sábado, 24 de dezembro de 2011

Missão: Impossível - Protocolo Fantasma

Tatiana Babadobulos

Missão: Impossível - Protocolo Fantasma (Mission: Impossible – Ghost Protocol). Estados Unidos, 2011. Direção: Brad Bird. Roteiro: Josh Appelbaum e André Nemec. Com: Tom Cruise, Paula Patton, Jeremy Renner, Simon Pegg. 133 minutos


Faz pouco mais de cinco anos que “Missão: Impossível III” estreou nos cinemas. Com lançamento mundial apontado para quarta-feira, 21 de dezembro, Tom Cruise novamente protagoniza o agente secreto Ethan Hunt no thriller “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma” (“Mission: Impossible – Ghost Protocol”).

Depois de ser acusado (e preso) pelo bombardeio ao Kremlin, Hunt precisa encontrar uma maneira de finalizar a sua missão, mesmo sem apoio da agência. É por isso que o presidente nomeia a missão de “Protocolo Fantasma”, pois diz, no primeiro discurso, que aquela conversa entre eles nunca aconteceu.


Para a missão, porém, Hunt vai ter apenas agentes inexperientes para prevenir um outro ataque, como a sedutora Jane Carter (Paula Patton, de “Déjà Vu”), que é durona e realiza golpes como ninguém; o técnico Benji (Simon Pegg, o inglês de “Um Louco Apaixonado”), que já estava no filme anterior e aqui foi promovido a técnico de campo e o responsável pela tecnologia da missão. Já Brandt (Jeremy Renner, de “Guerra ao Terror”) é um analista, mas cujo passado é desconhecido. Juntos, os quatro vão ter de encontrar uma maneira de tirar do caminho a assassina Sabine Moreau (Léa Seydoux, a francesa que está também em “Meia Noite em Paris”). Ela, aliás, é uma reencarnação da femme fatale: loira, fria e calculista.


A franquia, que já foi dirigida por Brian de Palma, John Woo e J.J.Abrams (que agora é produtor, ao lado de Tom Cruise), respectivamente, agora está sob a batuta de Brad Bird, em seu primeiro de desafio na direção de um longa-metragem “live”. Isso porque o diretor é vencedor de Oscars, mas especialista em cinema de animação, já que dirigiu “Os Incríveis” e “Ratatouille”, ambos lançados pela Pixar. Bird dirige boas cenas de ação e faz de Cruise o super-herói da vez, responsável por liquidar com o inimigo (a velha briga entre o bem e o mal).

Se o filme anterior tinha como pano de fundo cidades como Xangai, Berlim e Roma, além de a dificuldade de entrar no Vaticano, aqui os agentes da IMF (Impossible Mission Force) vão passear por Budapeste, Moscou, Dubai e Bombaim, sendo que uma das missões será entrar no Kremlin (!).

Pela primeira vez, a fita é apresentada no formato Imax e, logo nas primeiras cenas, o espectador é colocado dentro do filme, em um travelling no qual a câmera faz para começar a contar a história, antes mesmo da abertura com o tema musical que fica martelando na cabeça do espectador durante toda a projeção. A partir de então, já se sabe o que vem pela frente: show de imagens em altíssima qualidade digital, muita ação e com diálogos engraçados, além de som emocionante que faz com que até o chão da sala trema!

Em meio a tanta tecnologia, a trama se utiliza de equipamentos de última geração desenvolvidos exclusivamente para o filme, mas sem abrir mão do merchandising da Apple, por exemplo, quando mostra em close os aparelhos iPhone, iPad e até um iMac. Em uma das cenas, aliás, quando estão dentro do Kremlin, os agentes usam um disfarce que lembra a capa de invisibilidade utilizada pelos bruxinhos de “Harry Potter”. Trata-se de uma sequência bastante engraçada, assim como quando Hunt sai do local, tira o disfarce e faz uma homenagem ao cantor Bruce Springsteen.



Além de terem de enfrentar o inimigo com golpes e, claro, muita imaginação para criar os planos certos para darem certo, eles vão ter de escalar prédios gigantes em Dubai, enfrentar tempestades de areia no deserto, correr pelas ruas de Moscou, desfilar em carrões em Bombaim. Repleto de cenas de ação e muito movimento, “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma” também conta com a clássica cena na qual Tom Cruise está no teto do carro em movimento.

