terça-feira, 22 de setembro de 2009

LIVRO DE LUCIANO RAMOS INDICA OS MELHORES FILMES NOVOS



Antonio Carlos Egypto


Quem tem o hábito de escolher filmes para assistir em DVD precisa se informar sobre o que vale a pena alugar ou mesmo comprar e ter em casa para ver e rever. E isso depende, é claro, dos interesses e preferências de cada um. No entanto, sem informações adequadas, não dá para fazer uma boa escolha. Isso é menos importante quando se refere aos clássicos do cinema, os filmes representativos de sua história ou filmes antigos que a gente já conhece por ter ido ao cinema, lido ou estudado sobre eles ou conversado com outras pessoas. Enfim, o próprio tempo conta para que certas informações nos alcancem.

Já quanto aos filmes recentes, isso é um pouco mais complicado para quem não tem o hábito de acompanhar os lançamentos semanais nos cinemas, ler sinopses e críticas em jornais, revistas, Internet ou por meio do rádio e da TV. Por isso, é muito bem-vindo o livro “Os melhores filmes novos – 290 filmes comentados e analisados”, de Luciano Ramos, lançado recentemente pela Editora Contexto.

Luciano Ramos é um crítico de cinema com larga experiência e trabalhos relevantes na área. Fomos colegas dos tempos de universidade no curso de Ciências Sociais da USP, nos anos de chumbo da ditadura militar: final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Eu me encaminhei para as áreas de Educação e Psicologia, embora o cinema tenha sido uma paixão permanente. Mas, no caso do Luciano, o cinema foi o seu “métier” profissional desde sempre.

Aprendi muito com ele, acompanhando seu trabalho crítico em veículos como o “Guia de Filmes da Abril Cultural”, nas décadas de 1980 e 1990, onde ele didaticamente estabelecia os critérios para avaliar filmes e atribuir estrelas, e estruturava os verbetes com as informações essenciais que precisam constar quando se cita ou indica um filme. Destaco o seu trabalho inovador no vibrante Jornal da Tarde dos primeiros tempos. E sua atuação como programador de filmes das TVs Bandeirantes e Cultura, nesta última com análises e debates muito proveitosos para quem gosta de bom cinema.

Quem sempre viu muitos filmes, exercendo a análise continuada deles, só pode ser um bom guia na hora de escolher o que se deseja assistir. Nesta obra, para selecionar os melhores filmes, Luciano Ramos analisou cinco aspectos: argumento, roteiro, elenco, produção e direção. E agrupou os filmes em ordem alfabética, dentro de capítulos que correspondem às principais categorias: aventura, brasileiros, comédia, documentário, drama, fantasia, história e infantil. E quem comprar o livro terá como bônus quatro atualizações “on line” que analisam e avaliam os filmes lançados a partir de 2009. Com isso, o livro permanecerá atual por pelo menos mais dois anos, já que essas atualizações serão feitas semestralmente.

A escolha dos 290 títulos, entre os melhores e mais representativos lançados entre 2005 e 2008, foi obtida a partir dos 1879 filmes lançados no Brasil nesse período. Certamente, Luciano, se não conseguiu ver todos, se informou sobre todos eles. E fez uso dos seus critérios objetivos, além da sua subjetividade. Mas seu gosto pessoal envolve muita sensibilidade, aguçada pelos anos de dedicação ao ofício, e leva em conta o espectador médio, não é um trabalho para ser apreciado apenas por especialistas. É um guia, um orientador, para que a escolha cinematográfica possa ser a melhor e mais adequada aos objetivos que cada qual tem, quando decide ver um filme, seja no cinema, seja em casa.

Como ele destaca o que cada filme tem de melhor, fica mais fácil escolher o que mais se adequa ao que cada um busca, pelo menos naquele momento em que se dá a escolha do que assistir.

Há, ainda, no livro uma lista mais enxuta – a dos 100 melhores, ou seja, os imperdíveis do período. Um tiro ainda mais certeiro para quem quer se atualizar com o que passou recentemente e merece ser conhecido. A maior parte dessa lista não deverá despertar grandes discordâncias. Pode-se lembrar de algum filme que não figurou aí e talvez mereça. O mais provável, porém, é que a gente encontre alguns filmes que nos pareçam supervalorizados, ao vê-los na lista.

Certamente, alguns dos filmes citados não me entusiasmaram, eu os consideraria perfeitamente dispensáveis. Não são muitos, mas há. Isso remete ao gosto pessoal, a diferentes critérios de avaliação ou a outros fatores imponderáveis, até mesmo inconscientes.

