segunda-feira, 31 de março de 2014

Belém, Zona de Conflito

Tatiana Babadobulos


Belém, Zona de Conflito (Bethlehem). Israel, Alemanha e Bélgica, 2013. Direção e roteiro: yuval Adler. Roteiro: Ali Waked. Com: Shadi Mar'i, Tsahi Halevy, Tarek Copti. 99 minutos

A briga que não tem fim no mundo, entre judeus e palestinos, pode ser entendida de maneira bastante estreita e pessoal no longa-metragem israelense “Belém, Zona de Conflito” (“Bethlehem”). A fita tem estreia apontada para o dia 3 de abril, mas já está em pré-estreia paga em algumas salas paulistanas.

A história é contada a partir de Sanfur (Shadi Mar’i), um adolescente palestino que tem uma relação quase paternal com Razi (Tsahi Halevy). Sua família é próxima, embora o pai esteja sempre cobrando que ele faça mais. O problema do envolvimento é que Razi é agente do serviço secreto israelense. Como tem experiência, ele usa sua influência sobre o garoto para obter informações que precisa, uma vez que Sanfur é o irmão mais novo de Ibrahim (Tarek Copti), militante palestino muito procurado pelos israelenses.


Quando completa 17 anos, Sanfur se divide entre as exigências de Razi e a lealdade a seu irmão. Neste meio tempo, o rapaz faz uma aposta com os amigos da sua idade de que pode ser baleado usando um colete, pois não será atingido.


Este é o primeiro longa que Yuval Adler, um judeu israelense, dirige e escreve. Para o roteiro, aliás, teve a colaboração de Ali Waked, jornalista árabe que passou anos na Faixa de Gaza e em Ramallah. Os dois levaram muito tempo para escrever a história uma vez que, segundo o material de informação para a imprensa, não foi fácil fazer militantes palestinos das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa e do Hamas se abrirem, nem entender sobre o Shabak, o serviço secreto. 


Com este ponto de vista, “Belém, Zona de Conflito” consegue mostrar características de ambos os povos que não estamos acostumados a conhecer, a não ser em notícias trágicas de jornais, quando se tem a guerra instalada. O cenário é basicamente Belém, cidade localizada na Palestina, mas que vive cercada por um muro de segurança israelense, país que controla as entradas e as saídas na cidade.


O thriller nasceu justamente da conversa do diretor com um agente do serviço secreto israelense que disse que “a chave para recrutar e cultivar informantes não é a violência ou a intimidação ou o dinheiro; a chave é desenvolver uma relação íntima com o informante, num nível bem humano”. E é esta a proposta de “Belém, Zona de Conflito”. Quando os dois “amigos” desenvolvem a cumplicidade durante anos, não se sabe quem está enganando quem. À medida dos acontecimentos, o espectador vai acompanhando o drama e torcendo para que algum dos dois não traia o outro.


O cenário escolhido contribui para o desenvolvimento da trama, assim como os atores conseguem transmitir a paixão pela qual cada um luta e defende, como quando um dos personagens morre e os líderes de cada grupo escolhem, em detrimento da família, como vai ser o velório.

Com a câmera, Adler se aventura no meio da discussão, dos conflitos e insere o espectador neste ambiente, que pode vivenciar cada passo dado por cada um dos lados.

“Belém, Zona de Conflito” não é tendencioso, quando se trata do conflito árabe-israelense; a ideia aqui é mostrar os dois lados e o que cada um acredita e defende. Cada um defende a sua verdade. E quem vai mudar isso?

O longa-metragem chega aos cinemas brasileiros após receber 12 indicações para o Israel Film Academy, ser selecionado para os festivais de Toronto, Veneza e do Rio de Janeiro.

domingo, 30 de março de 2014

ENTRE NÓS

Antonio Carlos Egypto



ENTRE NÓS.  Brasil, 2013.  Direção: Paulo Morelli.  Com Caio Blat, Carolina Dieckman, Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Júlio Andrade, Martha Nowill, Lee Taylor.  101 min.


O reencontro anos mais tarde de um grupo de amigos, que se curtiam na juventude e se afastaram, é um tema que tem sido explorado tanto na literatura quanto no cinema.  Há margem, mesmo, para muitas histórias diferentes.

No caso de “Entre Nós”, o novo longa de Paulo Morelli, trata-se de um grupo de jovens, na faixa dos 20 e poucos anos, que tem em comum o gosto pela literatura e pretensões a viver dela, seja como escritores, seja como crítico literário.  São sete amigos, quatro rapazes e três moças, que passam um tempo juntos na casa de Silvana (Maria Ribeiro), num paradisíaco recanto da Serra da Mantiqueira, em São Francisco Xavier. 