Cena, aliás, na qual o ator é especialista, já que a protagonizou não apenas em filmes desta franquia, mas em outros de ação. Para um quase cinquentão, Tom Cruise esbanja boa forma quando estrela as sequências de ação, ainda que, muitas vezes, ficamos em dúvida se ele realmente ganhou uma cicatriz sequer ao final da filmagem.

Diálogos bem humorados traduzem algumas coisas do que o espectador pode se perguntar entre um mérito e outro dos agentes, como a cena quando dois deles caem no rio e são baleados pelos russos. Hunt, então, explica ao colega que não pensou muito no que fazer, apenas teve a intuição certa quando conseguiu despistar os atiradores, e que eles também não têm boa mira, vão apenas atirando… Sem contar a tradução de algumas cenas faladas em russo e, quando surge um palavrão, daqueles que devem ser pra lá de cabeludos, a legenda traz algo inesperado!

Uma coisa é certa: não dá para assistir ao “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma” (a segunda, se não a melhor da série) esperando ver algo como uma produção de Woody Allen, Pedro Almodóvar, François Truffaut, ou um filme de autor qualquer, ou seja, algo a mais que não seja diversão. Isso porque o filme entrega aquilo o que promete: ação, bom humor e muito movimento com alto e bom som.

Quando se fala em entretenimento, aí sim o espectador sai satisfeito do cinema. Principalmente se o formato escolhido for a tela gigante do Imax.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ROMÂNTICOS ANÔNIMOS


Antonio Carlos Egypto



ROMÂNTICOS ANÔNIMOS (Les Emotifs Anonymes).  França/Bélgica, 2010.  Direção: Jean-Pierre Améris.  Com Benoît Poelvoorde, Isabelle Carré, Lorella Cravotta, Lise Lamétrie.  80 min.

O filme “Românticos Anônimos”, ou emotivos anônimos, é uma comédia que trata de timidez crônica.  O diretor, Jean-Pierre Améris, diz que se inspirou em sua própria experiência pessoal, inclusive frequentando grupos de autoajuda, como o mostrado na película.

Segundo ele, que é também roteirista do filme: “As pessoas que frequentam esses grupos são pessoas que vivem sob uma tensão permanente, elas têm uma grande vontade de se apaixonar, de trabalhar, de existir, mas alguma coisa muito forte as bloqueia internamente.  São cheias de energia, não estão deprimidas e nem são depressivas.  Mas essa tensão que as agita internamente as leva muitas vezes a viver situações inacreditáveis, por isso, o tom de comédia que rege todo o filme.”  Um bom mote para uma comédia romântica: as dificuldades que o excesso de timidez produz nas pessoas, gerando situações tão constrangedoras que se tornam hilárias.

É assim com Angélique (Isabelle Carré), uma talentosa chocolateira que fez a fama de uma marca de chocolates belga, mantendo-se anônima, atribuindo a fórmula do doce a um ermitão.  Quando o dono da fábrica morre, e ninguém conhece o tal ermitão, ela fica sem emprego.  Vai em busca de outra fábrica de chocolate e conhece o dono, Jean-René (Benoît Poelvoorde), tão ou mais tímido do que ela própria, incapaz de se relacionar com as mulheres sem se ensopar inteiro de suor.  Isso, num mero jantar num restaurante.  Dizer o quê?  Se comportar como?

Dar foras todo o tempo, correr das dificuldades: disso se alimenta uma trama tão leve quanto ingênua, candidata a uma tarde despreocupada no cinema, entre uma compra e outra do período de festas natalinas.

Os quiproquós da história remetem aos problemas que os muitos tímidos têm: expressar ideias com clareza, enfrentar situações que podem incomodar, ainda que pequenas, correr riscos mínimos e, sobretudo, entregar-se ao outro numa relação afetiva que poderá tornar-se um compromisso amoroso.  A cerimônia de um possível casamento em que os noivos têm de estar em primeiro plano, então, é um sofrimento atroz, a ser evitado a qualquer custo.

O assunto pode ser engraçado, mas é sério.  É de sofrimento humano que se trata.  A pegada leve da direção, apesar das declarações citadas, não faz jus à importância do tema.  Os exageros das reações mostradas servem para acentuar o problema, mas não ajudam a entendê-lo melhor.


