terça-feira, 19 de setembro de 2017

COMO NOSSOS PAIS


Antonio Carlos Egypto




COMO NOSSOS PAIS.  Brasil, 2017.  Direção: Laís Bodansky.  Com Maria Ribeiro, Clarice Abujamra, Paulo Vilhena, Felipe Rocha, Jorge Mautner.  102 min.



O principal vencedor do 45º. Festival de Gramado é o novo trabalho de Laís Bodansky, “Como Nossos Pais”.  O filme é muito competente, tem grande capacidade de comunicação com o público, merece ser conhecido e apreciado.

A abordagem é de cunho familiar: todas aquelas questões que dizem respeito às relações conjugais, às crises do casamento, às insatisfações, aos ciúmes, às relações com os pais e com os filhos, às histórias que ficaram no passado e que irrompem quando menos se espera.  O que ficou guardado por muito tempo, o que é insinuado e não dito, a busca por verdade no convívio.  Enfim, um painel bastante amplo, que possibilita uma identificação fácil com uma plateia de classe média urbana, nos dias de hoje.

O filme trabalha essas relações sob a perspectiva de gênero, a partir de fortes personagens femininas.  Rosa, em grande interpretação de Maria Ribeiro, e sua mãe Clarice (Clarice Abujamra) enfrentam os desafios de ser mulher, as pressões e vicissitudes da vida, em momentos diferentes de nossa história recente, e se enfrentam.  Elas conduzem toda a trama.  Seus conflitos trazem à tona a complexidade da luta feminina.




Pontos fortes do trabalho são o roteiro de Laís Bodansky e Luiz Bolognesi, os personagens consistentemente concebidos, sobretudo os femininos, e as atuações do elenco.  Os diálogos são muito ricos, reveladores da dinâmica dos problemas, e bem humorados.  Por falar em bom humor, Jorge Mautner realiza, no papel de Homero, um dos mais bem compostos e engraçados personagens da recente safra do nosso cinema.  Esse pai lunático, completamente fora da realidade, mas cheio de sinuosidades e de amor para dar, é absolutamente cativante.

“Como Nossos Pais” é um drama, mas que nos faz rir em muitas oportunidades.  Não só quando está em cena Jorge Mautner, mas em muitas situações em que a ironia se faz bem presente.  As incoerências que todos temos falam mais alto e provocam aquela identificação com os personagens que acaba por nos envolver intensamente no realismo dos relacionamentos familiares que marca a trama do filme.  E, claro, produz reflexão de boa qualidade.

A diretora Laís Bodansky já tem um trabalho sólido no cinema brasileiro, com destaque para “Bicho de Sete Cabeças”, de 2000.  Aqui, ela reafirma suas qualidades como cineasta.





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