sábado, 28 de novembro de 2009

Julie & Julia

Tatiana Babadobulos

Nem pense em assistir ao longa-metragem "Julie & Julia", estreia desta sexta, 27, com o estômago vazio. Eu explico por quê. A fita é inspirada no livro de Julie Powell, uma americana que, sem saber o que fazer da vida (embora tivesse um cargo como secretária pública), resolveu escrever um blog (diário na internet) sobre culinária.

No entanto, não se trata de um blog qualquer. Com algum dote na arte de cozinhar, Julie se impôs um desafio: em 365 dias iria preparar 524 receitas que constam do livro de Julia Child, “Mastering the Art of French Cooking”, coescrito por Louise Bertholle e Simone Beck. A obra foi escrita enquanto ela vivia na Europa, mas principalmente enquanto estudou na famosa escola francesa Cordon Bleu. E agora vem a parte da fome: durante 123 minutos, as personagens vividas por Amy Adams ("Dúvida") e Meryl Streep ("O Diabo Veste Prada") cozinham delícias de dar água na boca.

Casada com um diplomata, Julia (Meryl, sempre ótima!) vai viver em Paris em 1949. Sem falar uma palavra em francês, descobre que na capital francesa sua paixão é a comida – e não os cobiçados vestidos das famosas maisons. Depois de começar a fazer um curso de chapéus, decidiu que iria se especializar na cozinha francesa. Ou melhor: iria aprender a fazer as delícias e ensiná-las aos americanos.

Para intercalar as cenas, a diretora Nora Ephron ("Sintonia de Amor"), também autora do roteiro, mostra a vida de Julie, que se passa em 2002, justamente quando ela decidiu escrever o blog. Entre as idas e vindas no tempo, as lentes de Nora contrastam os processos, como viveu Julia e como Julie dialogava com a especialista na cozinha, como foi o progresso do blog que virou livro, que virou filme.

"Julie & Julia" fala de amor, convivência com as pessoas, paixão por gastronomia, sobre ter um projeto na vida. Meryl Streep é um destaque à parte, pois, mesmo que faça uma personagem caricata, cheia de trejeitos, caras e bocas, voz aguda e esganiçada, ela mantém o bom humor e mostra que é uma atriz completa.

Do outro lado, Julie está prestes a fazer 30 anos, se encontra em um turbilhão, sem saber o que fazer da vida, ao lado do marido, editor de uma revista - aliás, é ele quem sugere o blog. E quando começa a escrever o diário, prepara receitas difíceis e diferentes e diz que nunca havia comido ovo na vida – e provou a receita de oeufs pochés de Júlia. Outro detalhe que ela aponta para a cozinha é quando diz que, quando nada dá certo durante seu dia, chega em casa e faz um delicioso bolo de chocolate! A escritora faz o tipo mimada (que chora quando a receita não dá certo), mas é persistente.

Na parte gastronômica do filme, o espectador poderá conferir como se faz um verdadeiro boeuf bourguignon, como se cozinham lagostas e como se costuram patos. As duas ambientações, ou seja, a década de 1950 e o ano 2000, são bem posicionados com objetos das duas épocas, figurinos e locais, principalmente os automóveis em Paris, os bistrôs... Aproveite o filme, delicie-se com a direção intimista de Nora e bon appétit!

2012

Tatiana Babadobulos

Está marcado no calendário maia, instituído séculos atrás, que, depois de 21 de dezembro de 2012, não há mais nada. Ou talvez haja. Enfim, é baseado no fato de que o mundo vai-se acabar a partir de um grande dilúvio que desenvolve o longa-metragem 2012”.

A fita se desenrola a partir de 2009, quando a alta cúpula dos Estados Unidos e de grandes nações do mundo começam a perceber o perigo que a humanidade corre. Então, os dias vão se passando, até que 2012 chega e tudo o que eles precisam fazer é colocar em prática o que determinaram tempos antes.

