sábado, 23 de janeiro de 2016

TRUMBO - LISTA NEGRA

Antonio Carlos Egypto




TRUMBO – LISTA NEGRA (Trumbo).  Estados Unidos, 2015.  Direção: Jay Roach.  Com Bryan Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, John Goodman, Michael Stuhlbarg, Louis C. K..  124 min.



Dalton Trumbo foi um dos mais bem-sucedidos roteiristas da história de Hollywood. Escritor muito talentoso, era capaz de produzir desde histórias banais, com personagens sem sentido, em função de atender às expectativas de lucro fácil dos produtores, a obras elaboradas, sofisticadas, passando por épicos, blockbusters e outros tipos de sucessos populares.  Aliou-se ao Partido Comunista Americano, e filiou-se posteriormente, num período em que, por conta da Segunda Guerra Mundial e suas consequências, buscava-se melhorar, transformar o mundo.




Ocorre que os Estados Unidos, no pós-guerra, passaram a desenvolver a paranoia anticomunista que seria sua marca na Guerra Fria e que atingiu em cheio também a América Latina, nos anos 1960 e 1970, sustentando as ditaduras que por aqui vigoraram.

A partir de 1947, o chamado Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso dos Estados Unidos voltou sua atenção para Hollywood e pretendeu extirpar de seu meio os que eram denunciados como comunistas.  E o fez marcando-os, publicamente, e impedindo-os de trabalhar em seu ofício e, em vários casos, encarcerando-os por algum tempo.  Foi precisamente o caso de Dalton Trumbo, cuja história é narrada no filme “Trumbo – A Lista Negra”, dirigido por Jay Roach.




O filme procura mostrar quem foi esse personagem, suas relações profissionais e familiares, suas crenças e, sobretudo, a luta que travou para poder trabalhar e viver, dando trabalho a outros talentosos escritores banidos, além do permanente combate pelo fim da lista negra.  Por mais de uma década, ele atuou clandestinamente, sem poder assinar seus roteiros e, ironicamente, venceu o Oscar por duas vezes, com os filmes “”A Princesa e o Plebeu” (1953) e “Arenas Sangrentas” (1957), impedido de aparecer para receber o prêmio, que não estava em seu nome.  Só com “Spartacus”, dirigido por Stanley Kubrick, com Kirk Douglas, e “Êxodus”, dirigido por Otto Preminger, ambos de 1960, seu nome pôde voltar a figurar nos créditos e a abominável lista caiu por terra.  Não está no filme, que vai até 1970, mas um dos mais importantes trabalhos de Dalton Trumbo no cinema foi a adaptação de sua obra literária “Johnny Vai À Guerra”, de 1939, que ele mesmo dirigiu em 1971.  É um dos mais importantes filmes sobre guerra já feitos.




“Trumbo – A Lista Negra” funde cenas dos filmes originais a filmagens feitas agora, tanto em preto e branco como a cores, de um modo muito eficiente.  Tem atuações marcantes do trio central de atores: Bryan Cranston, como Trumbo (indicado ao Oscar 2016 como ator), Diane Lane, como sua mulher, Cleo Trumbo, e a vilã da história, representada pela personagem Hedda Hopper, ex-atriz do cinema mudo e colunista de sucesso, que combateu ferozmente os chamados traidores comunistas de Hollywood.  O papel coube à grande Helen Mirren, que faz a vilã em um figurino excêntrico, com um chapéu diferente a cada cena, cada um mais extravagante do que o outro.  E roupas de igual teor.  O figurino e a caracterização de época são outro ponto alto do filme, por sinal.  E seu senso de humor, também.

Trata-se, no entanto, de um filme político, e muito atual.  A paranoia anticomunista continua por aí, travestida de outros nomes, às vezes.  Mas nada mudou, essencialmente.




Em relação ao filme e a seu papel nele, Helen  Mirren declarou que: “Qualquer coisa que cheire a socialismo é um anátema absoluto.  O diálogo político não mudou muito.  Há, ainda, uma batalha entre aqueles que acreditam que temos a obrigação de cuidar das pessoas que são vulneráveis e aqueles que acreditam no individualismo e autodeterminação”.

 Ou seja, esquerda e direita continuam sendo posicionamentos muito claros, em que pese o desejo de embaralhá-los, que se faz com frequência.  As práticas políticas se repetem à exaustão, incluindo o ódio e a intolerância, simplistas e grosseiros, que fizeram parte do legado do período macartista de caça às bruxas, que os Estados Unidos viveram quando Dalton Trumbo realizava seu trabalho, com muito esforço e dedicação, em Hollywood.




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