Há aspirantes a escritor terminando seus livros, outros, tentando começar, muitas expectativas e muitos planos, sobretudo de publicações, para o futuro.  Cartas são escritas para serem lidas bem depois, quando cada um poderá avaliar para si mesmo e diante dos outros como as coisas se deram.  Mas nem tudo sai muito bem, nesse período.

Ainda assim, o grupo manterá o combinado e se reunirá quando já estiverem se aproximando da emblemática casa dos 40 anos, isto é, dez anos depois.  Reencontrar as pessoas e suas aspirações passadas pode ser um desafio e tanto, diante das muitas coisas que aconteceram e da tragédia que ocorreu naquele encontro original.  O que fazer com as frustrações amorosas, os fracassos e sucessos profissionais, as lembranças, tanto doces, quanto trágicas?

Essa é a trama de um filme que se foca em personagens de classe média, às voltas com seus dilemas e questões éticas importantes.  Felipe (Caio Blat), escritor, e Lúcia (Carolina Dieckman), agora casados e com um filho pequeno, Cazé (Júlio Andrade), crítico literário, e Drica (Martha Nowill) também vivem juntos, mas sem filhos, Gus (Paulo Vilhena) não se encontrou, nem na profissão, nem no amor, e Rafa (Lee Taylor), um talento literário, já não está entre eles.  Quanto à Silvana, andou pelo exterior e não pensa em vínculos estáveis ou filhos.



O momento do reencontro é o ano de 2002, mas as mulheres estão mais voltadas para o ambiente familiar, seja por não terem conseguido realizar intentos literários, seja porque dão mais importância à vida doméstica.  Os homens se voltam para a profissão e, quando falham, como no caso de Gus, se sentem inúteis.  No filme, os comportamentos são abertos, descolados até, mas, paradoxalmente, os padrões de gênero não estão suficientemente avançados quanto à esfera pública.  Em casa, os homens cozinham, arrumam as coisas e tal, mas para as mulheres acaba sobrando a preocupação com os filhos ou a ausência deles.  No caso de Silvana, que tem uma bela propriedade,  é viajada e independente, não fica clara a origem do seu dinheiro e alguma possível atuação profissional.  Riqueza familiar?  O fato é que, de um jeito ou de outro, cada um tem seus segredos, esconde algo dos amigos ou até de si mesmo.

“Entre Nós” faz pensar, é esteticamente bonito, tem belíssimas locações e enquadramentos de câmera, cria suspense, reflete sobre relacionamentos humanos e as consequências não só da passagem do tempo em si, mas do que foi feito com ele a partir do que aconteceu antes.  Tem um bom elenco, sobretudo feminino, e Caio Blat vive o papel mais atormentado com competência.



Tem um bom mote que segura o interesse do filme: cartas foram escritas e enterradas em 1992, para serem lidas dez anos depois, e o significado delas, ainda que aparentemente pudesse ser banal, vai contar muito quando forem desenterradas e lidas por seus autores.  A carta de Rafa, que já não está ali, especialmente.  A história criada a partir da pedra que marca o local  do enterro das cartas é um bom recurso narrativo, também visual.  O espectador se mantém no suspense, interessado pelo desfecho. 

O argumento e o roteiro são do próprio diretor Paulo Morelli e de seu filho Pedro, que atuou ainda como codiretor.  Eles escreveram um drama sério e denso, mas que inclui humor e leveza.  Nem tudo está tão claro ou bem amarrado, como conviria a uma história como essa, mas isso não chega a atrapalhar a eficácia da narrativa, nem a capacidade de comunicação com o público.


quarta-feira, 26 de março de 2014

INSTINTO MATERNO


Antonio Carlos Egypto



INSTINTO MATERNO (Pozitia Copilului).  Romênia, 2012.  Direção: Calin Peter Netzer.  Com Luminita Gheorghin, Bogdan Dumitrache, Florin Zamfirescu.  112 min.


“Instinto Materno” é mais uma manifestação da qualidade do cinema romeno atual.  Obteve o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013 e foi um dos mais destacados filmes da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.  É um trabalho que impacta.

Cornélia (Luminita Gheorghin), sexagenária, tem um único filho: Barbu (Bogdan Dumitrache), com 34 anos de idade, e um instinto maternal fora do comum.  Ela quer decidir tudo na vida do filho, interferir no modo como ele vive e com quem se relaciona.  Ele tenta levar sua vida com autonomia, mas é fraco, deixa-se dominar.



Tal situação se exacerba quando Barbu se envolve num acidente de carro e é acusado pela morte de um rapaz.  Aí Cornélia entra em cena com tudo o que tem, e mais um pouco, para salvar seu filho da condenação e da cadeia.  Vale tudo por essa causa.

