sábado, 16 de janeiro de 2016

SPOTLIGHT _ SEGREDOS REVELADOS


Antonio Carlos Egypto




SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS (Spotlight).  Estados Unidos, 2015.  Direção: Tom McCarthy.  Com Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Liev Schreiber.  129 min. 


Jornalismo investigativo sério é uma das mais importantes armas de sustentação de uma democracia.  Exige fidelidade leonina aos fatos, meses de pesquisa indo atrás de indícios que possam resultar em denúncia relevante, e liberdade para os profissionais designados para a investigação.  Independência, portanto, também dos esquemas e interesses econômicos da publicação.  Se ela estiver direcionada para o leitor e for capaz de contrariar alguns interesses imediatos, isso é teoricamente possível, como parece ter sido o caso relatado no filme “Spotlight – Segredos Revelados”.




Na prática, isso é tão raro nos dias de hoje que soa como uma utopia.  Fundamental e necessária, mas utopia.  No caso da imprensa escrita, mais difícil ainda: os grandes jornais e revistas estão perdendo a relevância, os leitores e seus profissionais mais competentes, enxugando e desaparecendo.

É, sem dúvida, bonito o trabalho jornalístico do Boston Globe e sua equipe investigativa, que levou à denúncia bombástica da pedofilia dos padres, do abuso sexual contra crianças, permanente e recorrente, encoberto pela Igreja Católica durante muitos anos.  Veio, então, a denúncia, nos Estados Unidos, na Irlanda e em muitas outras partes do mundo.  Revelou-se que o problema era, e é ainda, sistêmico.  Reflete um funcionamento antinatural da estrutura da vida religiosa, baseada no celibato.  Mas como sempre acontece a impunidade garante a continuidade dos crimes, suas graves consequências para as pessoas atingidas e suas famílias, geralmente recrutadas onde as maiores carências se manifestam.  E o interesse de manter as coisas como estão, em termos de estrutura religiosa, e econômica, faz com que nada mude até que algo se rompa.




Foram décadas de existência dessas questões, conhecidas da cúpula da Igreja, e de tanta gente importante ao redor do mundo, sem que nada de significativo tivesse sido feito.  Trocam-se os clérigos e seus superiores coniventes de lugar, pressionam-se os governos e a justiça para engavetar denúncias e joga-se a sujeira para baixo do tapete. Agora, não mais, algo mudou. Tanto que vários filmes estão tratando do assunto. O melhor deles, o chileno “O Clube”, tem crítica publicada aqui, no cinema com recheio.

No caso de “Spotlight”, trata-se de um bom filme, didático, com ótimo desempenho do elenco.  A narrativa segue o estilo convencional, muito carregada de diálogos o tempo todo, mas o resultado final convence.  É competente no seu conjunto e a história relatada é importante de ser resgatada.  Embora falte uma referência mais clara ao que já se conhecia sobre o assunto ao redor do mundo, quando os fatos estavam sendo investigados em Boston.




“Spotlight – Segredos Revelados” concorre ao Oscar 2016, nas principais categorias do prêmio: filme, diretor, roteiro, montagem, ator e atriz coadjuvantes.


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