domingo, 26 de abril de 2009

Divã

Tatiana Babadobulos

Adaptação do livro de Martha Medeiros, que já foi adaptado no teatro, "Divã" agora estreia nos cinemas com Lília Cabral no papel principal. Dirigido por José Alvarenga Jr., o mesmo responsável por "Os Normais - O Filme". Além dela, completam o elenco José Mayer, Reynaldo Gianecchini e Cauã Reymond.

"Divã" trata da história Mercedes, uma carioca de 40 anos (ou talvez mais), que está passando pela crise da idade, e resolve procurar um analista para ver se algo está errado em sua vida.

O filme começa exatamente neste ponto. Quando ela entra no consultório do dr. Lopes (que não aparece, está sempre de costas, apenas fazendo gestos com a cabeça). Os diálogos, que na verdade são monólogos, são feitos pela protagonista que adivinha e informa ao espectador o que o especialista está dizendo/pensando.

Intercalando imagens do consultório com a própria vida, o filme vai mostrando aos poucos quem é Mercedes, o que ela faz, com o que trabalha, como vive e o que a perturba. No decorrer da fita, o espectador vai descobrir que ela é casada com o personagem interpretado por José Mayer, que geralmente não lhe dá atenção, uma vez que suas "crises acontecem sempre nas finais do futebol". O casal está junto há mais de vinte anos e tem dois filhos. Professora de matemática, Mercedes dá aulas particulares e, nas horas vagas, se dedica às artes plásticas, sua atual vocação.
Filosofando a respeito dos desejos que tem, informa que pinta aquilo que lhe falta. Na terapia, ela também trata da morte da mãe que aconteceu quando tinha apenas oito anos. E depois ela parte para o ataque, para acabar com aquilo que lhe traz infelicidade.

Nem tudo é drama, porém. Embora o longa trate das dores de se ter 40 anos, de ter tantos anos de casada, a personagem aproveita esses percalços para fazer graça, para se livrar de alguns preconceitos e de coisas convencionais. Ao contrário. Mercedes é fora do comum. Ao lado da amiga Mônica (Alexandra Richter), as duas comentam sobre como lidar com os respectivos maridos, por exemplo, quando eles arrumam uma amante. E é a partir dessas conversas que ocorre o desenrolar da história, que vai acompanhar a vida das duas que possuem personalidades opostas.

Um dos momentos que tenta ser engraçado (mas não consegue ser o tanto quanto deveriam) é a passagem que acontece no salão de cabeleireiros e o profissional praticamente defende uma tese do motivo pelo qual a cliente lhe pediu para repicar o cabelo. A tentativa da explicação é boa, mas faltava um pouco mais.

Outra cena que não atinge a expectativa é a cena da boate, quando ela vai para a balada com o garotão e começa a dançar, falar gírias sem parar, de modo que ambos pareçam ter a mesma idade. Um pouco mais adiante há uma cena dantesca que se passa no banheiro e chega a ser risível.

Alvarenga peca em alguns momentos, mas principalmente porque ele pincela demais, e não se aprofunda em nenhuma situação. O mesmo acontece quando Mercedes conhece Theo (Gianecchini) e Murilo (Reymond). E esse é um dos problemas do filme, que não prende a atenção do espectador.

"Divã" é uma história caricata, feita de maneira convencional, com personagens previsíveis. Lília Cabral consegue segurar a trama quando está em cena, empresta sua personalidade e sua experiência a Mercedes, mais ainda assim lhe falta algo que não foi inserido no contexto para dar a liga perfeita.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Um Louco Apaixonado


Tatiana Babadobulos

Na bilheteria, “Um Louco Apaixonado” (“How to Lose Friends & Alienate People”) não foi nada bem. Estreou em 27 de março e, menos de um mês depois, ele já saiu de cartaz. O problema, em minha opinião, não é porque o filme é ruim. Ao contrário. Gosto do humor inglês interpretado pelo protagonista Sidney Young (Simon Pegg). No filme, ele faz um jornalista da revista Post Modern Reviews, cujo esporte favorito é ironizar e flagrar gente famosa em atos obscenos. A redação funciona em uma sala bagunçada. No entanto, sua sorte começa a mudar quando o editor de uma revista de grande circulação em Nova York o convida para trabalhar e levar o seu humor ácido junto.