O exercício da crítica e, sobretudo, o amor pelo cinema alimentam alegres discordâncias e paixões duradouras, nesta seara onde Luciano Ramos se movimenta com tanta desenvoltura.

sábado, 12 de setembro de 2009

UMA CANÇÃO DE AMOR



Antonio Carlos Egypto


UMA CANÇÃO DE AMOR (Les Chants des Marriées). França/Tunísia, 2008. Direção: Karin Albou. Com: Lizzie Brocheré, Olympe Borval, Najib Oudghiri e Simon Abkarian. 100 min.


“Uma canção de amor” é um título inadequado para o filme da diretora francesa (de origem judaica?), Karin Albou. Ele poderia ter sido chamado de “Canções de casamento” ou mesmo “As canções dos casados”, embora este último não seja bom em português. Pelo menos, estariam mais adequados a um filme que, por meio de duas jovens, aborda questões relacionadas ao afeto e ao casamento, ao mesmo tempo em que nos situa no contexto histórico e das diferenças religiosas na Tunísia, em plena Segunda Guerra Mundial.

As duas adolescentes, Nour e Myriam, uma muçulmana e outra, judia, convivem harmoniosamente, assim como suas famílias, no mesmo ambiente de moradia. São muito amigas e as diferenças de seus mundos mais as aproximam do que as separam. Como costuma acontecer, uma gostaria de ter o que a outra tem. A muçulmana Nour, por razões religiosas, não pode frequentar a escola e se desenvolver culturalmente como sua amiga e, é claro, gostaria de fazê-lo. A judia Myriam desejaria poder noivar e casar com quem ama, como está prestes a acontecer com sua amiga Nour.

Estamos na Tunísia, em 1942. O país é um protetorado francês, que só conquistará sua independência em 1956, mais de dez anos após o fim da Guerra Mundial. A França pode ser vista como opressora, principalmente pela comunidade muçulmana e por suas mulheres. Mas a França, a esta altura, está ocupada e os alemães invadem a Tunísia. Se, para os judeus, isto vai significar uma perseguição brutal e o fim de seu patrimônio acumulado, para os muçulmanos, os nazistas podem até parecer simpáticos, ao menos por algum tempo.

Em 1943, os aliados retomarão a Tunísia, mas até lá as duas amigas serão levadas a grandes mudanças de vida, que as colocarão em polos opostos. A amizade será posta à prova e precisará de muito empenho e confiança mútua para resistir a tal intempérie.

A vida das mulheres no judaísmo e no islamismo, nesse período histórico, na África muçulmana, no caso, sob o domínio francês (e, por um período, também alemão) será mostrada por meio da relação entre as duas amigas. E a narrativa conduzida por Karin Albou, ao assinalar as diferenças, acaba por sublinhar as semelhanças. As mulheres, tanto as judias quanto as muçulmanas, têm sua vida limitada e controlada, espaços reduzidos de ação e decisão, que as impossibilitam, por razões diversas, de alcançar a autonomia e a felicidade. Uma vida de sofrimento e opressão masculina, familiar, social e religiosa é o que as espera. As circunstâncias da guerra mundial servem para transformar o drama em tragédia, exacerbando os conflitos. Mas o destino, na realidade, não depende delas, embora, em algumas circunstâncias, possa caber a uma mulher a sorte de conviver com um homem bom que lhe coube aceitar e daí até nascer o amor. Mas é a roleta da sorte que determinará isso.

“Uma canção de amor” é um filme que trata das relações de gênero com um olhar feminino, sensível e competente. A diretora, em seu segundo longa-metragem, mostra-se capaz de abordar com sutileza e sem qualquer dose de moralismo ou de militância feminista a realidade da mulher que vive num mundo que a oprime e limita.

Ela já havia tratado da questão feminina na comunidade judaica de Paris, no seu primeiro longa “A pequena Jerusalém”, que agora pode ser visto em DVD. Num mundo onde a diversidade cultural, social e religiosa se impõe e exige que estejamos abertos a compreender e lidar com as diferenças, filmes como esses são importantes e atuais, mesmo que sua trama nos remeta ao distante 1942, como é o caso de “Uma canção de amor”. Mais do que um filme histórico, é uma película que nos ajuda a refletir sobre algumas questões fundamentais da atualidade.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Longas de animação

Tatiana Babadobulos


O mercado de animação não para. “A Era do Gelo 3”, que estreou em 1º de julho, é o filme de animação mais visto nos cinemas de todos os tempos, além de ter superado “Titatic”, a maior bilheteria brasileira até então. Ao todo, o Brasil alcançou a marca de 9 milhões de espectadores, e somando cerca de R$ 80 milhões de arrecadação desde sua estreia (e até 18 de agosto).