Até aqui, estamos no terreno das relações familiares e da dependência mãe-filho.  Mas o filme vai além, já que um dos recursos dessa mãe é sua posição social e o jovem morto pertence a uma família de poucas posses.  “Instinto Materno” mostra o perfil socioeconômico de grande desigualdade que vigora na Romênia pós-comunista.



Por um lado, uma mãe que sufoca e não mede esforços por seu filho.  Mas o trata como se ele fosse incapaz de se virar sozinho.  De outro, o sofrimento dos familiares do morto põe em evidência o que não chega a ser uma novidade: a de que a corda arrebenta do lado mais fraco.  O filme mostra o clima tenso, tanto das relações familiares, como das relações sociais.  Uma câmera nervosa acentua o drama.

A atriz Luminita Gheorghin já traz no nome a luz de um desempenho que toma conta da tela.  Excepcional.  Ela vive uma mãe tão forte e intensa com uma sutileza interpretativa que é notável.  Só por ela já valeria a ida ao cinema.  Só que o filme tem também um belo roteiro, de Razvan Radulescu, um jovem e competente diretor, Calin Peter Netzer, e trata de questões que vão muito além da sociedade romena.  Tem a ver com todos nós.



terça-feira, 25 de março de 2014

Rio 2

Tatiana Babadobulos


Rio 2. Estados Unidos, 2014. Direção: Carlos Saldanha. Roteiro: Carlos Saldanha e Don Rhymer. Com vozes (na versão original) de: Jesse eisenberg, Anne Hathaway, Rodrigo Santoro, Leslie Mann, Jamie Foxx. 101 minutos.

Com a nítida proposta de fazer propaganda para o mundo do Brasil e, principalmente, do Rio de Janeiro, em 2011 o diretor Carlos Saldanha lançou “Rio”, longa-metragem de animação sobre duas ararinhas azuis que se encontraram depois de o macho ter sido levado para os Estados Unidos.
Um dos diretores de “A Era do Gelo” e “A Era do Gelo 3”, Saldanha fez um belíssimo filme, colorido, com a cara de sua terra natal, cheio de samba e bossa nova. Na ocasião do lançamento, o longa ficou em primeiro lugar na bilheteria em pelo menos três semanas seguidas.
A fita tratava das belezas brasileiras, mas com ênfase no tráfico de animais e sem se esquecer da alegria do povo e das belezas naturais. Em ano de Copa do Mundo no Brasil, o realizador aproveita para surfar nesta onda e traz “Rio 2”, longa-metragem que entra em cartaz nesta, quinta, 27.
Embora o filme se chame “Rio 2”, o enredo se passa bem longe dali. O novo cenário explorado por Saldanha é a Amazônia.
A fita começa na noite de Ano-Novo, com as pessoas vestidas de branco e comemorando na praia de Copacabana, assistindo aos fogos de artifício.
As ararinhas azuis ameaçadas de extinção, Blu e Jade, têm três filhos: Tiago, Carla e Bia. Enquanto Jade, criada na natureza, tem hábitos da sua espécie, Blu, que era uma ararinha de estimação criada nos Estados Unidos, tem hábitos humanos. Jade sai para caçar o alimento, enquanto Blu abre a lata de castanha com o bico.
Durante um café da manhã, eles ouvem uma notícia na televisão: seus antigos donos, Linda e Tulio Monteiro (com voz de Rodrigo Santoro nas versões original e em português), descobriram outras ararinhas azuis na floresta amazônica, provando que a espécie está salva da extinção. Jade, a aventureira, diz que quer atravessar o país e conhecer o seu bando.
Mais urbano, Blu luta contra, mas cede às vontades da amada. Então, a família toda segue em direção à Amazônia. Blu se agarra ao GPS e à pochete que carrega na cintura com canivete, escova de dentes e papel higiênico e vai.
“Rio 2” continua lindo, tal como o primeiro, cheio de cores, movimento perfeito dos animais, que até parecem reais, além da reprodução dos locais por onde passam ser fiel à realidade. Mas “Rio 2” se vale de muitos clichês para contar uma história que nem se passa na Cidade Maravilhosa.
Antes de chegarem ao destino final, o mapa mostra onde estão e passam por Ouro Preto (MG), Salvador (BA) e Brasília (DF).
As canções, a cargo de Carlinhos Brown e Sérgio Mendes, não param, cansam o espectador do início ao fim. Todos os filmes da Disney, por exemplo, têm cantoria, mas este repete a fórmula à exaustão.
Desta vez, nem só de samba e bossa nova vive a trilha sonora. Há influências do Norte e do Nordeste do país, além de ópera. Há ainda referências à obra “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, protagonizadas pela cacatua do mal, Nigel, e pela rã rosa (e venenosa) Gabi, personagem que chegou neste filme. Eles, aliás, só pensam em vingança e perseguem as ararinhas durante a viagem.
Continuações de filmes geralmente são difíceis de seguirem o sucesso do antecessor. Há exceções, como o caso da franquia “Toy Story” e do próprio “A Era do Gelo”, do mesmo estúdio, dois exemplos para ficar na animação. Não é o caso, infelizmente, de “Rio”, cuja primeira parte é muito mais empolgante do que este que chega aos cinemas, inclusive em 3-D.
De acordo com o material de divulgação para a imprensa, o primeiro filme foi exibido em 120 países, para mais de 70 milhões de pessoas. A bilheteria rendeu 486 milhões de dólares.

