terça-feira, 9 de dezembro de 2014

MOMMY

 Antonio Carlos Egypto




MOMMY (Mommy).  Canadá, 2014.  Direção e roteiro: Xavier Dolan.  Com Anne Dorval, Antoine-Olivier Pilon, Suzanne Clément.  138 min.


Xavier Dolan é um jovem ator, roteirista e diretor, do Canadá que fala francês, que, aos 25 anos, já está no seu quinto longa-metragem como cineasta.  E abocanhou alguns prêmios importantes em Cannes.

Seu primeiro filme, de 2009, já demonstra o quanto as relações mãe e filho absolutamente conturbadas estão no seu imaginário (e/ou, na sua experiência concreta).  O título é simplesmente “Eu Matei Minha Mãe”, revelador da força do Édipo e de desejos assassinos que povoam  mentes humanas em relações vitais.  Novos e terríveis embates entre mãe e filho ocupam a tela do cinema em seu novo filme, “Mommy”.




Aqui, um garoto superagitado, provocador e com atos delinquenciais frequentes, aos 15 anos de idade, provoca um pandemônio na vida da mãe.  A ponto de levá-la a interná-lo, para poder se ver livre dele, apesar da culpa que isso lhe acarreta.  Ele é louquinho e carente, perdeu o pai há pouco e isso é um agravante, ou explicação, apresentado pelo filme.  Mas a mãe não fica atrás.  Não podia ser mais inadequada e incompetente a sua atuação como mãe.  E é um completo desastre a sua falta de controle emocional.  Ela só agrava os problemas e põe tudo a perder.  Numa relação assim, é preciso que alguém mais apareça para dar algum equilíbrio ao relacionamento.  Providencia-se, então, uma vizinha perdida, comprometida no seu trabalho de professora por problemas vocais que, embora viva com o marido, parece totalmente desconectada dele.  Por isso, solta no mundo e disponível.

 

Por aí já se vê que tudo está fora do lugar.  Mas o pior é o modo como o diretor conduz a narrativa.  É tudo muito histérico, exagerado, aos gritos.  Cansativo e irritante.  Mas se você, como espectador, for capaz de resistir a esses estímulos agressivos e aguentar o registro over do cineasta, vai perceber que, por trás de toda essa história, há ideias, preocupações válidas e, principalmente, capacidade de encenação.  Há criatividade na composição de muitas cenas, beleza visual, enquadramentos estilosos.  Não é um filme para se desprezar, não.




Está sendo considerado o melhor trabalho do enfant terrible Xavier Dolan.  De seu primeiro filme, a que já me referi, nem se fale, era tosco e equivocado, apesar de já forte e intenso, além de altamente provocador.  Depois vieram “Amores Imaginários”, de 2010, “Laurence Anyways”, de 2012, e “Tom na Fazenda”, de 2013.  Não vi todos, que ninguém é de ferro, e já nem me lembro bem deles, mas, apesar disso, posso apostar que, com “Mommy”, o diretor cresceu artisticamente, amadureceu.  Há quem adore o seu estilo, há quem não o suporte.  Não sei qual será o seu caso, mas, gostando ou não, há que se reconhecer talento no trabalho de Xavier Dolan.




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