quinta-feira, 21 de maio de 2015

SEGUNDA CHANCE

Antonio Carlos Egypto





SEGUNDA CHANCE (En Chance Til).  Dinamarca, 2014.  Direção: Susanne Bier.  Com Nikolaj Coster Waldau, Ulrich Thomsen, Maria Bonnevies, Nikolaj Lie Kaas.  102 min.


“Segunda Chance”, da cineasta dinamarquesa Susanne Bier, é um filme que lida com decisões tomadas no limite do desespero.  Conflitos morais se estabelecem por meio de tentativas, até bem intencionadas, de resolver ou acomodar problemas, passando por cima de questões legais.  E o filme explora a dúvida: até onde o ser humano pode chegar, numa situação-limite?  Nessas horas, como distinguir entre o que é certo e errado?  É o imponderável.

Para tratar de dilemas relevantes como esses, realiza-se uma boa produção, com cenas muito bem filmadas, porém, de mão muito pesada.  O filme é um soco no estômago!




O que mais incomoda é que bebês estarão no fulcro da narrativa, de modo doloroso.  Um bebê chora constantemente, exigindo dos pais uma disponibilidade que chega ao limite de sair à rua de madrugada com o carrinho ou então levá-lo de carro para passear, para que sossegue.  Há bebê abandonado num canto da casa, inteiramente descuidado, todo sujo.  Há morte e troca de bebês.

Um policial aproveita de sua condição para cometer um crime, envolvendo bebês, uma mulher se desespera, na falta de um bebê para chamar de seu e ameaça se suicidar.  Um casal é acusado de matar seu filho bebê, e por aí vai.  O desespero não atinge só os personagens, o espectador não sai incólume.  Difícil de aguentar.




O filme tem, porém, além da mão pesada, um outro problema: para que a trama possa se estabelecer e se desenvolver, Susanne Bier se vale de muitas cenas e situações inverossímeis.  Não uma ou duas, muitas.  Isso acaba minando a credibilidade de um filme montado numa perspectiva totalmente realista.  Um roteiro melhor elaborado poderia ter costurado a história de um modo mais crível e convincente.

Excessos sempre acabam comprometendo produções artísticas, ainda que suas propostas e intenções sejam muito boas.  “Segunda Chance” padece disso, tem a ver com o estilo que a diretora já mostrou em suas produções anteriores.





O elenco é muito bom, apresenta desempenhos que até compensam os exageros da narrativa, dando ao filme o equilíbrio necessário em meio a tanta dor e desespero.  Não é nas atuações que o filme pesa.  O que talvez mostre o estilo nórdico de agir acaba por evitar que um emocionalismo insuportável prevalecesse.  Assim sobra espaço para a reflexão poder acontecer.




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