domingo, 16 de março de 2014

OS FILHOS DO PADRE


Antonio Carlos Egypto



OS FILHOS DO PADRE (Svestenikova Deca).  Croácia, 2013.  Direção: Vinko Bresan.  Com Kresimir Mikic, Niksa Butijer, Marika Skaricic.  104 min. 



Você já viu algum filme croata nos cinemas?  Como a imensa maioria das pessoas, é provável que não.  Pois agora você tem a chance de ver um, e é um ótimo filme.  Trata-se da comédia “Os Filhos do Padre”, que certamente vai diverti-lo ou diverti-la.  Mas, para além disso, vai mexer com as questões atuais da Igreja Católica, suas contradições, seus pecados e omissões, e até a ingenuidade que pode gerar mais problemas do que resolvê-los.



Tudo se passa numa pequena vila à beira-mar, na Dalmácia.  Fabian (Kresimir Mikic) é um jovem padre bem intencionado, que se espanta com o que constata: no lugarejo, há mais mortes do que nascimentos, o que, ao longo do tempo, vai fazer a população desaparecer.  O padre mais velho que lá está, e é bem relacionado com todos, não parece preocupado.  Mas Fabian acha que as coisas não podem seguir assim, resolve investigar e agir.  Descobre que Petar (Niksa Butijer), dono de uma banquinha, tem bom lucro com a venda de camisinhas, muito populares por lá.  Ele é o único do local a vendê-las e se pergunta se está fazendo a coisa certa.  Sua mulher o acusa de matar gente, isto é, impedir que elas nasçam.  Vai daí, que o jovem padre acha que encontrou a solução para o problema: furar as embalagens de camisinhas antes que Petar as ponha à venda.  E vai pôr seu plano em ação.



Esse é só o começo da história, já que a questão é bem mais complicada do que isso e vai gerar um grande número de desmembramentos, mexer com outras variáveis e situações, que acabarão transformando o engraçado em dramático.  “Os Filhos do Padre” faz essa passagem muito bem.  Vai com leveza mostrando as implicações profundas que uma visão rígida da sexualidade pode trazer a toda uma comunidade.  Mexe com a idealização do conceito tradicional de casamento e de família, bem como com os valores ligados à virgindade e à fidelidade.

Põe em evidência o comportamento real das pessoas, que é muito diferente do que imagina o padre, ainda que se trate de um vilarejo temente a Deus e que valoriza e respeita a religião e seus representantes.



Naturalmente, não se esquece de mexer em temas como a pedofilia e a vida abastada da hierarquia católica, além das armadilhas e vantagens que os segredos das confissões engendram.  Há referências ao longo papado de João Paulo II e à ortodoxia de Bento XVI.  O papa Francisco, com seu espírito aberto e reformador, ainda não havia chegado.  De qualquer modo, os problemas continuam lá, a desafiar os rumos da Igreja. O que o filme aponta segue valendo.  O que mudou foi a esperança de poder, a partir de agora, enfrentá-los de fato.

“Os Filhos do Padre” provoca risos e dá o que pensar.  Incomoda, também, mas sem agressividade e, sobretudo, sem proselitismo.  É bom cinema.  Tem um excelente roteiro, que amarra bem as situações criadas, é verossímil, inteligente e bem concebido.  Tem atores muito bons, um bom timing de comédia e consegue ser sutil, evita o escracho.  Foi um sucesso de público na Croácia.  Aqui, foi lançado apenas em uma sala de cinema de São Paulo.  Tomara que resista e ganhe público, no boca-a-boca. É um filme que merece ter sucesso por aqui, também.




sexta-feira, 14 de março de 2014

REFÉM DA PAIXÃO


 Antonio Carlos Egypto



REFÉM DA PAIXÃO (Labor Day).  Estados Unidos, 2013.  Direção e roteiro: Jason Reitman.  Com Kate Winslet, Josh Brolin, Gattlin Griffith, Clark Gregg, Tobey Maguire.  110 min.



