sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

POESIA

Antonio Carlos Egypto




POESIA (Shi). Coreia do Sul, 2010. Direção: Lee Chang-Dong. Com Jeong-hee Yoon, Hira Kim, Da-wit Lee. 139 min.

De que se alimenta a poesia? Da observação e da redescoberta do cotidiano. Da beleza que se pode encontrar nas coisas simples da vida. Da redescoberta da beleza de uma flor, do fluir de um rio, do vento que sopra. Isso tudo significa um novo olhar sobre a vida, treinar a observação em busca da expressão por palavras.

Mas é só de beleza que se alimenta a poesia? Ou dos sentimentos a ela associados? Pode haver poesia a partir do espanto, da dor, da decepção, da iminência da morte?

São essas as questões que estão em jogo na vida da senhora Mija (Jeong-hee Yoon), uma mulher que se veste lindamente para sua idade, que se situa entre os 70 e os 80 anos. Sempre suave, gentil e bem produzida, ela busca nas aulas de poesia um novo estímulo para viver e se propõe a encarar o desafio de, pela primeira vez na vida, escrever um poema.

Procura reeducar o olhar e vai se surpreendendo com o que vê, com a beleza das coisas, como se o fizesse pela primeira vez. Seu cotidiano acaba obrigando-a, porém, a olhar também para a desgraça humana. Encarar a existência da maldade e dos interesses que se sobrepõem aos sentimentos.

Ela própria esquece palavras banais de seu dia-a-dia, o que lhe dificulta a comunicação. Muitas vezes parece dispersa, distante do que lhe sucede, sem conseguir acompanhar o que se passa e tomar posições. Pelo menos, é assim que nos parecem suas atitudes.

Uma visita a um hospital para cuidar da própria saúde faz com que ela se depare com a mãe de uma adolescente, desesperada porque sua filha tão jovem cometeu suicídio. Mija cuida de um neto adolescente, que estudava com a menina na mesma escola e acaba por ter de encarar que seu neto tem relação com esse suicídio. O menino mal consegue cuidar de sua própria higiene, vive a comer, ver TV e jogar videogame, com quem ela não consegue entabular conversa nenhuma. Cuida bem dele e não vê resultados ou reconhecimento. E agora isso?

É no desenrolar dessa história que Mija encontrará o caminho doloroso, mas enriquecedor, da poesia. É bonito acompanhar um filme que, por meio de belas imagens e de uma grande atriz, trata de poesia. E até ousa chamá-lo, precisamente, de “Poesia”. Essa poesia está não só no assunto de conseguir redigir um poema, mas em sua linguagem cinematográfica, essencialmente poética, sem dúvida.

É mais um bom filme que nos chega da Coreia do Sul, de ritmo e beleza orientais, que nos convida à contemplação. O diretor Lee Chang-Dong já está em seu quinto longa-metragem, com prêmios em Veneza e Cannes, tendo sido, durante um período, ministro da Cultura e Turismo, na Coreia do Sul. É o primeiro filme dele que vejo. Estarei atento aos próximos ou a alguma retrospectiva de seus trabalhos, que venha a ser realizada.

Não é sempre que o cinema nos brinda com tão bela poesia, sem se alienar da realidade, por mais dura que ela possa ser. E que nos mostra uma personagem tão fantástica, como é a senhora Mija, de quem não se esquece facilmente. “Poesia” recebeu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes. A trama é, de fato, muito bem engendrada. É um dos pontos altos do filme. Mas a riqueza de detalhes a observar é tão importante e reveladora quanto o desenrolar da trama.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Desconhecido

Tatiana Babadobulos

Desconhecido (Unknown). Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Japão. Direção: Jaume Collet-Serra. Roteiro: Oliver Butcher. Com: Liam Neeson, Diane Kruger, January Jones, Aidan Quinn. 113 minutos.

Que tal perder a memória, em um lugar desconhecido? Esse é o tema do longa-metragem “Desconhecido” (“Unknown”). Na fita, dr. Martin Harris (Liam Neeson) sofre um acidente quando chega a Berlim, na Alemanha, e acorda depois do coma de quatro dias. A partir de então, começa a tentar lembrar o que está fazendo na cidade e a juntar as peças para descobrir quem realmente é.

Na verdade, Harris chegou à capital alemã com a esposa, Liz (January Jones), mas estava sozinho durante o acidente. Isso porque uma de suas malas ficou no aeroporto e, quando voltou com a taxista, Gina (Diane Kruger, de “Bastardos Inglórios”), sofreu o acidente de carro.

No início, a narrativa, baseada no livro homônimo do francês Didier van Cauwelaert, apresenta o personagem, de modo a fazer o espectador se apegar a ele e querer conhecer a sua história, principalmente porque o tempo inteiro o filme tenta confundir a plateia.

