sábado, 27 de junho de 2015

CASADENTRO


Antonio Carlos Egypto




CASADENTRO (Casadentro).  Peru, 2013.  Direção e roteiro: Joanna Lombardi.  Com Elide Brero, Grapa Paola, Delfina Paredes, Anneliese Fiedler.  87 min.


O envelhecimento costuma trazer quase inevitavelmente limitações físicas.  Pode também trazer a solidão, a acomodação e a rotina, como uma espécie de ritual protetor.

É o caso da senhora Pilar, de 81 anos, vivendo num vilarejo do interior do Peru, apegada a sua cadela Tuna, em relação afetiva muito intensa com ela.  Quase nada acontece em sua vida, dia após dia.  Todo dia ela faz tudo sempre igual, como diria Chico Buarque.




Até que sua monotonia é quebrada por um telefonema.  Sua filha Patrícia vem vindo visitá-la, acompanhada da própria filha, neta de Pilar, e de seu bebê, recém-nascido.  Uma reviravolta se processará na vida de D. Pilar, ou, pelo menos, ela sente isso assim, como uma intromissão, uma ameaça.

Mulheres, mães de três gerações, irão conviver por um tempo, evidenciando as diferenças que o papel materno foi tomando no mundo de cada uma delas.  E ao longo do tempo histórico de suas vidas.




“Casadentro”,  primeiro longa-metragem de Joanna Lombardi, é convincente ao falar de quase nada, ou seja, da rotina dessa mulher idosa dentro de casa, às voltas com sua cachorra, e recebendo a visita da família da filha.  Onde aparentemente nada acontece, podem-se compreender as marcas emocionais do passado, os significados da rotina na sobrevivência psíquica e da maternidade.

Destaque para o desempenho de Elide Brero como D. Pilar, atriz veterana de grande talento, incentivada pela jovem diretora a aceitar o papel, quando já se considerava aposentada, o que acabou gerando novas atuações no cinema para ela, após essa interpretação marcante.




A diretora e roteirista de “Casadentro” é filha de um conceituado e premiado cineasta peruano, Francisco Lombardi, com 13 longas no currículo e pelo menos um êxito internacional, “La Ciudad y Los Perros”, de 1985.

Um filme simples, intimista, minimalista, com enfoque feminino, que resulta num produto artístico de boa qualidade, fonte de reflexão e demonstração de talento do cinema peruano, ainda muito pouco presente no nosso mercado exibidor.




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