“Labor Day” é um romance da jornalista Joyce Maynard, de 2009, que fez muito sucesso nos Estados Unidos e acabou virando filme, em 2013, com o mesmo título.  No Brasil, o romance foi lançado pela Rocco, com o título de “Fim de Verão”.  Faz sentido, já que o tal Dia do Trabalho por lá formou um feriado prolongado, que antecedia o início das aulas, no fim de um verão.  O filme, no Brasil, se chama “Refém da Paixão”, ignorando a data ou o período e destacando o fato de que se trata de um drama romântico que se assemelha a uma história de reféns.  Se não forem de fato, serão como apaixonados.  Fica um pouco forçado, mas também dá sentido.




A trama do filme envolve uma história de amor e relacionamento familiar, que se move por trás e apesar das aparências.  Uma mulher reclusa, Adele (Kate Winslet), vive com seu filho Henry (Gattlin Griffith), de 13 anos, uma vida que esconde um passado de dores e traumas relacionados à gestação.  É inusitado que justo para ela se coloque a situação de conviver com um presidiário, Frank (Josh Brolin), que aproveitou o fato de estar num hospital para fugir e acaba pedindo, impondo, sua presença na casa onde ela vive com seu filho.

Isso será algo tão intenso que mudará a existência de todos os envolvidos, com reflexos em toda a pequena cidade onde os fatos se passam.  A história desse relacionamento não será contada, nem por Adele, nem por Frank, mas pelo garoto Henry, já muitos anos mais tarde, porém, lembrando do que viveu nessa época.  E de como era, então.




É o seu ponto de vista, como ele vê as coisas, as sente e o que faz com os dados de que dispõe que compõem a narrativa.  Claro que se trata de um adolescente já um tanto amadurecido pelo tempo em que se dedicou a tentar fazer sua mãe menos deprimida e mais feliz.  Aprendeu a tomar iniciativas na ausência dela e a se virar, saindo de casa apenas para ir à escola ou ao encontro da família do pai (Clark Gregg), de quem Adele se divorciou.  Saía para compras, sozinho ou com a mãe, com a menor regularidade possível, fazendo sempre grandes estoques para a casa, inclusive de comida congelada ou enlatada.

Essa existência pobre e aborrecida escondia o encanto de uma mulher bonita, apaixonada pela dança, que renunciou à vida em algum momento.  Mas sempre pode reencontrá-la.  O prisioneiro Frank, que cumpria pena por assassinato, também poderia não corresponder ao elemento perigoso que os jornais e a TV anunciavam.  E ser capaz de revelar dotes inesperados.

As surpresas que se escondem nos personagens e nas situações que eles vivem, ou viveram, é o que de mais interessante tem essa trama, que é bem sustentada pelos atores que vivem os três protagonistas:  Kate Winslet, Josh Brolin e o garoto, Gattlin Griffith.




O diretor Jason Reitman também dirigiu “Juno”, de 2007, um filme que trata de gravidez na adolescência sob um ângulo inovador, graças a um personagem que surpreende por sua personalidade e seu comportamento: a jovem que dá nome ao filme.  Personagens que surpreendem, revelam algo que está por trás das aparências ou de que não se esperam determinadas atitudes, parecem interessar especialmente ao cineasta.


Esse é o trunfo de “Refém da Paixão”, que, de resto, não apresenta muitos outros atrativos.  Trata-se de uma boa história, envolvente, que mescla suspense e romance com razoável eficiência.  Mas é preciso relevar algumas situações que soam inverossímeis ou muito improváveis, que estão também no texto original, que serviu ao roteiro adaptado pelo próprio diretor.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Need for Speed

Tatiana Babadobulos



Need for Speed. Estados Unidos, 2014. Direção: Scott Waugh. Roteiro: George Gatins. Com: Aaron Paul, Dominic Cooper, Scott Mescudi. 130 minutos.

Nem só de livros vivem os roteiros dos filmes. Videogame também é fonte de inspiração para a criação de longas-metragens homônimos. É o caso, por exemplo, de “Need for Speed”, que estreia nesta quinta, 13, e foi inspirado em jogo que, embora não tenha história alguma, foi feito aos fãs de velocidade. Ao todo, foram vendidas 140 milhões de cópias.

A trama gira em torno de Tobey Marshall (Aaron Paul), dono de uma oficina de carros que herdou do pai, morto há pouco tempo. Mas Tobey, apaixonado pelas supermáquinas, não pode viver apenas de sua paixão – as corridas de rua não oficiais –, pois tem contas a pagar no final do mês. Eis, então, que surge uma solução para este problema.

Seu arquirrival, ex-piloto da Nascar, Dino Brewster (Dominic Cooper), saiu da pequena cidade onde vivem para ganhar as pitas de corrida do mundo todo. Agora, ele oferece um bom dinheiro para que a equipe de Marshall lhe arrume um carro.

Trata-se de um modelo que precisa ganhar um motor mais potente. Os funcionários de Marshall são contra ajudar o rival, mas ele não tem escolha, precisa do dinheiro. No meio do caminho, um problema acontece e o mecânico vai parar na cadeia.


