilidade se evidenciasse, como em “Regras da Vida”, de Lasse Halström. Mas o capitão Sam é uma figura mais intensa e dilacerada.
Jake Gyllenhaal vive um personagem em transformação. Sua atuação nos mostra este processo de amadurecimento e humanização progressiva e os diferentes humores e comportamentos por que ele passa.
Natalie Portman faz um personagem feminino que tem de se relacionar de forma radicalmente diferente com cada um dos irmãos, ao longo do filme. Ela consegue isso, sem apelar para nenhum exagero interpretativo.
Para quem gosta de apreciar uma boa história, conduzida por um diretor tarimbado, com bons atores em cena, “Entre Irmãos” é uma boa pedida.
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