Isso porque os dois lados não sabem o que está acontecendo. E, durante a jornada para saber quem é, pelas ruas frias de Berlim (com muitas imagens dos pontos turísticos), o espectador acompanha cada passo do protagonista, uma vez que sua esposa diz que não o conhece, começa a ser perseguido e até a taxista com quem estava durante o acidente foge dele e também sofre ameaças.

Liam Neeson (de "A Lista de Schindler") convence o tempo inteiro. Seu temperamento doce faz com que acreditemos que está falando a verdade. O mesmo, porém, não é possível dizer de January Jones que, apesar de ser bonita, não é uma boa atriz e o espectador sabe que ela não está falando a verdade.

Por falar em verdade, há ainda um confronto em dr. Harris verdadeiro e o impostor, vivido por Aidan Quinn, e os dois têm o mesmo histórico. E, na cena hilária, ambos falam as mesmas frases diante de um outro personagem.

O diretor Jaume Collet-Serra (“A Órfã”) é ágil com a sua câmera como deve ser nas cenas de ação. Por exemplo, no duelo de carro, quando aparecem duas máquinas genuinamente alemãs, o clássico Mercedes-Benz, e do esportivo Touareg, da Volkswagen. Ao mesmo tempo, quando o clima do roteiro pede algo mais intimista, Collet-Serra não erra. Quando o personagem está no hospital, há cenas que remetem ao “Escafandro e a Borboleta”.

Durante 113 minutos de projeção, “Desconhecido” envolve o espectador e faz com que ele queira conhecer a história real de dr. Harris, que, como um bom suspense, consegue segurar até as cenas finais.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

127 Horas


Tatiana Babadobulos


127 Horas (127 Hours). Estados Unidos e Reino Unido, 2010. Direção e roteiro: Danny Boyle. Com James Franco, Kate Mara, Amber Tamblyn, Sean Bott. 94 minutos


É de perder o fôlego. “127 Horas” (“127 Hours”), um dos longas-metragens que concorrem ao Oscar de Melhor Filme (além de outras cinco categorias), conta a história real do montanhista Aron Ralston (vivido por James Franco, de “Milk – A Voz da Igualdade”) e baseado no livro “Between a Rock and a Hard Place”, do verdadeiro Ralston.

A questão principal do filme, dirigido por Danny Boyle (“Quem Quer Ser Um Milionário”), não é, obviamente, os passeios costumeiros que o protagonista costumava dar sempre que queria sair por aí, sem avisar alguém. A saga principal do longa é sobre o episódio que deixou o rapaz sem um dos braços por conta de uma pedra que caiu sobre ele e o deixou preso em um cânion em Utah, nos Estados Unidos.

Para contar essa história, Boyle se vira muito bem com as imagens que focalizam Aron durante as 127 horas em que fica preso, até conseguir sair da fenda. No entanto, antes da tragédia, é a apresentação do personagem que toma conta da tela, de modo a fazer o espectador se apegar a ele, mostrando como vivia, quem é, os amigos com quem convivia, além, é claro, de seu amor (Clémence Poésy), da família e das moças que conheceu durante o passeio e antes do acidente (Amber Tamblyn e Kate Mara).

É um verdadeiro teste de sobrevivência e remete a filmes como “Enterrado Vivo”, que chega nesta semana em DVD, sobre um caminhoneiro americano que é pego por terroristas iraquianos e é enterrado vivo. Remete também a outras histórias, como o filme “Na Natureza Selvagem”, também sobre sobrevivência; e o documentário “O Homem Urso”, cujo realizador morreu atacado pelo mesmo urso, motivo do filme.

Além do filme de Danny Boyle, as imagens simulam uma espécie de documentário, uma vez que, aparentemente, mostram como se as imagens viessem da câmera que o personagem carrega consigo. E Boyle dá a dimensão do problema no qual o personagem está envolvido quando aproxima e afasta a sua lente do cânion. Outro recurso utilizado pelo diretor, que também é co-autor do roteiro, é a mistura de imagens de situações que ele está perdendo na vida, de coisas que podem estar acontecendo enquanto ele está preso na rocha, além de sua imaginação. Uma forma, para o rapaz, de saciar sua vontade de comer, beber, entre outras necessidades básicas.

“127 Horas” é um filme sobre a vontade de viver, a garra de superar os próprios limites em busca de “uma luz no fim do túnel”, contendo o desespero e sobrevivendo com o pouco de água e comida que tinha na mochila. Com imagens memóraveis e angustiantes pelo que acontece com uma pessoa que fica presa em uma fenda, “127 Horas” é bem resolvido e faz o espectador sentir parte daquilo pelo qual o protagonista está vivendo no drama. Portanto, cumpre o seu papel. E em grande estilo.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O BESOURO VERDE

                                                  Antonio Carlos Egypto



O BESOURO VERDE (The Green Hornet).  Estados Unidos, 2010.  Direção: Michel Gondry.  Com Seth Rogen, Jay Chou, Cameron Diaz, Tom Wilkinson, Christoph Waltz.  119 min.

