domingo, 22 de março de 2015

O SAL DA TERRA


Antonio Carlos Egypto



O SAL DA TERRA (The Salt of the Earth)França, 2014.  Direção: Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado.  Documentário, 109 min.


Se você me perguntar se vale a pena ver “O Sal da Terra”, aquele documentário sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que concorreu ao Oscar 2015, eu poderia lhe responder primeiro com uma pergunta.  Você gostaria de ver ampliadas na tela do cinema as fotografias de Sebastião Salgado?  É claro que sim.  São de uma beleza estonteante que só têm a ganhar com a ampliação, mantendo a qualidade da imagem.  Esse já é um motivo suficiente para se sair de cada para ver o filme.

Acrescente-se a isso que quem dirige o documentário são duas pessoas importantes.  O cineasta alemão Wim Wenders, que tem uma vasta trajetória na história do cinema, em que eu destacaria “Asas do Desejo”, de 1987, uma obra-prima. Seu codiretor é Juliano Ribeiro Salgado, filho de Sebastião, que com o pai tem compartilhado não só a existência familiar e a influência educacional, mas também várias aventuras fotográficas pelo mundo.


WIM WENDERS e SEBASTIÃO SALGADO


Sebastião Salgado não é só um dos mais importantes fotografos do mundo, é um homem de ideias claras, comunicação fácil, inteligência aguda.  Ouvi-lo falar sobre seu trabalho e sua longa experiência no ofício é muito atraente e esclarecedor. 

Ele andou pelos rincões mais remotos, foi em busca de entender o ser humano e suas terríveis mazelas, da ambição desmedida à fome, ao êxodo, à guerra e ao genocídio.  Foi atrás da morte para mostrá-la ao mundo.  Tornou-se um extraordinário fotógrafo social, mas acabou adoecendo.  Não foi atingido por nenhum doença infecciosa.  O que adoeceu foi sua alma, segundo suas próprias palavras.

E é aí que Sebastião Salgado se reinventa, muda o foco de sua câmera e vai em busca de territórios primitivos, fauna e flora selvagens, paisagens nunca registradas, coisas grandiosas que fazem um tributo à beleza do planeta.  E descobre que grande parte do nosso planeta continua intocada, para nossa surpresa.




Ao lado dessa incrível trajetória, o filme também descreve uma não menos importante realização pessoal e familiar: a reconstrução da grande fazenda de seus avós, recuperada após ter sucumbido à seca e à perda de sua mata de origem.  Dois milhões e meio de árvores nativas plantadas, o retorno da água em abundância, a plena recuperação ecológica, mostram que é possível reverter esse nosso mundo que se deteriora.  Existem caminhos.

Todas essas informações básicas eu já havia ouvido dele em uma entrevista pela TV a Jô Soares.  Colocadas no filme, com o profissional em ação, além de suas magníficas fotos, se tornam puro prazer intelectual, estético.  E um revigorante impulso positivo.



O filme está sendo exibido na 4ª. Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, em São Paulo, que tem muitos outros bons títulos sendo mostrados.  Além disso, a Mostra faz uma apresentação de filmes históricos que incluem um diretor importante do Egito, Youssef Chahine (1926-2008), com “Um Dia, o Nilo”, e Glauber Rocha (1939-1981), com o curta “Amazonas, Amazonas”. Tem como outra grande atração a homenagem/retrospectiva ao cineasta brasileiro Jorge Bodanzky, que filmou o clássico “Iracema, uma Transa Amazônica”, de 1974, e voltou às comunidades amazônicas com “No Meio do Rio, Entre as Árvores”, de 2009, entre outros trabalhos que exploram a fronteira difusa entre o documentário e a ficção.

“O Sal da Terra” entrará no circuito comercial dos cinemas logo após a Mostra Ecofalante.




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