Os atores são bons, embora Benoît Poelvoorde precisasse ser (ou parecer) um pouco mais jovem, para que o papel passasse mais credibilidade. Afinal, alguém tão despreparado para o contato humano não conseguiria tocar uma pequena fábrica, ainda que sem sucesso.  O comportamento do personagem é infantilizado demais para ser crível.  A psicoterapia do tipo behaviorista a que ele se submete também é uma farsa, que não convence ninguém.

Já o papel de Isabelle Carré como Angélique tem mais consistência e credibilidade.  A atriz convence com sua beleza e juventude, expressando sentimentos e comportamentos bem mais verossímeis. 


É um filme que se vê com prazer, já que não exige nada do espectador e ainda lhe oferece o humor, a expectativa do amor a se realizar e degustações e conversas sobre o chocolate, seu sabor inigualável, tentador, e que pode ser constantemente melhorado, a ponto de alcançar níveis divinos.  As bombonières do cinema devem ter bons lucros durante o período de exibição de “Românticos Anônimos”.  Os tímidos poderão se espelhar em situações vividas pelos personagens e os românticos não terão do que se queixar, desde que busquem entretenimento puro e simples.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Tudo Pelo Poder

 
Tatiana Babadobulos

Tudo Pelo Poder (The Ides of March). Estados Unidos, 2011. Direção: George Clooney. Roteiro:George Clooney e Grant Heslov. Com: George Clooney, Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman, Ryan Gosling, Marisa Tomei. 101 minutos.

George Clooney é um dos queridinhos dos cinéfilos e não apenas por conta de seu charme como poucos atores têm. Clooney mostrou também que é ótimo profissional do lado de lá das câmeras. Em 2002, dirigiu “Confissões de uma Mente Perigosa” e, três anos depois, mostrou ao mundo “Boa Noite, Boa Sorte”, longa-metragem que foi indicado ao Oscar em seis categorias, incluindo Melhor Diretor. Depois ainda dirigiu a comédia “O Amor Não Tem Regra”, em 2008.

Desta vez, “Tudo Pelo Poder” (“The Ides of March”), seu novo filme, e que tem estreia no Brasil apontada para o dia 23 de dezembro, já recebeu quatro indicações ao Globo de Ouro 2012 nas categorias Melhor Filme Drama, Roteiro, Direção e Ator, para Ryan Goslyn.

A fita é baseada na peça de Beau Willimon, “Farragut North”, e foi inspirada na experiência de Willimon como colaborador durante a mal sucedida campanha presidencial de 2004 do político do partido democrata Howard Dean.


Clooney, que adaptou o roteiro com Grant Heslov, faz o papel do governador Mike Morris, que luta por um lugar na Casa Branca. Apesar de sua campanha sofrer impacto com a descoberta de corrupção em Washington, é em torno de seu assessor de imprensa, Stephen Meyers (Ryan Gosling, de “A Garota Ideal”), que gira a história e serão os seus passos que o espectador terá de seguir para saber o que está acontecendo na campanha do governador, que é coordenada por Paul Zara (o brilhante Philip Seymour Hoffman, de “Dúvida”). E, como confiança e lealdade são motes na política, é sempre a mesma história, tal como na vida real: ajoelhou, tem que rezar!

Do outro lado da disputa está o candidato cuja coordenação é feita por Tom Duffy (Paul Giamatti, de “A Luta Pela Esperança”), que busca a vertente mais cômica de sua personagem, além de ser hipócrita e maquiavélico. Para completar o elenco de ótimos atores, Marisa Tomei (“O Poder e a Lei”) é a repórter do New York Times responsável por levar as informações à população. Há ainda a estagiária do candidato, Molly (Evan Rachel Wood, de “O Lutador”), que apesar dos seus 20 anos, mostra superioridade ao chefe.

E, mais uma vez, Clooney vai mexer no vespeiro. O longa mostra, de maneira elegante, os bastidores da política. As personagens, sejam elas da situação ou da oposição, são passionais, vivem a política com todo o entusiasmo e os atores conseguem demonstrar isso ao espectador, a começar por Hoffman, como um dos responsáveis pela carreira política do presidente. Com diálogos longos e bem construídos, a fita é bem sucedida também nas imagens, com direção limpa, mas que brinca com os reflexos dos atores nos vidros, por exemplo.