O cineasta francês Michel Gondry costuma filmar coisas estranhas, excêntricas ou mágicas, geralmente com base em sonhos e jogando com o tempo e a memória.  Em parceria com o escritor e roteirista Charlie Kaufman, criou um universo que poderemos classificar de “surrealista kitsch”, em que o ilusionismo joga papel central.
“Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, de 2004, brinca com o tempo e com o desejo de apagar desilusões amorosas e com as dificuldades funcionais que podem surgir daí. “Sonhando acordado”, de 2006, é o exemplo mais evidente da estética kitsch.  Mostra mãos enormes num corpo pequeno, estúdios de TV montados com embalagens de ovos e outras inúmeras extravagâncias.  Em “Rebobine, por favor”, de 2008, um cidadão desmagnetiza incidentalmente todas as fitas VHS de uma locadora, cujos donos irão refazer os filmes à sua moda.  No episódio de “Tóquio”, de 2009, uma mulher se transforma periodicamente em cadeira.
Nenhum desses filmes é uma obra-prima, mas é possível se divertir com eles e há coisas bastante originais nessas brincadeiras todas.  Gondry não é um cineasta qualquer.  Tem bom humor e criatividade. 
Seu mais recente filme é “O Besouro Verde”, que está sendo exibido em 3D e, com maior destaque, na tela Imax.  Um filme de muita ação e efeitos especiais, na fórmula de mercado que persegue os milhões de dólares que devem ser conquistados por meio de grandes plateias.  E não deu outra: o filme é o campeão de bilheteria atual, nos Estados Unidos.
O Besouro Verde é um herói antigo.  As informações divulgadas dão conta de que ele nasceu em 1936, no rádio, depois foi para os quadrinhos, para a TV, e já teve como parceiro até o lendário Bruce Lee.  É um daqueles heróis que se valem de todos os métodos, dos mais invasivos, violentos e inteiramente fora da lei, a pretexto de combater criminosos.  Ou seja, crime se combate com crime: uma contradição ética.
Nas mãos de Michel Gondry, os personagens ganham muita tecnologia e se almeja a comicidade.  Britt (Seth Rogen), o que se esconde sob a identidade de Besouro Verde, é o herdeiro instantâneo de um grande jornal e conglomerado de comunicação, uma vez que seu pai morre de um dia para o outro, surpreendentemente. 
Irresponsável e imaturo, ele nada quer da vida, a não ser se divertir, de preferência perigosamente.  Descobre em Kato (Jay Chou), empregado do pai,  um gênio, não só das artes marciais ou da inteligência, mas da invenção.  Carros e equipamentos de fazer inveja a James Bond são criados por ele.  A dupla vai barbarizar na cidade.  Não se sabe ao certo se para combater bandidos de verdade ou para se divertir com a brincadeira violenta. E, a partir daí, tudo se destrói e se arrebenta, o tempo todo.  Não fica um vidro para contar a história.  Até numa briga de socos, a casa vai sendo literalmente destruída: móveis, objetos de adorno, computadores, TVs de última geração, tudo se acaba.
O próprio jornal vai sendo destruído, junto com os carros mais do que especiais e seus aparatos de alta tecnologia.  Tudo é muito chique e atualizado.  Para ser literalmente consumido, instantaneamente destruído.  Uma metáfora do capitalismo consumista, que pode acabar com o planeta?
Tudo isso mostrado em 3D, na tela Imax, é de um exagero tal que, ao final das duas horas de projeção, o que resta é o esgotamento e, paradoxalmente, o tédio.  Foi Lampedusa quem disse que “tudo acontece para que nada aconteça”, não é?  Pois é isso.  O resultado de tanta tecnologia e tantos efeitos é o vazio.
Mas aonde foram parar as ideias criativas de Michel Gondry, as excentricidades, as maluquices?  “O Besouro Verde” pretende-se uma comédia de ação. Ação tem até demais.  Quebra-quebra, explosão, porrada. Sem tensão ou violência com cara de coisa real. Não, é brincadeirinha, coisa de gibi. Mas qual é a graça?  Umas poucas frases espirituosas, ditas ao longo da narrativa? Esse ritmo acelerado, vertiginoso, excessivo?   
Qual é a diferença entre assistir a um filme desses e andar numa montanha russa? Quem gostar de curtir essas sensações algo extravagantes e artificialmente produzidas, que aproveite.  Eu disse extravagantes?  Quem sabe é por isso que o diretor desse filme é o Michel Gondry.  Pelo menos isso ainda tem algo a ver com seus trabalhos anteriores.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita

Tatiana Babadobulos

Bravura Indômita (The Grit). Estados Unidos, 2010. Direção e roteiro: Joel e Ethan Coen. Com: Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin. 110 minutos

Foi em 1969, quando John Wayne interpretou o xerife beberrão Rooster Cogburn, em “Bravura Indômita” (“True Grit”), filme dirigido por Henry Hathaway. Nesta semana, porém, estreia um novo “Bravura Indômita”, refilmagem que tem assinatura dos irmãos Joel e Etha­n Coen, em uma iniciativa de fazer um filme de faroeste.