Para contar essa história, o diretor Roland Emmerich (de “10.000 a.C.”) usa como mote uma família comum americana. Jackson Curtis (John Cusack) é um escritor fracassado e separado de Kate (Amanda Peet), com quem teve dois filhos. Atualmente, ele faz bicos como motorista de limusine para um empresário russo (rico e egoísta) e ela se casou com um cirurgião plástico. Porém, durante um acampamento com os pequenos, Jackson conhece um “maluco” que anuncia que, de fato, o fim do mundo está chegando.

Ao retornar para casa, em Los Angeles, Curtis descobre que um terremoto passou por ali e tudo o que eles devem fazer é fugir para a China. Paralelamente, membros do governo americano estão se organizando para tomar o mesmo rumo juntamente com alguns cidadãos previamente selecionados, mas sem avisar aos demais. Então, o presidente (negro, vivido por Danny Glover, de “Ensaio Sobre a Cegueira”) desiste de ir e a correria começa.

2012” é um típico filme-catástrofe que mistura várias tragédias que encontra pelo meio do caminho, tal como já puderam ser vistas em
Inferno na Torre”, Titanic”, “Poseidon”, “O Dia Depois de Amanhã” (do mesmo diretor), “Guerra dos Mundos” (que também usa a família como gancho) e muitos outros.

Outro enfoque dado por Emmerich é extremamente político, pois envolve os altos escalões de vários países do mundo. Mas a liderança, como não poderia deixar de ser, é dos Estados Unidos. O local seguro escolhido para eles se salvarem não por acaso é a China, o país emergente que cresce sem parar. E a história segue sempre com foco na família, dando um caráter mais humano e de maneira a envolver o espectador e fazê-lo se enxergar naquela confusão, naquela catástrofe natural que acabará atingindo a todos.

Para reunir todas essas catástrofes, o diretor se valeu da tecnologia e dos inúmeros efeitos especiais para projetar terremotos, inundações, destruição de cidades inteiras. E essas inserções começam a ser forçadas, como o voo pilotado pelo cirurgião plástico a beira do caos total, as explosões etc.

Aos brasileiros, foi dedicada uma sequência bastante breve (que ilustra o cartaz de divulgação do filme), que é quando são transmitidas imagens da queda do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, direto da televisão local.

2012” não é um filme composto por diálogos bem-construídos, ao contrário. O arrasa-quarteirão serve mesmo para escancarar as imagens na tela grande e fazê-las contar a história. Neste quesito entra também o fato de não se precisar de atores excepcionais. Em todo caso, Cusack consegue interpretar direitinho o papel que transita entre o pai de família fracassado e o herói que vai salvar a família da catástrofe. Assim como Danny Glover mantém a serenidade para tomar a decisão tal como um presidente que quer fazer o bem para o povo americano.
O longa-metragem é cheio de clichês previsíveis e escancara as imagens impossíveis na tela. Durante duas horas e meia o espectador vai acompanhar cenas repletas de ação e terá o sentimento de que tudo ali é irreal. Porém, quem sai de casa para assistir a um blockbuster americano sobre o fim do mundo não pode esperar outra coisa.

terça-feira, 24 de novembro de 2009


RELANÇADO ÓTIMO LIVRO DE CELSO SABADIN



Antonio Carlos Egypto



Quem curte cinema, provavelmente também se interessa por ler sobre cinema, conhecer melhor a sua história e as suas origens. Aliás, é fascinante e cheia de lances curiosos e extravagantes a história do cinema, que remonta há pouco mais de um século.

Essa história, contada num texto leve e envolvente, está no livro do conceituado crítico de cinema Celso Sabadin: “Vocês ainda não ouviram nada – a barulhenta história do cinema mudo”. Na verdade, esse livro está sendo relançado pela editora Summus, depois de mais de dez anos esgotado. É em boa hora que acontece o seu relançamento.