Segundo o material de divulgação para a imprensa, sete Mustangs foram construídos para o filme. Aparecem em cena no desfile dos carrões também os modelos Koenigsegg Agera R, Lamborghini Elemento, Spano GTA, Saleen S-7, Bugatti Veyron e McLaren P-1.

“Need for Speed” tem começo, meio e fim e conta uma história instigante sobre o mundo da velocidade. Tem a participação da inglesa Julia Bonet (Imogen Poots, de “V de Vingança”), que vai acompanhar a turma em uma viagem, de modo que o longa dirigido por Scott Waugh (em sua estreia solo em longa de ficção) se transforma em um verdadeiro road movie cheio de aventura, embora algumas cenas sejam bastante previsíveis.

Embora o diretor coloque o espectador dentro da pista para acompanhar cada detalhe da corrida, há momentos em que não se sabe quem está batendo e quem está vencendo a corrida.

Diferentemente da franquia “Velozes e Furiosos”, que já possui seis sequências, este longa não tem humor, é muito mais baseado no drama e na aventura do que na parte cômica.


Aos amantes da velocidade e de modelos de carros modernos e potentes, “Need for Speed” é um prato cheio de diversão. E detalhe: não é preciso conhecer o jogo que inspirou a trama para se entreter.

terça-feira, 11 de março de 2014

NINFOMANÍACA


 Antonio Carlos Egypto





NINFOMANÍACA, volumes I e II (Nimphomaniac). Dinamarca, 2013.  Direção e roteiro: Lars von Trier.  Com Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Stacy Martin, Shia La Beouf, Christian Slater, Jamie Bell, Uma Thurman, Willem Dafoe, Mia Goth, Sophie Kennedy Clark.  Vol. I, 110 min.  Vol. II, 130 min.


O diretor dinamarquês Lars von Trier tem, no cinema, uma trajetória marcada pela polêmica e por espertos apelos de marketing.  Com ele, a tendência é cair no tudo ou nada, ou a gente ama ou detesta o que ele faz.  É difícil buscar uma avaliação equilibrada, até porque as coisas que ele diz e faz fora da tela costumam ser um tanto despropositadas, sem medida. Mas deixemos um pouco a figura do cineasta de lado e vamos ao filme.

“Ninfomaníaca” tinha, originalmente, mais de cinco horas de duração, algo muito pouco viável, comercialmente.  Os exibidores negociaram, então, uma redução de mais de uma hora do filme e resolveu-se lançá-lo em duas partes, cada uma com cerca de duas horas.  Como a história do filme é contada em oito capítulos, essas partes foram chamadas de volumes I e II,  uma linguagem mais adaptada aos livros do que ao cinema.  O filme tem muito a dizer, é importante, mas de modo algum se justificaria tamanha duração.  Quatro horas divididas em dois filmes já foi demais.




O que é “Ninfomaníaca”?  É a narrativa da vida sexual de uma mulher: Joe (Charlotte Gainsbourg), da infância aos 50 anos de idade.  Ela vai contando o que viveu, como experimentou e sentiu uma história marcada pela dependência em relação ao sexo, que envolve uma tal gama de vivências das variações sexuais que nada parece ter ficado de fora.

Do desejo exacerbado à incapacidade de tocar uma vida minimamente estruturada, como conviver com marido e filho, à busca do prazer pela violência, que confunde prazer e dor, passando pelos mais diversos tipos de homens e chegando ao relacionamento homossexual, tudo coube no caldeirão libidinoso de Joe.  Assim como coube também o uso “profissional” desse conhecimento sexual.




Como consta do poster do filme: Esqueça o amor.  É de sexo que se trata.  Ou da ausência dele, da busca de uma solução assexuada, tentada primeiro numa terapia comportamental do tipo dos dependentes anônimos, chegando a uma elaboração mais profunda, que se fará ao longo dos dois filmes, no relato de Joe a Seligman (Stellan Skarsgard).  Ele, que a recolheu machucada da rua, é o seu ouvinte, que, apesar de se surpreender, não a julga.  Como é solteiro, celibatário e intelectual, pontua o relato dela com informações históricas, culturais ou religiosas, o que acaba conferindo um verniz sofisticado a um filme que mostra cenas explícitas de sexo, nudez, closes de órgãos genitais e violência contra o corpo, em busca de orgasmo.  Foi a forma que o diretor encontrou para provocar dúvidas, levantar questões pertinentes sobre as pessoas, o desejo, a traição e a maldade humanas.  Faz isso de forma densa e séria, enquanto obriga o espectador a partilhar de um bom número de cenas desagradáveis e uma apresentação problemática e complicada da sexualidade.



