sábado, 11 de abril de 2015

AMOR À PRIMEIRA BRIGA


Antonio Carlos Egypto




AMOR À PRIMEIRA BRIGA (Les Combattants).  França, 2014. Direção: Thomas Cailley.  Com Adèle Haenel, Kévin Azaïs, Antoine Laurent, Brigitte Roüan, William Legbhil. 98 min.


Dizer que “Amor à Primeira Vista” é uma história de amor em que opostos se atraem e o improvável acontece entre dois jovens, Arnaud (Kévin Azaïs) e Madeleine (Adéle Haenel) que, aparentemente, não teriam nada a ver um com o outro, seria sugerir algo pouco original, previsível e que beira o clichê.  No entanto, o filme do diretor francês estreante Thomas Cailley (também roteirista em parceria com Claude Le Pape), está bem distante disso.  Ele tem um roteiro muito bem estruturado, uma pegada firme que explora situações dramáticas e cômicas com a mesma eficiência e escapa completamente dos clichês.




O que mais contribui para isso é a construção dos personagens, inteligente e surpreendente.  Que amplia e subverte a questão de gênero.  Mulheres têm o direito de serem rudes, agressivas, dominadoras, teimosas, obcecadas, atraídas pelo combate e pelo desafio às capacidades físicas, mas, como esses comportamentos são atribuídos socialmente ao gênero masculino, um personagem feminino que reúna todas essas características soa como novidade.  Se fossem apenas uma ou duas características desse tipo e em destaque, seria mais naturalmente assimilável.  Mas não há como negar que o conjunto de atributos que fazem parte da personalidade de Madeleine produzem estranheza.

O personagem Arnaud, por seu lado, é um rapaz tranquilo, pacífico, pouco competitivo, com uma sensibilidade e um trato com as pessoas educado e até refinado.  Ele incorpora um conjunto de atitudes que o fazem mais “feminino” do que a média dos homens.  Não é gay nem afeminado, mas sua masculinidade se apresenta de forma mais sutil, sem alarde.  Colocado ao lado de Madeleine, o contraste se evidencia mais.




As diferenças entre os dois personagens, além de não serem intransponíveis, mostram que os universos do masculino e do feminino podem ser ampliados, com vantagens para os dois gêneros.  É preciso talento para conduzir uma história de amor com personagens assim, sem cair não apenas no clichê, mas também na obviedade ou no didatismo.  Thomas Cailley consegue isso.

É bom lembrar que as relações desses personagens tratam também de sobrevivência e não apenas de amor e desejo.  O que torna a trama mais curiosa e interessante.  Trata-se de um combate que inclui um embate não só com o outro, mas consigo mesmo e a respeito do que se sente.  Por isso, o título original do filme é “Les Combattants” (“Os Combatentes”). O título brasileiro “Amor à Primeira Briga” não é absurdo, remete a uma cena importante do início da narrativa, contudo, sugere algo bem mais banal do que aqui se pretende.




Os prêmios que o filme recebeu em várias categorias da Quinzena de Realizadores no Festival de Cannes 2014 são um reconhecimento da qualidade do trabalho apresentado.  Merecidos.

  

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