Aqui, Celso Sabadin trata da era das invenções e dos precursores da criação do cinema, como Le Prince, Edison, Reynaud e Eastman, até chegar à famosa inauguração oficial do cinema na França, com os Irmãos Lumière. Trata do primeiro criador da arte cinematográfica, o inventivo Méliés, do cinema virando indústria, com Charles Pathé, e do surgimento dos grandes estúdios norte-americanos conhecidos até hoje, mas que já tiveram outros nomes, outras estruturas e comandos, como a Mutual/Keystone, Universal, Paramount, Fox, United Artists, Columbia e, depois, a MGM.

Aborda a Primeira Guerra Mundial, do ponto de vista do cinema e da hegemonia norte-americana, que se dará a partir daí, do nascimento da mítica Hollywood, do não menos mítico D. W. Griffith, que com seus épicos acabou estruturando a linguagem cinematográfica clássica.

E aí vem o fantástico mundo das comédias silenciosas de Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloyd, o Gordo e o Magro. O cinema de animação, ou desenho animado, é o indispensável complemento das sessões cinematográficas do passado. As grandes estrelas, como Mary Pickford, Gloria Swanson, Lilian Gish, Greta Garbo, e astros, como Douglas Fairbanks e Rodolfo Valentino, enchem de glamour um cinema que ainda não podia falar. Mas encantava -- e como.

E o Brasil como entra nessa história? Isso também está lá, assim como o brilhante cinema expressionista alemão, o cinema inglês do mestre Hitchcock, o surgimento de Disney, o cachorro Rin-Tin-Tin, até a chegada de Al Jolson, em “O Cantor de Jazz”, quando o cinema começou a falar, cantar e dançar e não parou mais, apesar da resistência inicial de alguns, como Chaplin.

A prosa de Celso Sabadin dá sabor a todas essas histórias e tem um caráter superinformativo, que revela um trabalho de pesquisa meticuloso, que vale a pena conhecer.

terça-feira, 17 de novembro de 2009


BALANÇO DA 33ª. MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO


Antonio Carlos Egypto


Como faço desde sempre, acompanhei a programação da Mostra, assistindo a pouco mais de 60 filmes. Isso me permite destacar algumas coisas muito boas lá exibidas. E como muitas delas vão entrar, ou até já estão, no circuito comercial dos cinemas, pode servir de indicação para quem não pôde ver muita coisa na Mostra.

Veteranos diretores marcaram presença com grandes filmes, como Alain Resnais, com “Ervas Daninhas”, da França (vide crítica postada em outubro/2009) e Pedro Almodóvar, com “Abraços Partidos”, da Espanha, em que ele reafirma seu universo autoral, enfatizando ainda mais a metalinguagem em sua obra. Manoel de Oliveira encanta com “Singularidades de uma Rapariga Loura”, de Portugal (vide comentário sobre a obra do diretor postado em novembro/2009). Andrzej Wajda, em “Alga Doce”, da Polônia, mostra um amor tardio e uma morte precoce na ficção, entrelaçados com história real vivida pela atriz protagonista do filme. Abbas Kiarostami inova mais uma vez com “Shirin”, do Irã, um filme que se compõe de expressões de atrizes que assistem a uma peça que nos é mostrada apenas pelo som, como uma rádionovela de antigamente. O resultado é muito bom.

Ken Loach não decepciona em “À Procura de Eric”, da Inglaterra (ver críticas postadas em outubro/2009), Marco Bellocchio conta com muita agilidade e beleza visual em “Vencer”, da Itália, uma história da amante (esposa?) e filho de Benito Mussolini, que é instigante e merece ser conhecida. Ainda mais que muito se trata de Hitler no cinema, mas pouco de Mussolini.

Destacaria ainda o trabalho do diretor Hirokazu Kore-Eda, em “Seguindo em Frente”, do Japão, drama familiar contido e filmado à moda de Ozu. Dois filmes do Oriente Médio se destacaram: “O Que Resta do Tempo”, do palestino Elia Suleiman, que trata de suas memórias familiares, ao mesmo tempo em que mostra a relação palestino-judaica com criatividade, leveza e até humor. Um feito. Muito mais pesado, mas também muito criativo, foi o israelense-libanês “Lebanon”, de Samuel Maoz, que simplesmente coloca o espectador dentro de um tanque de guerra, vendo o que soldados israelenses viam (e viviam) na guerra do Líbano, em 1982. A experiência é fantástica.