Embora os dois sejam autores de “Onde os Fracos Não Têm Vez”, que se passa no Texas, os diretores informam, no material de divulgação para a imprensa, que não o consideram um longa-metragem de western, uma vez que trata-se de uma história atual. Vá lá que eles têm razão neste aspecto, mas a estética, a história, a interpretação levam a crer que trata-se, sim, de um filme deste gênero também.

De qualquer maneira, o longa que estreia nesta sexta, 11, e que concorre a 10 indicações ao Oscar, tem uma garota de 14 anos, Mattie Ross (a estreante Hailee Steinfeld), como protagonista, e que chega a Fort Smith, no estado do Arkansas, em busca do assassino de seu pai, Tom Chaney, que o teria matado por duas barras de ouro.

Em busca de vingança, a garota oferece dinheiro ao xerife da cidade, Rooster Cogburn (nesta versão vivido por Jeff Bridges), que promete matá-lo, mas não de levá-la consigo, tal como fora acordado. Ao invés dela, porém, prefere a companhia do policial texano LaBoeuf (Matt Damon), que quer encontrar o mesmo bandido em troca de uma gorda recompensa.

Com direção e roteiro dos irmãos Coen, a fita se desenvolve de maneira lenta, mas ao mesmo tempo mostrando os detalhes desta empreitada, já que, uma vez atingido o objetivo, todos irão ganhar. O longa mostra também ótimas interpretações de Bridges, cujas pronúncias em inglês com sotaque texano são incompreensíveis, mas retratam o local em que se passa a narrativa. E a bravura da menina que não mede esforços para alcançar seus objetivos, ou seja, de ver a morte de seu pai vingada. Destaque também para o figurino e para a fotografia do longa.

“Bravura Indômita” talvez não precisasse ser refilmada, uma vez que não faz tanto tempo que foi feita (e recentemente relançada em Blu-ray), mas, mesmo assim, ter uma história contada a partir do olhar dos Coen é sempre um belo presente aos olhos. E à cabeça!

O Discurso do Rei

Tatiana Babadobulos

Da sua filha muito já se falou. No entanto, não havia nenhum filme que contasse a história do rei George VI, do Reino Unido. Tampouco da maneira como o diretor Tom Hooper escolheu para contá-la, em “O Discurso do Rei” (“The King's Speech”), longa-metragem que estreia nesta sexta-feira, 11 de fevereiro, nos cinemas.

De maneira linear, a narrativa traça a trajetória do futuro monarca britânico. E inicia a partir do  momento no qual o duque de York, Bertie (Colin Firth, ótimo!), vai ao estádio de Wembley pronunciar um discurso em nome do seu pai, o rei George V (Mi­chael Gambon, de “Harry Potter”), que está acamado, mas quase não consegue. Isso porque ele não está somente nervoso por conta da transmissão pelo rádio e para a multidão presente, mas também porque ele não sabe falar em público; sofre de problemas com a fala, ou seja, o duque de York é gago. E o foco do roteiro escrito por David Seidler é justamente a sua gagueira.

Sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham-Carter), a futura Rainha Mãe, vai atrás de um especialista da fala. É aí que ela encontra Lionel Logue (Geoffrey Rush), um imigrante australiano que garante ter sucesso com pessoas que têm esse tipo de problema.

Entre citações de Shakespeare, gravações de sua voz em aparelhos recém-adquiridos da América, exercícios de “trava-língua”, música, dança (e até palavrão) para não gaguejar, Bertie, como é chamado pela família e também pelo médico para quebrar as formalidades reais, faz de tudo para conseguir vencer.

Embora ele não seja o primeiro herdeiro do trono assim que seu pai morre, assume um ano depois de coroado David, o rei Eduardo VIII (Guy Pearce), pois as formalidades reais não permitem que o rei seja casado com uma mulher divorciada, pois ele é o chefe da igreja. Sendo assim, é Bertie quem assume o trono – mesmo que a contra-gosto.

Dentre os atores britânicos que poderiam interpretar o personagem, entre eles o galã Hugh Grant, foi escolhido Colin Firth, que encabeçou o papel e o interpreta de maneira brilhante. Sim, Firth responde às expectativas do público quanto a sua atuação.

