sábado, 22 de novembro de 2014

CIÚME


Antonio Carlos Egypto




CIÚME (La Jalousie).  França, 2013.  Direção: Philippe Garrel.  Com Louis Garrel, Anna Mouglalis, Rebecca Convenant. 77 min.


O relacionamento amoroso movimenta o mundo, embala o mundo.  Questões como o enamoramento, o encantamento por alguém, a fidelidade e o ciúme, sacodem a humanidade desde sempre.

É um assunto extremamente complicado, de modo que qualquer tentativa de transformá-lo em manual, teste, teoria comprovada, vai inevitavelmente passar longe de entender seu dinamismo, fluidez e complexidade.  Por outro lado, é o assunto mais atraente que se pode encontrar, daí o seu apelo nos romances, novelas, músicas, peças teatrais, filmes.

O ciúme é um dos componentes mais espinhosos do relacionamento amoroso, senão o mais.  Shakespeare o imortalizou em seu “Otelo”.  Será difícil abordá-lo melhor, com mais verdade ou intensidade.  É fácil cair na superficialidade, na caricatura. Tratá-lo com acuidade é uma outra história.




O diretor francês Philippe Garrel consegue transmitir realidade psíquica, quando aborda o tema do amor, o que ele faz com frequência, em filmes como “Amantes Constantes”, de 2005, “Fronteira da Alvorada”, 2008, e “Verão Escaldante”, de 2011.  Desta vez, o foco é justamente o ciúme, que impregna a relação de um casal de atores com dificuldades financeiras.  Louis (Louis Garrel, filho do diretor), e Cláudia (Anna Mouglalis), em momentos diferentes de vida, experenciaram outros vínculos amorosos.  E esses vínculos se imiscuem na história que eles constroem juntos.  Até onde será possível administrá-los?  Que desprendimento é necessário para aceitá-los como fatos reais?  Há, inclusive, uma filha de outro relacionamento.  De que modo rompem a fantasia do idílio amoroso?

Philippe Garrel filma em preto e branco, com sutileza e economia, a dimensão psicológica da relação e seus problemas, sem a pretensão de entendê-la.  Mostra sua complexidade, em tom baixo e leve, apesar da intensidade dos sentimentos.  Expõe o que é, como é, sem enrolar, sem simplificar ou enganar.  E, naturalmente, sem seguir as fórmulas tradicionais do cinema clássico.  Garrel se inspira em Truffaut e na nouvelle vague para desenvolver sua narrativa.




Louis Garrel, o protagonista masculino, tem um jeito cool e desarrumado que o projetou no cinema.  Não está lá apenas na condição de filho.  É um ator competente e bem sucedido.  Já filmou muito sob o comando do pai cineasta.  Sua parceira, Anna Mouglalis, a protagonista feminina, tem uma atuação forte e intensa, mas, ao mesmo tempo, sutil.  Belo desempenho.

O filme é uma pequena joia.  Pequena, porque  dura só 77 minutos.  E não precisa mais: está tudo lá, de forma precisa, bem arrumada, sem subestimar a capacidade do espectador de refletir sobre a vida amorosa em geral e o ciúme, em particular.




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