Um dos motivos do sucesso parece ter sido a versão 3-D. Segundo o Filme B, 6,790 milhões de pessoas assistiram a “A Era do Gelo 3” em 2-D e 2,160 milhões, em 3-D, o que resultou em arrecadação R$ 50,57 milhões e R$ 28,24 milhões, respectivamente.

“A Era do Gelo 3” é dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, que começou como codiretor no primeiro filme, lançado em 2002. No segundo, em 2006, passou a dirigi-lo e, por consequência, dar mais destaque à sua criação, o esquilo Scrat, que continua tentando agarrar a noz, mas não apenas ela, uma vez que parece ter encontrado sua cara-metade.

Os outros personagens dos longas anteriores continuam, além de terem a companhia de novos, como os mamutes Manny (com voz de Diogo Vilela, na versão dublada) e Ellie (Cláudia Jimenez) esperam o nascimento de seu bebê; a preguiça Sid (Tadeu Mello) continua atrapalhada e engraçada, mas dessa vez ultrapassa os limites quando se apossa de ovos gigantes que vão dar origem a dinossauros; os gambás loucos por confusão Crash e Eddie; e o tigre dentes-de-sabre Diego (Marcio Garcia) começa a se questionar sobre sua capacidade de lutar, correr e de continuar convivendo com os amigos que agora estão vivendo em família.

Outra novidade é a doninha Buck (Alexandre Moreno), caçadora de dinossauros, que vive no mundo subterrâneo (onde moram os dinossauros), e acabam ajudando os personagens em sua missão.

Destaque para o bom humor do roteiro, uma vez que a história é capaz de arrancar boas (ou serão ótimas?) gargalhadas dos adultos também, além de uma trilha sonora impecável, com direito ao clássico de Lou Rawls "You'll Never Find Another Love Like Mine", "Alone Again (Naturally)", de Gilbert O' Sullivan, além de canções compostas por John Powell, como o tango "You'll Never Tango".

O longa-metragem, aliás, chega em DVD a partir de 30 de setembro. Imperdível.


Outra animação que está conquistando os espectadores é “Up - Altas Aventuras”, que se tornou a maior bilheteria de abertura (de 4 dias) de um filme da Disney-Pixar no país. O décimo longa-metragem do estúdio ficou em primeiro lugar no ranking, levando 525.505 espectadores aos cinemas e somando a renda de R$ 5.672.268. Em número de espectadores, o filme atingiu o terceiro lugar entre os longas de animação da Disney-Pixar no país, atrás apenas de "Os Incríveis" e "Procurando Nemo".

As 75 salas 3-D onde a fita foi exibida foram responsáveis por 40% do total de ingressos vendidos e 51% do total da renda. Os cinemas com projeção em 35mm, 243 salas, ficaram com 60% do total de público e 49% do total de bilheteria.

“Up - Altas Aventuras” é o primeiro longa-metragem da Pixar a ser lançando em 3-D e foi a primeira animação a abrir o Festival de Cannes, em maio deste ano.  A animação conta a história de Carl Fredricksen (dublado em português por Chico Anysio), um vendedor de balões de 78 anos que começa a lutar contra os investidores por conta da casa onde sempre morou. Isso porque eles querem comprá-la para construir mais um edifício no local.

Contudo, Carl é sentimental demais para ceder à pressão do capitalismo. A casa que conserva foi cenário do ninho de amor que construiu ao lado de Ellie, sua paixão desde a adolescência, pessoa com quem compartilhava os sonhos de aventura de um dia, enfim, conhecer as Cachoeiras do Paraíso, na América do Sul. 

Tal como a animação "Wall-E" (lançada em 2008), que pode ser classificada também como ficção científica e comédia romântica, a trama de “Up - Altas Aventuras” começa como romance, mas logo após a primeira parte vira drama. É quando Ellie adoece e morre, deixando Carl desolado, mas ao mesmo tempo com forças para colocar em prática o seu sonho de voar.
A partir de então, o longa-metragem de animação criado por Pete Docter (o mesmo de "Monstros S.A.") passa a ser uma aventura liderada pelo velho, que resolve o problema de tirar a sua casa do terreno cobiçado pelos investidores ao amarrar milhares de bexigas nela e fazê-la flutuar, tal como se estivesse, de fato, dentro de um balão.