No jogo de sedução, mais uma vez o espectador assiste ao envolvimento de “gente de alto escalão” com estagiários, além dos escândalos comuns na política. Sem contar a chantagem da busca pelo poder, as manipulações, as manobras políticas para se dar bem (e para derrubar o adversário, afinal, vale tudo) e as brigas internas.

Aqui, a política serve como pano de fundo para contar uma história que trata também de sexo, ambição, lealdade, traição e vingança, sem se esquecer dos elementos shakespearianos que pontuam as cenas.
Às vésperas das eleições municipais, “Tudo Pelo Poder” é um filme obrigatório para o cidadão, mas também para o cinéfilo que faz questão de assistir a uma obra-prima, como poucas têm sido feitas ultimamente, até porque, a cada produção, George Clo­o­ney mostra que não é apenas um rostinho bonito e o último solteirão de Hollywood. É um ator e um diretor que merece respeito por aquilo que faz bem. Aliás, muito bem.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

OS NOMES DO AMOR

Antonio Carlos Egypto



OS NOMES DO AMOR (Le nom des gens).  França, 2010.  Direção: Michel Leclerc.  Com Sara Forestier, Jacques Gamblin, Zinedine Soualem, Carole Franck.  100 min.

“Os nomes do amor” é uma comédia francesa que, sem nenhuma grande pretensão que não seja o mero entretenimento, consegue inovar algo na história que conta.  Em tempos em que o sexo está desvencilhado dos problemas morais, ele naturalmente pode assumir um caráter pragmático, ou experimental, com facilidade.

Que tal uma militante de esquerda que esteja convencida de que a melhor maneira de convencer direitistas a mudarem de visão, ou de lado, é tê-los na cama?  E que não tenha escrúpulos em usar seu corpo para tais experiências políticas? Todos que não pensam como ela tendem a ser vistos como fascistas a serem regenerados pela via do prazer sexual.  Ela assume o lema “faça o amor, não faça a guerra”, que notabilizou os hippies nos anos 1960.  Não importa muito que sua história de vida, sua infância, possa ser invocada para explicar um comportamento ousado desse tipo, por parte dessa mulher.  O mais interessante é o uso que ela fará disso.

Bem, e quando ela encontra homens mais transigentes, mais abertos, ou mais simpáticos às causas de esquerda ou de centro-esquerda?  Fica só na amizade ou pode evoluir para o amor verdadeiro?  Mas como conciliar isso com os experimentos político-ideológicos?

É divertido e dá margem a algumas brincadeiras com as figuras políticas francesas e suas representações ideológicas, com direito até a participação no filme de Leonel Jospin como ele mesmo.  Desse modo, se permite gozar das verdades engessadas que estão em conceitos tão esquemáticos quanto excludentes.  É evidente que o mundo político é mais complexo do que o maniqueísmo direita versus esquerda, ou a turma do mal contra a turma do bem.

E será que sexo pragmático dá certo?  Quando algo mais sutil aparece, essas conceituações rasas tendem a cair por terra.  Ou se tornarem uma armadilha.

O mérito do filme é mesclar amor e política de um jeito leve e simpático, sem se levar muito a sério, nem pregar verdades em nenhuma dessas duas direções.  Amor e preferências políticas não comportam certezas, moral da história, destino inevitável, essas coisas.  Tudo pode acontecer e nada será assim tão grave ou importante.  As circunstâncias e o acaso acabam tendo um papel maior do que normalmente se avaliam que eles têm.



“Os nomes do amor” produz sorrisos, tem leveza, diverte e brinca com as verdades da vida no amor e na política, embora se restrinja aos personagens políticos franceses contemporâneos e a fatos históricos, como a relação colonial da França com a Argélia, coisas que acentuam o sabor local da película.

