sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN


Antonio Carlos Egypto





O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN.  Brasil, 2014.  Direção: Iberê Carvalho.  Com Othon Bastos, Breno Nina, Rita Assemany, Fernanda Rocha, Chico Sant’Anna.  100 min.


Há coisas que teimam em resistir às mudanças do tempo.  Talvez porque o seu glamour permaneça, apesar da debacle mercadológica.  Se não fosse assim, como explicar o cine drive-in de Brasília, que abriu em 1973, fechou em 1988 e foi reaberto e mantido, apesar da queda considerável de frequência e faturamento?

O filme do brasiliense Iberê Carvalho, “O Último Cine Drive-In”, é uma homenagem a essa batalha quase quixotesca de preservação de um tipo de cinema que não atende mais às expectativas do público, mas continua tendo seu charme.  E, pelo jeito, não só para os frequentadores que estão em busca de um espaço preservado para seus contatos sexuais. 




O cinema drive-in é, sem dúvida, referência e personagem do filme, e as cenas finais são uma ode visual ao mundo romântico, sem prejuízo do sexual, que envolve essas projeções.

Os personagens que circulam por esse cinema são figuras desencontradas de si mesmas, vivendo conflitos pessoais diversos ou tendo que encarar os momentos finais da vida.  No centro da narrativa, uma relação pai-filho complicada, cheia de desencontros e incompreensões.  Um mundo se desintegra, enquanto a morte física da mãe se anuncia.  A decadência do cinema resiste por amor de seus funcionários, obstinação do dono, ideal romântico a ser cultivado pelo filho para sua mãe, ainda que seja por um dia só.




As figuras humanas que constituem os personagens de “O Último Cine Drive-In” vão se revelando pouco a pouco, suas estranhas relações permanecem com algum mistério, mas o que as liga é esse cinema drive-in, que chega à sua derradeira sessão e enche de emoção a todos, fazendo uma liga improvável entre essas pessoas.

O filme é bem construído nesse quase quebra-cabeças que nos apresenta e tem um elenco cheio de talentos, o que dá uma dimensão forte a essa história que é contada aos bocados.




O veterano Othon Bastos faz Almeida, o pai e dono do cine drive-in. Breno Nina faz Marlonbrando (o nome não podia ser mais emblemático para se referir ao cinema), o filho.  Rita Assemany faz a mãe Fátima, doente terminal.  Os dois funcionários do cinema são Paula (Fernanda Rocha), a projecionista/operadora, e José (Chico Sant’Anna, o bilheteiro, limpador, faz-tudo do cinema.  Todos estão muito bem nos seus papéis.  No Festival de Cinema de Gramado 2015, Breno Nina levou o prêmio de ator, Fernanda Rocha, o de atriz coadjuvante, além de Maíra Carvalho, o da direção de arte.  E o filme levou o prêmio da crítica de melhor longa-metragem nacional.


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