Com filmagens na suntuosa Abadia de Westminster, em Londres, onde acontecem as coroações, passando pelo Palácio de Buckingham, entre outros, a câmera de Hooper, que tem muito mais experiência com televisão que com cinema, é diegética, ou seja, mostra as imagens sob o olhar do personagem que está sendo focado. Assim, insere o espectador na cena.
Outros destaques são o figurino (toda a pompa dos vestidos e das casacas) e as formalidades que os monarcas são obrigados a fazer.

Tal como em “A Rainha”, que contou a história de Elizabeth II, ou seja, a filha do rei George VI, além de outros longas sobre a monarquia britânica, como “Elizabeth”, com Cate Blanchett no elenco, e ainda “A Jovem Rainha Victoria”, lançado em 2009, o longa se passa nos anos 1930 e apresenta uma história simples, mas de maneira sucinta, que prende a atenção e instiga o espectador. De brinde, uma verdadeira aula de história.

Além dos personagens principais que vivem no reino, destaque para Timothy Spall, como o ex-primeiro ministro, Winston Churchill. Apesar de bom ator, está bastante caricato. E, como forma de dar o melhor rumo para a Segunda Guerra Mundial que acaba de explodir, o rei declara guerra contra a Alemanha, em 1939, época na qual Adolf Hitler faz suas crueldades. Há imagens, inclusive, que dão conta da adoração dos alemães pelo ditador – ou pelo menos da demonstração disso.

A fita é baseada em uma história real e de sucesso, uma vez que, como sabemos pela história da realeza britânica, na sequência de rei George VI subiu ao trono Elizabeth II, que ocupa desde 1952. Não é à toa, pois, que há a famosa aclamação do povo: “God save the king” (Deus salve o rei).

Com 12 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Diretor, Ator, AtrizCoadjuvante, a fita agrada pelo fato de ser delicada, intimista e real. Ao mesmo tempo, e por ser simples, o longa torna-se convencional, sem muitos atrativos. A não ser, é claro, a própria história do monarca que, esta sim, é repleta de surpresas.

O DISCURSO DO REI

 
 Antonio Carlos Egypto

O DISCURSO DO REI (The King’s Speech).  Inglaterra, 2010.  Direção: Tom Hooper.  Com Colin Firth, Geoffrey Rush, Helena Bonham Carter, Guy Pearce, Derek Jacobi.  120 min.


A gagueira é um problema que afeta um grande número de pessoas em todos os cantos do globo.  E em todas as épocas.  Quem não se lembra da história de Demóstenes, fazendo exercícios, falando com pedras na boca?  Pode ser algo passageiro, restrito a algum período da vida, como a infância.  Mas pode permanecer incomodando por uma vida inteira, se tratamentos não conseguirem resolver o problema.

Distúrbios da fala certamente prejudicam o desempenho das pessoas, em todas as profissões, mais especialmente naquelas em que o contato com o público é essencial.  E quando a pessoa dispõe de um poder que, para ser exercido, depende da fala?

Foi o caso de Albert, ou Bertie, como era chamado, o duque de York, que acabaria sendo coroado rei George VI, com a abdicação do irmão mais velho, Eduardo VIII.  O rei George VI era casado com Elizabeth, a futura rainha-mãe, e pai da atual detentora do trono britânico: a rainha Elizabeth.

Sabemos que o poder real, no Reino Unido, é, na verdade, um poder de representação e de união dos países que compõem a coroa britânica.  O poder de decisão, de fato, cabe aos políticos, eleitos pelo regime parlamentarista.  Isso só acentua a importância dos discursos reais, já que é, principalmente por intermédio deles, que se realiza o poder de representação do Estado.

O desafio maior do rei George VI foi enfrentar este problema na comunicação, que se tornaria ainda mais dramático com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939.  Ele reinou de 1936 a 1952, um período muito conturbado para a Europa e para todo o mundo.  O rádio era uma novidade importante, abrindo novos caminhos para a comunicação de massa.  Se Churchill foi a figura maior da Inglaterra, nessa época, o rei também jogava um papel importante.

O filme “O discurso do rei” trata da relação de Bertie, o rei George VI (Colin Firth) com seu terapeuta da fala, o plebeu australiano Lionel Logue (Geoffrey Rush) e da luta do rei para vencer seus problemas com a gagueira, que travava especialmente nos sons “k” e “q”.  Imagine isso para quem tem de pronunciar as palavras “king” e “queen”, frequentemente?