Do já veterano diretor dos Estados Unidos Paul Schrader, uma história alucinante e muito bem construída é “A Ressurreição de Adam”. Falando em estruturas bem construídas, eu apontaria, ainda, “Mother”, de Bong Joon-Ho, da Coréia do Sul. A experiência que “Polícia, Adjetivo”, de Corneliu Porumboiu, da Romênia, oferece ao público do cinema é também muito expressiva: vivencia-se o cotidiano, tedioso até, de um policial em crise de consciência. O diretor é o mesmo de “A Leste de Bucareste”, ótimo filme que está para ser lançado em DVD no próximo mês de dezembro.
Faltou abordar o filme iraniano “Ninguém Sabe dos Gatos Persas”, do competente diretor Bahman Ghobaldi, sobre a censura à música jovem no país e os absurdos pelos quais os músicos têm de passar. E, por último, a experiência criativa de Raya Martin em “Independência”, das Filipinas, fazendo um filme muito convincente, e que expõe o fazer cinematográfico, com pouquíssimos recursos. Mas este filme é experimental, assim como “Shirin”, o que torna improváveis suas exibições no circuito comercial.

domingo, 15 de novembro de 2009

MANOEL DE OLIVEIRA: REALIZADOR CENTENÁRIO





Antonio Carlos Egypto


Eu fui descobrindo a obra maiúscula do diretor português Manoel de Oliveira, pouco a pouco, a cada edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ele, praticamente, esteve em todas as edições da Mostra, a partir da 3ª., há 30 anos, quando foi exibido “Amor de Perdição”, adaptação do romance clássico de Camilo Castelo Branco, de 1863, em filme de 1978.

De lá para cá, é sempre uma agradável surpresa aguardar pelo novo filme do centenário realizador. Ele já completou 100 anos de idade e continua produzindo um filme por ano, tirando todo o atraso que o regime salazarista de Portugal lhe impôs. Manoel de Oliveira busca sempre realizar adaptações literárias que tragam uma reflexão nova e original sobre o mundo contemporâneo, a história, as crenças e costumes, com base em contrastes e estranhezas.

Em “Non, ou a vã glória de mandar”, de 1990, um grupo de soldados e um subtenente que estão numa patrulha conversam longamente na carroceria de um veículo militar, enquanto se deslocam, relembrando a história de Portugal por meio de suas derrotas, até chegar à Revolução dos Cravos, em 1974. Estranhíssimo e original. Uma situação improvável, que nos enche de informações relevantes, de forma irônica. Nunca esqueci essa admirável sessão de cinema.

Outro filme com uma cena marcante do mestre Manoel de Oliveira é “Viagem ao princípio do mundo”, de 1997, filme protagonizado por Marcello Mastroianni, que faz um ator nascido na França, filho de um português morto há muito tempo. Ele decide visitar a aldeia rural onde seu pai nascera, na esperança de encontrar uma velha tia. Ele a encontra, mas a tia não se conforma que ele seja seu sobrinho e não a entenda, não fale a sua língua. É uma dessas cenas inesquecíveis da história do cinema. Esse foi o último filme do grande ator italiano, que morreu logo depois das filmagens, embora tenha deixado bilhete ao diretor, dizendo que estaria à disposição para novos filmes, sempre que Manoel de Oliveira o chamasse.

Em “A carta”, de 1999, adaptando o romance do século XVII “La Princesse de Madame”, de La Fayette, o diretor faz uma leitura do texto, contando uma história de amor entre Mademoiselle de Chartres, do passado, e um cantor de rock, do século XX, Pedro Abrunhosa. Segundo o diretor, trata-se de “uma história passional, com fragmentos de uma visão social, que nos mostra a desordem que assola, com a mesma crueldade do passado, nosso mundo incorrigível”. Mais uma vez, original e profundo.

