sábado, 25 de fevereiro de 2017

TONI ERDMANN


Antonio Carlos Egypto




TONI ERDMANN (Toni Erdmann).  Alemanha, 2016.  Direção e roteiro: Maren Ade.  Com Peter Simonischek, Sandra Hüller, Ingrid Bisu, Trystan Pütter, Michael Wittenborn.  162 min.



Há muitas maneiras de encarar a vida, por exemplo, permitindo-se ser tragado pelo trabalho, em nome de uma ambição profissional.  Vive-se um presente estressado, desgastante, em busca de um possível sucesso futuro, ou de simples expectativa ou esperança a respeito dele.  Esse parece ser o caso da personagem Inês (Sandra Hüller), consultora de grande empresa multinacional, sediada em Bucareste, na Romênia.

O pai de Inês, Winfried (Peter Simonischek), tem outra pegada de vida.  Coloca o humor em primeiro plano, faz suas brincadeiras, muitas vezes irritantes, sem se incomodar com isso.  Encarna outro personagem, para provocar as pessoas, para ajudá-las e para se divertir.  É um fanfarrão.  A idade já lhe permite ser mais solto e debochar de coisas que parecem muito sérias, no mundo dos negócios.  Ou ele terá tido sempre tal inclinação, mas agora tem menos a perder.




De qualquer forma, são dois modos muito diferentes de viver que, como seria de se esperar, não podem dar química e tendem à fissura quando não à explosão.  Esse embate entre dois mundos é a matéria-prima da comédia dramática, muito bem conduzida pela diretora e roteirista Maren Ade, “Toni Erdmann”, filme alemão selecionado para a disputa do Oscar de filme estrangeiro e que já faturou muitos prêmios mundo afora, desde que foi lançado em Cannes.

Implodidas as convenções sociais, o questionamento que fica é sobre o que vale realmente a pena fazer da vida e o melhor jeito de tocá-la, o que perpassa toda a narrativa.  Um destaque para a fugacidade da chamada felicidade, que é feita de momentos que algumas vezes passam sem serem percebidos, para só depois serem reconhecidos como tal.  Ou que a gente não permite que aconteçam, talvez por medo do ridículo.




Toni Erdhmann é um personagem criado por Winfried para interagir com a filha de um outro modo, explorando outras possibilidades, uma tentativa bem humorada de enfrentar um impasse.  É daí que vem a comicidade do filme.  Um tipo de humor um tanto estranho, exploratório, que vai incomodar algumas pessoas. Mas que tem a vantagem de possibilitar as muitas surpresas e reviravoltas que a trama apresenta.  E se não chega a levar a muitas gargalhadas, a farsa e a ironia que esse humor carrega produzem risos com frequência. 

Interpretações soberbas do elenco, em especial os protagonistas Peter Simonischek e Sandra Hüller, dão sustentáculo a um trabalho bem estruturado e construído a partir de um roteiro original, inspirado no próprio pai da diretora Maren Ade.  Ela, de fato, concebeu um grande personagem, uma figura bem inusitada e curiosa.  Capaz de encantar alguns, irritar outros, mas que não produz tédio ou indiferença.  Isso, apesar da duração excessiva do filme, de quase três horas.  Não precisava tanto, mas não cansa ou aborrece.  Tem bom ritmo e fluência. 

O final do filme é simples e perfeito.  Coroa de modo muito inteligente o que a trama desenvolveu ao longo de todo esse tempo. 


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