quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

8 1/2 de FELLINI

  
Antonio Carlos Egypto




 8 ½  (Fellini Otto & Mezzo).  Itália, 1963. Direção: Federico Fellini.  Fotografia: Gianni Di Venanzo.  Música: Nino Rota.  Com Marcello Mastroianni, Claudia Cardinale, Anouk Aimée, Sandra Milo.  145 min.


“8 ½ “ de Fellini foi o primeiro filme de grande envergadura artística a que assisti no cinema, quando de seu lançamento, em 1963 ou 1964. Eu era, então, um adolescente e posso dizer que foi chocante. Tinha entendido muito pouco do filme, mas percebi que se tratava de algo brilhante, muito especial, e que, se eu não tinha tido acesso a ele, o problema era meu e não do filme.



Fui revê-lo na mesma época, buscando que ele fizesse sentido para mim.  Mas não era uma tarefa fácil.  Afinal, “8 ½ “ é um conjunto de cenas, magistralmente concebidas, que valem por elas mesmas.  Reunidas naquele conjunto, elas adquirem um significado muito maior, são lembranças, recordações de vida, desejo e imaginação, no contexto da crise criativa de um artista, que tem de continuar produzindo.  É um filme sobre a gestação do cinema de autor, com todas as suas implicações.  O diretor detém as ideias e o conceito do espetáculo, define cenários, suntuosos até, locações, figurinos, os papéis de cada um e sua ambientação.  Tem de lidar com os produtores e seus investimentos, os roteiristas e sua afetação intelectual, a imprensa e os críticos.  Um verdadeiro peso que ali se transforma em pesadelo.




Parecia muito complicado entender tudo isso, na época.  Pelo menos para mim.  Por isso, voltei ao filme outras vezes e então ele foi fazendo todo o sentido.  Aquelas imagens deslumbrantes e originais já conseguiam falar uma língua que eu era capaz de entender. Marcello Mastroianni, o diretor no filme, alter ego de Fellini, tem um desempenho extraordinário.  Desde então, sempre o considerei o ator número 1 do cinema, até sua morte.  E não mudei de opinião até hoje.  A presença diáfana e inebriante de Claudia Cardinale, no auge de sua beleza, sempre me acompanhou.  Poderia existir uma mulher mais bela, melhor fotografada, em alguma outra película?




A fotografia de “8 ½ “ é primorosa, insuperável.  Como acontecia com grande parte do cinema italiano da época ou na obra de Ingmar Bergman, com o trabalho do fotógrafo Sven Nykvist.  Havia coisas tão boas quanto, não melhores.

A música do genial Nino Rota elevou a filmografia toda de Fellini a um nível artístico que beira a perfeição.  É um compositor excepcional, sua parceria com Fellini é um dos legados artísticos mais importantes do século XX.




“8 ½ “ venceria o Oscar de melhor filme estrangeiro do ano e o de figurino.  Também, pudera, era o melhor filme já feito, não só daquele ano e não só em uma língua que não fosse inglês.

Volto sempre a rever “8 ½ “, numa cópia em DVD, restaurada e remasterizada, lançada pela Versátil, que faz jus ao filme.  É incrível, mas cada vez que o revejo fico mais maravilhado.  São imagens em preto e branco, que jogam notavelmente com a luz e a sombra, as tonalidades de branco são acentuadas pelos figurinos exuberantes, os gestos e sentimentos são expressados pelos tons de claro e escuro e pelos cenários de sonho e fantasia, tudo me encanta. Pois não é que agora o filme está de volta aos cinemas? Fantástico!  Olha, quem nunca viu não pode deixar passar essa oportunidade.




Há coisas para as quais a experiência vivida nos dificulta o exercício da crítica.  É o caso desse filme, a minha maior referência, paradigma daquilo que o cinema pode ser capaz de produzir.  Não consigo ver as falhas que esse filme possa ter.  Dizem que a paixão cega.  Talvez seja isso.  Mas se alguém me perguntasse qual o melhor filme que eu já vi na vida, eu não titubearia: foi o “8 ½ “ de Fellini, projetado numa tela de cinema.




Nenhum comentário:

Postar um comentário