Daí pra frente já dá para imaginar o que vai acontecer, mas o mais interessante são os diálogos engraçados, o bom humor presente quando está em cena, as confusões que causa com sua musa Sophie Maes (Megan Fox). Mas é com a jornalista Alison Olsen (Kirsten Dunst) que ele aprende a lidar com as celebridades norte-americanas e a correr atrás do seu verdadeiro sonho.

Dirigido por Robert B. Weide, que praticamente está estreando no cinema, uma vez que ele havia feito séries de televisão e apenas um filme, que na verdade foi um documentário em preto e branco, um dos problemas de “Um Louco Apaixonado”, em primeiro lugar, foi a troca do título.

Não me canso de perguntar por que a distribuidora brasileira não optou pelo título literal, uma vez que a fita é baseada em um livro que também foi publicado no Brasil sob o título “Como Fazer Inimigos e Alienar Pessoas”, de Toby Young (Editora Record, 384 páginas, R$ 41)?

Não li o livro ainda (ele está na mesa de cabeceira), mas o filme tem um final piegas. Durante o tempo todo ele vai bem, mas no final escancara a pieguice na tela. Ainda assim, é um filme divertido, bom para rir das trapalhadas do personagem que tira sarro das celebridades, usa o humor sarcástico para debochar de Hollywood e das revistas de fofoca. Pena que o público não entendeu e, portanto, não prestigiou a produção.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

SINÉDOQUE – NOVA YORQUE



Antonio Carlos Egypto

Se a vida, como se costuma dizer, é uma representação e se desempenhamos papéis continuamente, que tal transformá-la numa grande peça de teatro, que se amplia sempre e ocorre em paralelo à própria vivência? É o que se propõe o diretor teatral Caden Cotard, vivido pelo ator Philip Seymour Hoffman, no filme “Sinédoque – Nova Yorque”, de Charlie Kaufman, de 2009.
Sua peça-vida extrapola qualquer limite, embaralha atores e personagens, uns interferindo nos outros, quem sabe em busca de um sentido. O fato é que a transitoriedade da vida nos leva a tentar desesperadamente entender a morte e o papel que desempenhamos enquanto estamos vivos. E é humano pensar em produzir algo grandioso que possa marcar a passagem de cada um por essa vida, com todos os riscos aí implicados. É disso que se trata.
O primeiro filme dirigido por Charlie Kaufman (roteirista de “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”, de 2004, e “Quero ser John Malkovich”, de 1999, entre outros) é intrigante o suficiente para nos fazer pensar na existência, seu sentido e sua finitude. É, portanto, um produto aberto à reflexão. Com efeito, sua trama dispensa o realismo, mas não a verossimilhança com as vivências humanas. Não é um sonho ou um delírio, embora haja elementos tanto oníricos quanto delirantes na sua expressão. Conta uma história, na medida em que a vida de qualquer um, seus percalços, indecisões, medos e dúvidas, acaba sendo sempre uma história. Ainda que comporte diferentes visões, compreensões, percepções, e possa ser o relato das omissões, do que se pretendeu fazer e não se fez, do que se imaginou, se desejou ou se confundiu.
Uma galeria de mulheres frequenta a vida e a peça de Caden e seus problemas de relacionamento, dando margem a papéis femininos muito curiosos e variados. Catherine Keener, Samantha Morton, Michelle Williams, Emily Watson, Diane West, Jennifer Jason Leigh e Hope Davis são as atrizes que dão vida, e competentemente, a esses personagens.
E, afinal, por que sinédoque? Uma figura de linguagem que joga com a idéia do todo pela parte ou vice-versa, ou que faz a comparação de coisas que ocorrem simultaneamente, como a peça e a vida. A peça pela vida ou a vida pela peça. Está claro? Também não é necessário que fique claro, já que o próprio diretor espera que cada espectador faça sua leitura do filme e conclua as coisas mais diversas. Ele tem razão e isso dá a dimensão das possibilidades desta película muito estimulante e que ultrapassa as medidas do mero entretenimento.