terça-feira, 17 de outubro de 2017

DICAS DE FILMES DA 41ª. MOSTRA


Antonio Carlos Egypto


Dentre os filmes que constam da programação da 41ª. Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que já pude ver, destaco alguns que merecem atenção.

FEIO (Ugly), da Ucrânia, é um filme que quem gosta de cinema certamente vai apreciar.  Plasticamente belo, explora bem os espaços, a luz, as fortes sensações e sentimentos que procura mostrar.  Não constrói uma narrativa linear, nem deixa tudo claro e compreensível.  Mas encanta pela filmagem, pela estética.  O diretor, Jiri Rechinsky, está em seu segundo longa, primeiro em ficção.  Nascido no Turcomenistão, criado na Ucrânia e vivendo na Áustria, é um nome para acompanhar.  Começa muito bem.


FEIO

SCARY MOTHER, da Geórgia, radicaliza o dilema de uma mulher com talento para a escrita, que terá de escolher entre desenvolver esse talento ou se apequenar numa vida familiar que a reprime.  Os caminhos são difíceis, dentro e fora de casa.  O mercado não é receptivo em tempos de crise.  Só mesmo uma grande paixão para algo acontecer.  A direção de Ana Urushadze, em seu primeiro longa, é competente em revelar o conflito feminino básico entre não só a vida familiar e a profissional, mas entre a acomodação e a transgressão, com tudo que acompanha as decisões radicais.

UM CINEMA EM CONCRETO, documentário argentino, de Luz Ruciello, em seu primeiro longa, dialoga com um dos destaques brasileiros do último É Tudo Verdade: o filme “Cine São Paulo”.  Aqui também descobre-se um personagem apaixonado, sem medida, pelo cinema.  Só que, no caso, pela construção do cinema como espaço de sonho.  E haja persistência para viabilizar concretamente isso!


UM CINEMA EM CONCRETO


JERICÓ, O INFINITO VOO DOS DIAS, de Catalina Mesa, da Colômbia, em seu segundo longa, é um documentário que retrata, com sensibilidade e respeito, a vida de várias mulheres do povoado colombiano de Jericó, seus pensamentos, histórias de vida, suas crenças, sua religiosidade marcante, seu humor e o conhecimento que desenvolvem num ambiente bastante limitado e na pobreza. 

O DIA DEPOIS, da Coreia do Sul, é mais um filme de Hang-Sang-Soo, talvez o mais produtivo cineasta autoral em atividade no mundo.  É um filme atrás do outro (ainda está em cartaz “Na Praia, À Noite, Sozinha”).  São filmes simples, geralmente com personagens conversando em torno da mesa, comendo e, principalmente, bebendo, resolvendo conflitos.  Portanto, de realização rápida.  Só que ele faz muito e faz bem.  Ele sempre encontra um clima apropriado para desenvolver suas histórias e um elenco que convence, ao interpretar gente real, com quem cruzamos amiúde por aí.  Esta narrativa de infidelidade e engano é muito boa.


1945

1945, da Hungria, dirigido por Ferenc Tórók, nos remete a um povoado húngaro que, com o fim da Segunda Guerra Mundial, se sente ameçado em seu poder local e na posse de bens, pela volta dos judeus sobreviventes da guerra.  A filmagem, muito boa, em preto e branco, remete ao medo, à ganância, ao conflito ético, enfatizando que é o que está na cabeça das pessoas o que conta, não a percepção da realidade objetiva.

CUATREROS, de Albertina Carri, da Argentina, constrói uma narrativa que nos mostra o filme sendo realizado, a partir da descoberta de textos e imagens relacionados ao trabalho do sociólogo Roberto Carri, pai da diretora.  Uma profusão de informações é apresentada verbalmente – verborragicamente, eu diria – enquanto a tela, frequentemente, está dividida em três ou quatro imagens distintas.  Impossível captar tudo.  Ainda assim, é um trabalho documental relevante, que teria ganhado muito com uma edição mais apropriada.



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