Lionel Logue se destacou no papel de terapeuta da fala pelos resultados que foi conseguindo com métodos pouco comuns na época.  Juntou sua experiência de ator e contador de histórias com atendimento a soldados que sobreviveram à Primeira Guerra Mundial, com muitos distúrbios desse tipo, para desenvolver um método de tratamento mecânico dos problemas da fala que, no entanto, não podia ignorar os componentes emocionais aí envolvidos: medo, ansiedade e insegurança.

Como pode se estabelecer uma relação terapeuta-paciente entre um plebeu australiano e o próprio rei da Inglaterra?  A resposta a isso é o grande achado desse filme.  É dessa relação improvável que resulta o êxito do rei em discursos decisivos, num período determinante para os destinos da humanidade, como foi a Segunda Guerra Mundial.


Tal tratamento da gagueira, além de exigir amplo esforço e determinação do rei, também exigia uma relação horizontal entre terapeuta e paciente, sem títulos, mesuras ou protocolos e sem a pompa e circunstância dos castelos da monarquia britânica.  Mais ainda: sem poder evitar o constrangimento de entrar no terreno perigoso das relações familiares da realeza e dos medos e hesitações do soberano.  Sem adentrar no campo emocional, não há terapia que funcione.  O que é especialmente delicado, no caso dos personagens em questão.

O papel da rainha Elizabeth (Helena Bonham Carter) como apoiadora discreta, torcedora e incentivadora teve destacada importância nessa história toda.  É desses relacionamentos e de sua consequência para a coletividade, que se alimenta “O discurso do rei”, um tema relevante e que extrapola os fatos que retrata, permitindo inúmeras reflexões que podem remeter a muitos outros lugares e épocas.

É um filme simples e, talvez por isso mesmo, tão eficiente e envolvente.  É difícil não se mobilizar com a angústia do rei.  Colin Firth se encarrega de nos comunicar tudo o que o personagem sente, com um desempenho notável.  Geoffrey Rush faz um Lionel Logue forte, abusado e profissional, com uma firmeza que nos faz crer que sua presença era mesmo indispensável ao lado do rei.  E Helena Bonham Carter, outra grande atuação no filme, consegue transmitir a força e ao mesmo tempo a discrição que o papel exige.

O filme tem 12 indicações ao Oscar.  Não lhe faltam méritos para isso.  Pode ser uma boa aposta para melhor filme.  Mas aí é com a Academia de Hollywood.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

SANTUÁRIO

                                   Antonio Carlos Egypto

                                                       
SANTUÁRIO (Sanctum).  Estados Unidos, 2010.  Direção: Alister Grierson.  Com Richard Rokburgh, Rhys Wakefield, Christopher Baker.  109 min.


É muito marketing e muita tecnologia para pouco filme.  Essa foi a sensação que eu tive, ao assistir, em 3D, “Santuário”.  Apresentado como o mais novo êxito de James Cameron, talvez melhor do que “Avatar” e se utilizando da mesma tecnologia inovadora. Pois bem, James Cameron é produtor do filme, que tem direção do australiano Alister Grierson e roteiro de John Gavin e Andrew Wight.  Portanto, vamos com calma.

“Santuário” é uma enorme caverna subaquática, com um grande conjunto de túneis em um lugar remoto, muito distante da chamada “civilização”.  Só uma parte dessa caverna é conhecida pelo ser humano.  A sua parte mais profunda tem seus caminhos inexplorados.  É um lugar aonde nenhum homem, ou mulher, chegou.  Exploradores experimentados buscam o desafio e a grande aventura de conhecer e dominar os caminhos dessa caverna.

O que seria essa grande aventura logo se transforma em uma luta de vida ou de morte, em que a sobrevivência se coloca como a única alternativa possível às pretensões humanas frente ao santuário em forma de caverna.  Brincar de Deus não é coisa para qualquer um.

Embarcamos todos, então, numa expedição aflitiva e prolongada, em que também há beleza e a tecnologia 3D mostra sua eficiência: deixou de ser brinquedinho de ocasião para ser recurso que enfatiza e valoriza a trama.

O problema, porém, é a trama: um tanto banal e sem imaginação para tal teconologia.  Se não se têm uma boa história, um bom roteiro e situações plausíveis, o que sobrevém é o incômodo, o tormento.  Não basta mergulhar no mundo subterrâneo para envolver o espectador.  Ou melhor, para ir além da aflição.  Quem gosta de pôr à prova sua ansiedade pode se fartar em inúmeras cenas (quase todas, aliás) de “Santuário”.  Mas quem se questiona sobre o que tudo isso significa e como se justifica vai ficar decepcionado.

Os personagens da história são mais do que frágeis, não têm consistência psicológica, são rasos e unidimensionais.  O pai, grande explorador de cavernas, e seu filho, aprendiz, são os únicos personagens que apresentam consistência, os demais são meros apêndices.  E, é claro, toda a dinâmica das relações se centra no conflito entre eles, na superação da rivalidade edípica, no amadurecimento do garoto e na flexibilização do pai, até então onipotente.  Mas também não há profundidade nisso.  E algumas atitudes são tão “clichês” que chegam a incomodar.