É certo que a sexualidade humana e a sociedade são fontes de angústia, tormento e de uma busca incessante de satisfação, muitas vezes inalcançável.  São também fontes generosas de prazer e geradoras de vida, mas não é fácil estar em paz com elas.

A ninfomania não é, simplesmente, uma patologia, é uma revelação da falta, da frustração, da impossibilidade de alcançar equilíbrio nas relações amorosas.  Ou seria melhor dizer relações libidinais?  Uma sexualidade selvagem não é sinal de preenchimento, muito ao contrário, é desespero.  O incontrolável é o que não pode se aquietar.  Nunca. 



Com lucidez e tirocínio, o filme envereda pelos tortuosos caminhos da mente e do corpo de Joe, que se crê má e tenta nos convencer disso.  Uma mulher que inverte em suas atitudes as expectativas de gênero, ela não quer vínculos, só sexo.  Tentando recuperar algo perdido lá atrás.  Algo que seria capaz de produzir levitação, coisa de louco.  Ou que Seligman vai explicar em sua erudição aparentemente infinita.  Mas não será ela uma vítima?  E se for, de quê?

O olhar cético e cínico de Lars von Trier marcará sua protagonista e não deixará dúvidas de que a crueldade e a maldade são características inescapáveis da espécie humana.  Não é preciso assinar em baixo dessa conceituação para perceber que o que o cineasta mostra aqui tem muita relevância e nos obriga a pensar sobre aspectos significativos da vida que não se resumem ao enredo marcadamente sexual da história.



A autência terapia que Joe realiza ao longo dos dois filmes se concentra num dia, noite e madrugada, em que se dá a elaboração de uma vida.  Ficaremos sabendo de tudo o que ela viveu.  Mas de Seligman não saberemos quase nada, o ouvinte intelectual é um pescador, parece um padre, da igreja oriental, como ele mesmo explica no filme.  Tem um quê de psicólogo pelo que propicia à protagonista.  Mas, de algum modo, se revelará ao final da película.  Nada impediria, contudo, que seu personagem pudesse ser mais definido, ao longo do filme.

Se o espectador é desafiado por “Ninfomania”, o que dizer do elenco de atores e atrizes que se entregam literalmente, de corpo e alma, a uma filmagem que beira o constrangedor?  Não só os dois protagonistas, Charlotte Gainsbourg e Stellan Skarsgard, brilham, mas todos têm atuações à altura das exigências de seus papéis.  E alguns deles, inclusive os de menor expressão, pedem enorme empenho e dedicação, além de predicados geralmente mais afeitos aos produtos pornográficos.

“Ninfomania” não é diferente, como se vê, de outros trabalhos do diretor, que dividem a plateia ao meio.  Será repugnante para muitos, altamente estimulante e reflexivo, para outros tantos.  Eu confesso que gostei, mais do que poderia esperar.  Relevei os exageros e a extensa duração do filme, porque os acertos, desta vez, foram bem maiores do que os equívocos.



domingo, 9 de março de 2014

OSCAR 2014


Antonio Carlos Egypto


Um breve comentário em relação ao Oscar 2014.  A leva de filmes concorrentes pode ser considerada muito boa.  Mas, como se poderia esperar, alguns dos melhores filmes da lista não estavam entre os favoritos e não levaram nada.  É o caso de “Nebraska”, dirigido por Alexander Payne e protagonizado por Bruce Dern.  Uma história sensível de um idoso que, já sem poder contar com a lucidez de outros tempos, vai em busca de um suposto prêmio, acreditando numa propaganda desonesta, dessas banais, de todos os dias.  Atravessa os Estados Unidos com o filho, num road movie tocante e envolvente.  Exibe uma fotografia em preto e branco magnífica.  Saiu da cerimônia como entrou.  Não era filme para Oscar, seja lá o que isso signifique.

NEBRASKA

O britânico “Philomena”, de Stephen Frears, com a atuação de Judi Dench, também ficou fora de qualquer prêmio.  E tinha muitos méritos.  A crítica desse filme, aqui no cinema com recheio, foi postada em fevereiro de 2014.

A Academia também ignorou “O Lobo de Wall Street”, de Martin Scorsese, com Leonardo Di Caprio.  Outro belo trabalho que recebeu crítica no cinema com recheio, em janeiro de 2014.

“Ela” recebeu merecidamente o Oscar de roteiro original.  De fato, a relação amorosa entre um escritor solitário e um sistema operacional de computador com uma voz feminina atraente tem uma boa história para contar e é intrigantemente contemporâneo.  Spike Jonze acertou em cheio. 