Em “Palavra e utopia”, filme de fruição mais difícil e erudita, Manoel de Oliveira presta tributo ao padre Antonio Vieira e seus famosos sermões. Em 1663, o padre é convocado a responder à Inquisição portuguesa sobre suas ideias a respeito da escravidão, da situação dos índios e das relações império-colônia. Mais uma aula de história e elementos para reflexão, em filme que contou com Lima Duarte no elenco.

O mito do rei português D. Sebastião, desaparecido em 1578 numa batalha, e cuja lenda indica que um dia voltará como aparição no meio da névoa, é relembrado em “O quinto império: ontem como hoje”, de 2004, adaptação do livro “El-Rei Sebastião”, de José Régio. A figura lendária do “Escondido” também aparece numa lenda muçulmana, segundo a qual um imã voltaria um dia montado num cavalo branco, numa manhã de neblina, para destruir o mal e restabelecer a paz e a harmonia entre os homens.

O “Espelho mágico”, de 2005, se baseia no romance “A alma dos ricos”, de Agustina Bessa-Luis, autora frequentemente visitada pelo cinema de Manoel de Oliveira. Aqui, a aristocrática Alfreda tem certeza de que a Virgem Maria aparecerá para ela, já que é uma mulher de fé e rica. Ela não aceita que a aparição da Virgem ainda não tenha acontecido em sua vida. Além disso, crê que Maria e Jesus teriam sido, na verdade, ricos como ela. Uma história sensacional e inusitada, com um elenco de peso internacional. Além de Leonor Silveira, Luís Miguel Cintra e Ricardo Trepa, lá estão também Michel Piccoli, Marisa Paredes e Lima Duarte.

Em “Um filme falado”, de 2003, Manoel de Oliveira reuniu também um elenco internacional. Leonor Silveira, Catherine Deneuve, Stefania Sandrelli, Irene Papas e John Malkovich atuam, cada qual falando sua língua, e num jantar todos se entendem, apesar disso. Outra cena antológica para a história do cinema. O filme se passa num navio, em que o cruzeiro visita lugares que marcam as diferentes culturas da civilização ocidental. Toda essa diversidade, cordialidade e entendimento sofrerão abalo decisivo ao final da jornada. Grande filme.

Haveria muitos outros a mencionar, como “O Convento”, de 1995, em que um pesquisador americano se dispõe a provar que Shakespeare teria sido espanhol e não britânico, ou “Vale Abraão”, de 1993, adaptação do clássico “Madame Bovary”, de Flaubert. Mas vamos incluir uma palavra sobre o mais recente filme de Oliveira: “Singularidades de uma rapariga loura”, de 2009.

“Singularidades...” é baseado em conto de Eça de Queiroz. Uma paixão que se dá a partir da sacada de um escritório e da janela de uma casa. Macário (Ricardo Trepa) tem sua vida transformada pela paixão por uma linda loira (Catarina Wallenstein) e seu maravilhoso leque. Até que sua singularidade transforma tudo, abruptamente. E é como esse pequeno (63 min) grande filme termina: abruptamente.

O escritório é tradicional, assim como as casas, a loja de tecidos e outros ambientes mostrados no filme. Embora os preços sejam em euro, é do Portugal mais tradicionalista e conservador que se está tratando: remete a Salazar e até ao século XIX, de Eça de Queiroz, como que a revelar que, a despeito do Portugal moderno e progressista, a tradição pesa e está fortemente presente, para o bem e para o mal.

Sei que muita gente que gosta de cinema ainda torce o nariz para os filmes de Manoel de Oliveira. Reclama dos seus tempos lentos ou de sua erudição. Outros não curtem o seu cinema, por considerá-lo muito literário. É uma pena, porque descobrir a obra desse mestre do cinema é um prazer que compensa qualquer esforço inicial que tenhamos de fazer para penetrar em seu território.