quarta-feira, 27 de maio de 2015

A MENINA DOS CAMPOS DE ARROZ


Antonio Carlos Egypto





A MENINA DOS CAMPOS DE ARROZ (La Rizière).  China, 2010.  Direção: Xiaoling Zhu.  Com Yang Yingqiu, Xiang Chuifen, Shi Guangjin, Yang Xiaoyuan.  82 min.


O filme chinês “A Menina dos Campos de Arroz” situa-se numa região montanhosa do sul da China, a província de Guangxi, onde vive o povo Dong.  Dirigido por uma cineasta nativa da região, realizado com moradores do vilarejo, que não são atores profissionais, é o primeiro filme falado inteiramente na língua Dong.

A protagonista, que vai nos revelando os fatos e o dia a dia da comunidade ao longo do ano, é A Qiu, uma menina de 12 anos de idade, que vive junto aos arrozais e em função deles, mas deseja ser escritora.  As anotações de seu diário vão nos mostrando as diversas etapas da semeadura e colheita do arroz e as mudanças das estações.  A luta pela sobrevivência é o mote da vida daquelas pessoas e, consequentemente, da narrativa empregada.




É uma ficção totalmente inspirada, não só na realidade vivida pela diretora, numa espécie de autobiografia da infância e adolescência, mas uma representação da vida da maioria das pessoas da localidade.  O que se vê é uma espécie de modelo-padrão da vida social, afetiva e econômica do povoado.

Os pais vão em busca de sustento nas cidades, enquanto os avós criam os netos e trabalham com eles, desde crianças, nos arrozais.  Mas doença e morte dos mais velhos podem levar a um retorno às origens, por parte dos pais, e o dilema de voltar a depender exclusivamente da renda do arroz, muito incerta e vinculada às condições climáticas, ou ir em busca de outra vida na cidade.




A tradição se encontra com a modernidade, de alguma forma, pelo vínculo cidade-campo, que acaba por envolvê-los em busca de sobrevivência.  Nos dias de hoje, não há mais povoados isolados do mundo, por mais distante que seja a sua realidade geográfica.  As expectativas tecnológicas, pelo menos, estarão presentes.  Mesmo que inacessíveis à maior parte das pessoas.  Um belo exemplo é dado pelo irmão menor da protagonista, que dorme na aula, porque fica até tarde na casa de um amigo, jogando um videogame que ele não pode ter.

Quem gosta de ver na tela do cinema lindas paisagens, lugares exóticos e beleza natural, vai apreciar muito o filme.  Que é bonito e tranquilo, apesar dos conflitos que exibe.  Quem quiser conhecer como se cultiva o arroz, em suas várias fases, da preparação do terreno, da irrigação, do plantio, da colheita, da seleção dos grãos e tudo o mais, também vai apreciar muito o filme.  Ele parece até um documentário sobre os arrozais, recheados de personagens.




Quem puder apreciar o contato com uma outra realidade, um tanto distante, e uma língua estranha, vai usufruir de uma capacidade que o cinema tem de nos transportar no espaço e no tempo, suspendendo a nossa realidade imediata.  Às vezes, pelo glamour e pela fantasia, ou pela reconstituição de uma outra época.  Às vezes, pela viagem a sítios que nunca conseguiríamos conhecer.

No fim das contas, a gente percebe que o mundo é pequeno e que somos todos muito semelhantes enquanto humanos.  A variedade é imensa, mas os sentimentos, desejos e esperanças, são parecidos.  A essência do humano do rincão mais rural ao ambiente urbano de maior sofisticação tecnológica está sempre lá.  E tudo é tão familiar, se olharmos com atenção.




“A Menina dos Campos de Arroz” é um filme singelo, bonito, até limpo e arrumado demais para quem está tratando de uma vida de pobreza.  Segue uma narrativa quase documental, sem maiores inovações.  Mas se vê com imenso prazer.




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