Pouco antes de ele ter essa brilhante ideia, porém, bate à sua porta um menino de oito anos, Russell, que se diz explorador da natureza e, portanto, quer ajudar o idoso a atravessar a rua, cortar a grama do seu jardim, o que for, a fim de ganhar mais um distintivo em seu colete. A maior descoberta de Carl é que, assim que a casa parte para os ares, alguém bate novamente à sua porta e pede para entrar.

Embora ele seja ranzinza e reclamão (os trejeitos e os sons que emite em protesto, aliás, lembram os mesmos resmungos de Clint Eastwood, em "Gran Torino"), e prossiga vivendo de lembranças, já que Ellie continua presente – nas fotos colocadas nas paredes e nas estantes da casa, no caderno onde escreve desde criança as suas aventuras, na poltrona onde costumava se sentar –, inclusive em termos musicais, já que a trilha sonora que se repete quando ela aparece subliminarmente como personagem do filme, sua vida dá uma guinada e, no caminho da aventura, enfrenta o mal e seus próprios defeitos, conhece gente nova, convive com o garoto que poderia ser o neto que nunca teve, faz amigos bichos, como o cachorro falante Dug e o pássaro gigante Kevin. 

Com a utilização da técnica tridimensional para construir a animação, é possível observar os avanços do estúdio na construção dos personagens, da riqueza de detalhes dos pelos, das peles, das roupas etc. E também do 3-D, que com a utilização dos óculos especiais é possível perceber alguns elementos saltarem da tela, mas o espectador tem principalmente a ilusão de profundidade nas cenas aéreas, que são deslumbrantes e contam com cenários incríveis. 

“Up - Altas Aventuras” não é o melhor filme da Pixar, no entanto, há de se dizer que se trata de uma produção bem-feita, que utiliza alta tecnologia para o desenvolvimento dos personagens animados por computador, com senso de humor peculiar, principalmente por conta do humor ácido do protagonista que se contrapõe à inocência da criança, e conta uma história emocionante do início ao fim.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os Normais 2

Tatiana Babadobulos

O maior lançamento nacional, em número de cópias (400 no total), "Os Normais 2 - A Noite Mais Maluca de Todas" estreou nos cinemas brasileiros na sexta-feira, dia 28 de agosto, e liderou o ranking do fim de semana nas bilheterias brasileiras. Ao todo, segundo o Filme B, o longa-metragem sobre as histórias de Rui e Vani rendeu R$ 3,5 milhões e foi visto por 361 mil espectadores.

Na fita, os personagens principais, vividos por Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, aparecem em cena cantando e dançando "Livin' La Vida Loca", de Ricky Martin, enquanto os créditos aparecem. Eles estão em um karaokê e, na sequência, brigam. Assim, os dois dão continuidade ao enredo que se passa em uma noite (daí o subtítulo do filme), pois percebem que o noivado que já dura 13 anos está morno e ambos querem dar uma aquecida no relacionamento fazendo um "ménage à trois" (relacionamento sexual entre três pessoas).

A partir daí, eles começam a procurar a terceira pessoa que poderia participar do grupo. A primeira é Drica Moraes, que faz o papel da prima de Vani, que talvez topasse a brincadeira. E depois há outras, como Danielle Suzuki, que virou bicampeã de kickboxing (e não bissexual); Claudia Raia, como uma perua mal-humorada, mas que os convida para conhecer sua banheira de hidromassagem; Mayana Neiva, a francesa que está procurando uma ménagère (ou seja, uma faxineira); Alinne Moraes, como uma prostituta.

A narrativa é bem parecida com o que seria um capítulo estendido (tem menos de 80 minutos), a não ser a pronúncia de muitos palavrões pelos atores e cenas de mau gosto, como quando começam a bater em uma idosa no meio da confusão (ainda que seja uma cena ingênua).

Com orçamento de R$ 5 milhões divididos entre a Globo Filmes e a Imagem Filmes, a expectativa é que a bilheteria seja parecida com o primeiro filme, por volta de três milhões de espectadores. Caso o sucesso seja atingido, há planos de voltar com o seriado para a televisão, além da terceira sequência. Outra negociação é a Globo que está fazendo diretamente com a Sony americana, que pretende vender o formato para o prime time (o horário nobre deles).

Com o sucesso das comédias nacionais no ano, como "Se Eu Fosse Você 2", "A Mulher Invisível", "Os Normais 2" tem o seu lugar cativo. Porém, prepare-se para dar duas ou três risadas e conferir uma fórmula desgastada, embora a química e o timing para a comédia dos atores continuem ótimos.