Sara Forestier, no papel de Bahia, a que não tem pudores, tem nome argelino, que é frequentemente confundido com a nacionalidade brasileira, é uma atriz capaz de levar esse comportamento improvável à credibilidade do espectador.  E Jacques Gamblin, no papel de Arthur, encarna a leveza de espírito do filme à perfeição.  Arthur é um judeu nada religioso, com pais moralistas, que fizeram do holocausto judaico um tabu tão grande que qualquer coisa que se diga à mesa do jantar remeterá àquela experiência que se quer apagar.  O tabu gera um constrangimento tal que vira piada, como todos os tabus, aliás.  O filme brinca respeitosamente com isso, assim como com as demais questões políticas já citadas, produzindo uma boa diversão, um passatempo de boa qualidade.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Noite de Ano Novo


Tatiana Babadobulos

Noite de Ano Novo (New Year's Eve). Estados Unidos, 2011. Direção: Garry Marshall. Roteiro: Ka­therine Fugate. Com: Sarah Jessica Parker, Lea Michelle, Ashton Kutcher, Robert de Niro, Jessica Biel. 118 minutos


Filmes comemorativos lançados no final do ano geralmente são sobre o Natal. E, neste gênero, chovem os piegas, as comédias do tipo “pastelão”, roteiros sem graça, mas que continuam sendo lançados para tentar convencer o espectador de que Natal é época de renovação, de união em família, confraternização etc. Este mês, aliás, um já estreou: “Presente de Natal”, que traz também versão em 3D.

Para quebrar a rotina, desta vez é sobre o ano que está chegando que trata-se o longa-metragem “Noite de Ano Novo” (“New Year’s Eve”). A fita, dirigida e produzida por Garry Marshall, de “Idas e Vindas do Amor” (o que explica a citação deste filme no final), conta, cheia de rodeios, histórias de diversos personagens sobre os imprevistos e as expectativas que antecedem a meia-noite. Porém, é clichê demais quando escolhe como cenário a cidade de Nova York, cuja festa principal acontece na Times Square. De acordo com uma personagem, a tradição de ver a bola descer e a contagem regressiva 10 segundos antes existe desde 1907. E não, ninguém está vestido de branco, tal como se faz no Brasil, por exemplo.

Algumas das pequenas histórias escritas pela roteirista Ka­therine Fugate (também de “Idas e Vindas do Amor”) são entrelaçadas e a maioria delas bobas, sem sentido ou que não combinam com o ator escolhido para protagonizar a sequência.

Robert de Niro, que dispensa apresentações, é um paciente moribundo que está internado em um hospital, escolhido a dedo por ele, já que tem o terraço voltado para a praça, e que quer passar a noite de ano novo vendo a tal bola iluminada, como faz todos os anos. Ao seu lado está a enfermeira vivida por Halle Berry (de “A Última Ceia”), que também vai mostrar como quer passar a meia-noite.



Katherine Heigl (de “A Verdade Nua e Crua”) aqui é Laura, uma prestigiada chef de cozinhaconvidada para preparar o bufê de uma concorrida e tradicional festa, que terá apresentação de um astro da música, Jensen (Jon Bon Jovi). Este, aliás, não é o primeiro trabalho do cantor, como ator, já que ele trabalhou em filmes como “O Jogo da Verdade”, “Cry Wolf – O Jogo da Mentira”, entre outros, além de ter feito participações especiais em séries de TV, como “Sex and the City”, “30 Rock”, “Las Vegas”.

Também estão no elenco, a adolescente Hailey, vivida por Abigail Breslin (de “Pequena Miss Sunshine”), que quer passar a meia-noite na Times Square para beijar o garoto que está apaixonada. A estrela de “Sex and the City”, Sarah Jessica Parker, aqui é Kim, mãe da garota. Sua personagem, porém, não tem qualquer impacto no longa e não se sabe exatamente o que ela faz, o que quer etc.

No elevador, o imprevisto prega uma peça no destino do ilustrador Randy (Ashton Kutcher, de “Sexo Sem Compromisso”, a princípio, irreconhecível, com barba) e a cantora Elise (Lea Michele, de “Glee”), que sonha em fazer uma turnê ao lado do astro da música.

Há ainda Michelle Pfeiffer, que desde a Mulher Gato não faz um filme empolgante. Aqui é uma secretária que se demite e quer cumprir todas as suas resoluções de ano novo em algumas horas, e Hilary Swank (de “Menina de Ouro”), como uma das responsáveis pela organização da festa em Nova York. É dela, aliás, o discurso sobre o que devemos fazer e pensar na esperada noite. Fala sobre amor, esperança, perdão, reinício e chance de poder começar tudo de novo, em um ano novinho em folha.