Belas locações nos arredores de Queensland, na Austrália, podem ser apreciadas e a caverna, vista do alto, é espantosa.  Pena que o filme se concentre tanto em interiores e em ambientes aquáticos.  É para mostrar que é tecnologia até debaixo d’água!

Quando a técnica se destaca muito, isso é mau sinal.  Em “Avatar” isso já se podia notar, mas a história se pretendia complexa, original e com muita ação.  Havia algo mais do que aquela tecnologia toda para apreciar e era possível até debater a sua mensagem.  Aqui, não: é tudo óbvio e bastante previsível, quando não totalmente inverossímel.  Afinal, exploradores experimentados não têm o direito de cometer erros primários.

Não tenho nada contra a tecnologia 3D.  Ela é sedutora, atraente e, no caso aqui, muito bem utilizada.  Não sei se terá o papel que a ela se atribuiu de salvar o cinema ou de popularizar novas engenhocas televisivas para uso doméstico.  Acho que vai cansar e se mostrar supérflua.  Já foi um modismo no passado e, apesar dos óculos hoje muito melhores, pode voltar a sê-lo.

Por ora, o que é legítimo esperar é que a qualidade dos filmes não se resuma à sua tecnologia.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O VENCEDOR

              Antonio Carlos Egypto


O VENCEDOR (The Fighter). Estados Unidos, 2010. Direção: David O. Russell. Com Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adams, Melissa Leo. 111 min.

O mundo do boxe com frequência está vinculado a histórias, tanto de exploração indevida dos esportistas, quanto de situações de decadência e superação.  Envolvem ainda histórias pessoais e familiares que costumam abordar falta de recursos e pobreza.

Esses elementos estão presentes no novo filme sobre boxe, “O Vencedor”, que já está recebendo prêmios importantes, como o Globo de Ouro, e se credenciando à disputa do Oscar.

Aqui, Micky (Mark Wahlberg) é o irmão mais novo e promessa de títulos de Dicky (Christian Bale), um boxeur decadente que vive de glórias recentes, mas passadas, e está fora dos eixos. Dependente de drogas, sem a menor disciplina para o exercício de uma atividade esportiva, ele pretende ser o mentor e treinador do irmão, a quem procura passar todos os truques do ofício. Ele e a mãe, assim como toda a família, decidem tudo sobre a carreira de Micky. E aí é que começa o problema.

Almejar sucesso numa carreira esportiva pressupõe, além de técnica e disciplina, muito profissionalismo, tomar as decisões adequadas no melhor tempo e lugar. Os laços familiares tanto ajudam no plano afetivo quanto atrapalham no plano racional. Essa será umas das questões de que se ocupará o nosso protagonista em suas frustrações, fracassos e superação de obstáculos.

Um desafio muito sério será o de tentar corresponder a expectativas de êxito, seguindo o caminho do irmão. E mais: resgatando a sua imagem e o seu prestígio perdidos. É um peso enorme e, em alguns casos, uma impossibilidade.

As questões colocadas pelo filme são muito interessantes e a história, apresentada como “baseada em fatos reais” (qual não é?) pretende reconstruir a trajetória factual que envolveu os pugilistas e sua família.

Christian Bale emagreceu muito para o papel do boxeur drogado e algo abobalhado e faz uma caracterização que rouba a cena. O seu personagem é o mais forte da trama. Seu insucesso, seu jeito errático e inconsequente de viver, são marcantes. Um peso, um estorvo e, ao mesmo tempo, um apoio ao personagem de Mark Wahlberg, aquele que foi talhado para ser campeão, se souber lidar com todas as pressões que o esperam. Até a relação com a namorada (Amy Adams) estará intensamente envolvida no drama familiar e profissional do boxeador.
O “Vencedor” é uma boa produção, um filme bem dirigido e com elenco de peso. Com os prêmios da indústria cinematográfica de Hollywood, tem tudo para uma carreira de sucesso. O tema do boxe talvez afaste muitas pessoas, sobretudo parte do público feminino.Mas quem gosta do esporte vai vibrar muito. As cenas das lutas são empolgantes, até para quem não curte muito a pancadaria do pugilismo, imagine para os aficionados.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cisne Negro

Tatiana Babadobulos

Cisne Negro (Black Swan). Estados Unidos, 2010. Direção: Darren Aronofsky. Roteiro: Mark Heyman, Andrés Heinz e John McLaughlin. Com: Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Winona Ryder. 108 minutos.

