terça-feira, 5 de janeiro de 2016

OS OITO ODIADOS

Tatiana Babadobulos



OS OITO ODIADOS (The Hateful Eight). EUA, 2015.  Direção e roteiro: Quentin Tarantino. Com Samuel L. Jackson, Walton Goggins, Jennifer Jason Leigh e Kurt Russell.  167 min.

Ao sair de casa para assistir a um filme de Quentin Tarantino, já se sabe que a experiência será intensa. Em sua filmografia, o cineasta mostra que não está para brincadeira quando empunha uma câmera e escreve um roteiro original. Foi assim, por exemplo, com “Kill Bill”, “À Prova de Morte”, “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”.


Em “Os Oito Odiados” (“The Hateful Eight”), longa-metragem que chega aos cinemas brasileiros na quinta, 7, até parece não se tratar de um filme seu, tamanha a falta de ação, de diálogos ásperos e irônicos. Mas só parece.


No início do longa, situado após a Guerra Civil americana, a viagem de uma diligência é interrompida quando uma forte nevasca atinge a região e os passageiros são obrigados a parar no meio do caminho. E é ali, dentro do estabelecimento, que oito (ou talvez nove) pessoas se confinam e são colocadas à prova.


Com destino a Red Rock, o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) leva sua prisioneira, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh, ótima!), para entregá-la à Justiça. Os dois oferecem carona ao negro soldado aposentado, major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), e um sulista que diz ser o novo xerife da cidade, Chris Mannix (Walton Goggins).


No tal estabelecimento que pertence à Minnie, os quatro são recebidos por Bob (Demian Bichir), Oswaldo Mobray (Tim Roth), Joe Gage (Michael Madsen) e o general Sanford Smithers (Bruce Dern).


Para a filmagem de seu oitavo filme, Tarantino escolheu a câmera Ultra Panavision 70. Essa informação poderia ser desprezada não fosse a influência que o equipamento tem na produção. Isso porque o uso da câmera em formato widescreen aproxima os personagens da tela ao espectador e a sensação de claustrofobia é aumentada, uma vez que a maior parte das mais de três horas de filme se passa dentro de um galpão.

A ambientação pode lembrar um teatro, uma vez que o cenário é sempre o mesmo –com exceção da parte externa, quando aparece a nevasca, no início da fita. Tarantino escolheu para as externas a região do Colorado (EUA), cuja mãe-natureza deu uma boa mão afim obter a neve necessária para a produção. 

A ideia da filmagem em ambiente único, porém, é um pouco diferente da de Lars von Trier, em “Dogville”. Naquela produção, pode-se acompanhar a atriz Nicole Kidman em tom teatral em cima de um palco. Aqui, a intenção é que os personagens possam ser vistos pela plateia mesmo sem estar necessariamente em foco.

Mesmo dentro do galpão é possível ouvir o barulho do vento uivando, de maneira que o espectador sente a claustrofobia do ambiente em que os homens e a mulher estão confinados esperando a nevasca dar uma trégua. A música de Ennio Morriconi sublinha o ambiente de tensão que é necessário.


Lá pelas tantas, é o forasteiro vivido por Samuel L. Jackson que dá as cartas. É ele quem vai rebater a quantidade exagerada de “nigger” pronunciada pelos personagens em tom de preconceito. Mas sua habilidade em conduzir não se resume às armas que mantêm em punho. É na oração que estão as maiores convicções que ele apresenta e que vão garantindo o espetáculo.

Se no início o espectador tinha dúvida sobre o diretor e poderia até achar a trama sonolenta, a quantidade de balas explodidas e de sangue escorrido ao longo do filme garantem a procedência, e a ação desperta qualquer um que tenha piscado no início. É com os olhos grudados na tela que a plateia confere que Tarantino está mais afiado do que nunca.

Tanto Jackson quanto Jennifer Jason Leigh podem ser fortes candidatos ao Oscar, mas, por conta da estreia que acontece este ano nos EUA, vamos ter de esperar 2017.

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