“Noite de Ano Novo” reúne diversas estrelas, mas acaba sendo um verdadeiro desastre, com histórias bobas (como a disputa pelo nascimento do primeiro bebê do ano), até o encontro à meia-noite marcado um ano antes. Outro detalhe é a previsibilidade quando o cantor da festa escolhido para o papel é… um cantor, assim como a backing vocal. O tema até teria potencial para ser explorado, mas o roteiro fraco e o excesso de personagens faz com que as histórias não se aprofundem e se percam em meio a uma direção atrapalhada e em diálogos bobos. No limite, “Noite de Ano Novo” faz o espectador refletir e começar a pensar o que lhe espera no dia 31 de dezembro que, aliás, está logo aí!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

AS CANÇÕES

Antonio Carlos Egypto



AS CANÇÕES. Brasil, 2011. Direção: Eduardo Coutinho.  Documentário.  90 min.

Canções podem estar associadas a momentos marcantes da vida das pessoas.  Às vezes, uma determinada canção evocará uma lembrança de grande amor, de grande tristeza ou dor, que jamais será esquecida ou posta de lado.  Algumas serão ouvidas e cantadas ao longo de toda a existência de um indivíduo.  Outras podem trazer tanto incômodo, que serão objeto de repulsa ou até poderão produzir sensações de medo, quando ouvidas ou entoadas.  Enfim, a associação entre canções e emoções intensas produz um material psicológico tão rico e variado que, para um documentarista do porte de Eduardo Coutinho, só poderia trazer grande interesse.

No painel humano que ele mostrou em “Edifício Master”, de 2002, um dos moradores cantou e contou sua história pessoal por meio da canção My Way, sucesso de Frank Sinatra.  Aquela revelação foi não planejada, ou inesperada, tornando o depoimento daquele personagem bastante atraente. 

Desta vez, Eduardo Coutinho planejou o filme “As Canções”, para obter resultado semelhante, com uma gama de experiências música/história de vida mais ampla.  Divulgou por diferentes espaços da cidade do Rio de Janeiro um chamamento: “Alguma música já marcou sua vida?  Cante e conte sua história”.  Colheu a oferta espontânea dos que se interessaram pela proposta e durante dois meses foi selecionando as melhores histórias.  De 237 pessoas, 42 foram filmadas e 18 estão no filme, com idades que variam de 22 a 82 anos.  Suponho que ele tenha escolhido, também, os que poderiam cantar melhor, porque é surpreendente a boa performance do canto a capela dos que são mostrados.


Conhecemos, então, as mais diversas histórias de amor, traição, submissão, angústia, arrependimento, perda e solidão, só para citar alguns dos elementos constitutivos da farta colheita que Coutinho obteve com sua estratégia.

Histórias que a memória reteve, transformou, reinventou, de grande significado para cada um dos depoentes, pessoas do povo que toparam expor não só seus sentimentos, mas seu canto, em geral intenso e emocionado.  Um filme que flui gostosamente.  Por um lado, há muita espontaneidade.  Por outro, muita graça na teatralidade ou no exagero de alguns.  As músicas, além de serem conhecidas e apreciadas do nosso cancioneiro popular, são interpretadas com uma exuberância afetiva que as torna especialmente atraentes. Os homens e mulheres que se apresentam em “As Canções” não são cantores, mas cantam bem, com alma, Roberto Carlos, Tom Jobim, Vinicius, Chico Buarque e outros mais.

Eduardo Coutinho, um dos nossos maiores documentaristas, que já nos deu o extraordinário “Cabra Marcado para Morrer” (1964-1984), um clássico absoluto do cinema nacional, e “Jogo de Cena”, de 2007, que embaralhou de vez a história da “verdade” documental, num filme provocador e divertido, nos traz agora um produto mais singelo.  Pelo menos, aparentemente.  Afinal, a “verdade” registrada na memória e rememorada por meio de canções é tão produzida, consciente ou inconscientemente pelo sujeito, quanto aquela que a câmera pode planejar e registrar.  Está posta em xeque, uma vez mais, a questão de como poderia ser concebida uma “verdade” documental, seja ela objetiva ou subjetiva.

“As Canções” foi premiado como melhor documentário pelo júri oficial e também pelo público, no Festival do Rio 2011.