Cisne Negro” (“Black Swan”), longa-metragem que concorre a cinco indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme, Diretor e Atriz), tem o balé como foco. No entanto, não se trata de um musical, tal como “All That Jazz”, de Bob Fosse, ou “Dirty Dancing”, entre outros, mas de um drama psicológico sobre os bastidores, as disputas e intrigas que acontecem quando as bailarinas almejam determinado destaque na companhia de dança.

Na fita, que estreia nesta sexta-feira, 4, nos cinemas, Natalie Portman (“Closer – Perto Demais”) é Nina, uma dedicada e obsessiva bailarina que quer ser a Rainha dos Cisnes, no espetáculo “O Lago dos Cisnes”. Para isso, porém, precisa se soltar e fazer os dois papéis: a do cisne branco e a do negro. Enquanto o primeiro requer técnica, delicadeza e perfeccionismo no desenvolvimento da dan­ça, o segundo exige que a dançarina seja mais solta, sombria e agressiva.

Quem vai escolher qual das meninas do corpo de baile da companhia de Nova York substituirá a rainha, que até então era o lugar de Beth (Winona Ryder), é o diretor artístico Thomas Leroy, vivido pelo ator francês Vincent Cassel (“Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte”, “À Deriva”). Segundo o personagem, a história é “batida”, mas ele pretende fazer um novo espetáculo e, portanto, precisa de um novo rosto. Assim, as meninas vão ter de mostrar seus talentos, passar por cima dos problemas pessoais e, enfim, viver, de fato, a personagem que o balé requer.

Dirigido por Darren Aronofsky (“O Lutador”), o longa mostra, sobretudo, como vive Nina, uma garota que mora com a mãe (Barbara Hershey), uma ex-bailarina. Seu quarto, onde se passam muitas cenas, é recheado de ursinhos de pelúcia – um contraponto para mostrar que a “menininha” também quer ser mulher, quando se masturba, por exemplo. É também no seu quarto que ensaia as piruetas (seu ponto franco quando vai dançar o cisne negro).

Sem namorado e obedecendo às ordens da mãe controladora, Nina passa a maior parte do tempo ensaiando. É para lá também que vai a câmera de Aronofsky: a academia onde estão as bailarinas (cujas coreografias são do francês Benjamin Millepied).

As lentes do diretor também têm foco nas sapatilhas e nos pés detonados de tanto subir na ponta, sempre acompanhado da valsa dramática de Clint Mansell, autor da trilha sonora. Ao mesmo tempo em que Nina é dedicada no balé, tem pudor ao falar de sexo com o professor e sofre de uma alergia que faz suas costas sangrarem de tanto coçar.

A obsessão de conseguir o que quer lembra um pouco “Billy Elliot”, o garoto inglês que sonha em ser o bailarino do Royal Ballet. Mas o problema de Nina não é o preconceito, tal como enfrenta Elliot, mas sua insegurança de fazer bem-feito e lidar com as desavenças da sua maior concorrente, Lily (Mila Kunis), que está sendo bastante elogiada por Leroy, já que tem as características que o cisne negro exige.

É quando o longa se desenvolve de maneira incrível, principalmente porque começa a mesclar sonho e realidade, e ela tem visões sinistras, uma vez que o excesso de ensaios começa a fazer mal à bailarina. Repare nos pés que viram pés de pato, ou melhor, de cisne.

Ao mesmo tempo em que conquista o papel, ganha inúmeros inimigos, pois vive a pressão obsessiva para atingir a perfeição – custe o que custar.

Com roteiro de Mark Heyman, Andrés Heinz e John McLaughlin, a partir de história Heinz (em sua estreia em longas), a fita prende a atenção do espectador e, de alguma maneira, mexe com a plateia a partir de seus jogos psicológicos, intrigas, além de fazer mal ao estômago em algumas cenas cheias de sangue.

A pontada mais dolorida, porém, é causada pelas cenas finais, que fazem o espectador perder o fôlego ao sair da sala do cinema.

Natalie Portman, que dançou quando criança e depois ensaiou para o filme, mostra a evolução da personagem e o emaranhado psicológico em que vive dia após dia. Por sua performance, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz.

Neste ambiente competitivo, o espectador não vai precisar conhecer sobre o balé, ainda que há duas referências, como o russo Bolshoi e o inglês Royal. Porém, aquele que estiver atento, talvez seja capaz de decorar a coreografia, já que elas são incessantemente repetidas durante as quase duas horas de projeção.

Entre as difíceis fouettés (tipo de pirueta) na ponta e as constantes brigas entre as colegas, “Cisne Negro” é um drama tenso, que ganha reforço com as músicas. E, ao final do primeiro ato da temida apresentação, depois de ter acompanhado tanto esforço e dedicação da bailarina, a vontade é de também levantar e aplaudir a dança, tal como fazem os figurantes que foram assistir no teatro.