ELA

“Gravidade” recebeu vários Oscar, os de efeitos visuais, os de trilha e som, fotografia e montagem.  O principal foi o de diretor, para o mexicano Alfonso Cuarón.  Há que se reconhecer que é o filme típico para a indústria do cinema exibir tecnologia e imagens impactantes.  Os prêmios técnicos foram merecidos.  Já os de melhor montagem e direção só pelo trabalho que deu viabilizar um filme tão tecnológico assim. A crítica de “Gravidade” foi publicada no cinema com recheio, em outubro de 2013.

A vitória de “12 Anos de Escravidão”, de Steve McQueen, como melhor filme, roteiro adaptado e pela atriz coadjuvante Lupita Nyong’o (ótima) teve todos os méritos para isso.  Faltou o reconhecimento ao ator Chiwetel Ejiofor.  Crítica do cinema com recheio de fevereiro de 2014.

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO

O “Clube de Compras Dallas” foi premiado principalmente pelo melhor ator, Matthew Mc Conaughey, e o coadjuvante Jared Leto, cujas performances não posso avaliar porque ainda não vi o filme.  Mas sabemos que um perdeu 20 quilos e o outro, 15, para desempenharem os respectivos papéis, por se tratar da Aids.  Este tipo de sacrifício costuma ser valorizado pela Academia.

“A Trapaça” e “O Capitão Philips” ficaram a ver navios.  Não me surpreendeu isso.  Cate Blanchet levou merecidamente o prêmio de melhor atriz, pelo desempenho em “Blue Jasmine”, de Woody Allen, que não estava indicado a melhor filme.  Uma atuação notável, realmente.

A GRANDE BELEZA

O filme estrangeiro premiado foi, como já se esperava, “A Grande Beleza”, de Paolo Sorrentino, da Itália.  Ótimo trabalho, que já havia levado o BAFTA e o Globo de Ouro.  Crítica do cinema com recheio em dezembro de 2013.



sábado, 1 de março de 2014

LUNCHBOX

                      
 Antonio Carlos Egypto




LUNCHBOX (Dabba)Índia, 2013.  Direção: Ritesh Batra.  Com Irrfan Khan, Nimrat Kaur, Nawazuddin Siddiqui, Denzil Smith.  104 min.


A Índia é o país do mundo que produz o maior número de filmes para cinema.  É daí que vem a denominação Bollywood, ou seja, a Hollywood de Bombaim.  Geralmente, os filmes indianos se equiparam às novelas de TV, na abordagem melodramática, e são cheios de música e dança.  As produções de maior orçamento capricham nas vestimentas, nos luxos, nos palácios.  É um cinema muito popular, mais voltado para o próprio mercado interno.

Mas também há, ou houve, por lá um requintado cinema de autor.  Satyajit Ray (1921-1992) foi um incontestável mestre do cinema.  A sua trilogia de Apu, por exemplo, é um brilhante trabalho neorrealista.  E há muito mais do que isso em sua obra.


Há, ainda, filmes de menor pretensão artística e menos vinculados ao estilo comercial dominante, que buscam um mercado externo.  É o caso desse “Lunchbox”, coproduzido pela França, Alemanha e Estados Unidos.  Singelo, mas reflexivo.  Conta uma história interessante sobre um amor inesperado, talvez impossível, que se alimenta literalmente de boa comida. 

Uma mulher casada, com auxílio da tia vizinha, procura incrementar a refeição que deve ser entregue ao marido no trabalho, por meio de uma marmita diária.  Essa marmita é confiada a um serviço de entrega de comida muito utilizado e conceituado, chamado Mumbai Dabbawallahs.  Surpreendentemente, o tal serviço falha e as marmitas vão parar nas mãos de um homem desconhecido.  Isso se revela por bilhetes que ele envia nas marmitas, agradecendo e cumprimentando a habilidade culinária de quem prepara as refeições.  Como isso se dará, a partir daí, ou a que isso levará é a temática do filme.


“Lunchbox” vai tratar das dificuldades no relacionamento conjugal, de solidão, de perda, do advento da velhice e daquelas coisas mais saborosas e inesperadas da vida.  Ótimos atores garantem o interesse pela trama e o envolvimento com a humanidade dos personagens.

O filme venceu a Semana da Crítica Internacional do Festival de Cannes, dedicada à descoberta de novos talentos.  Participou dos festivais de Londres, Toronto, da 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e do 10º. Amazonas Film Festival.  Foi premiado pelo melhor roteiro e atuação marcante, para o ator Irrfan Khan, no Asia Pacific Film Festival 2013.



Está mostrando, assim, que tem muito a dizer para um público bem mais amplo do que o indiano.  Embora tenhamos de considerar que a enormidade da população da Índia e o interesse pelo cinema por lá já constituem um público suficientemente grande para qualquer filme.  O fato é que é preciso buscar atender também os que esperam mais do cinema como lazer, oferecendo um produto que se distinga da produção mediana.  Até porque o mediano costuma se aproximar muito do medíocre.