terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O ARTISTA

Antonio Carlos Egypto



O ARTISTA (The Artist). França, 2011. Direção: Michel Hazanavicius. Com Jean Dujardin, Berenice Bejo, John Goodman, James Cromwell. 100 min.


Fevereiro de 2012. A premiação do Oscar está chegando e os cinemas se apressam em lançar todos os filmes indicados ao galardão máximo da indústria, de olho na bilheteria. O público geralmente corresponde. Um dos favoritos deste ano é “O Artista”, que já levou o prêmio de ator em Cannes, 3 Globos de Ouro, prêmios da crítica em Nova York e Londres, indicação ao Bafta.

Começa a projeção: o filme é em preto e branco, mudo, com intertítulos. Só falta o acompanhamento musical ao vivo, para voltarmos ao ano em que começa a ação: 1927. Como naquele tempo, os atores e seus personagens bem que tentam falar, a câmera até põe em primeiro plano bocas falando. Que tal tentar leitura labial? Não, não é possível ouvi-los, num filme silencioso. Mas a música já não está fora da película, como naquele tempo, acompanha cada plano de “O Artista”. E é uma bela trilha sonora.

A produção é francesa, assim como o diretor, Michel Hazanavicius. Mas o filme é sobre Hollywood, seu glamour, seus astros e estrelas do tempo do cinema mudo. E o que aconteceu com eles, quando adveio o cinema sonoro.


O artista em questão é George Valentin (Jean Dujardin), uma mistura de Douglas Fairbanks com Rodolfo Valentino, que está no Olimpo e não imagina que algo possa tirá-lo de lá. É amado, venerado pelas fãs, tem um sorriso largo e teatral, de quem domina o ambiente. Lembrando Charlie Chaplin, se nega a fazer filmes sonoros, preferindo continuar com os silenciosos. Mas a tecnologia será irreversível e, se necessário, engolirá grandes talentos. Assim como produzirá novas estrelas, como Peppy Miller (Berenice Bejo), ex-fã e candidata a atriz, que se dá bem com o cinema sonoro e vira estrela, enquanto o astro decai. Só que rola uma química amorosa entre eles, o que acabará por unir, na trama, os dois momentos marcantes do cinema: o auge do mudo e o sucesso avassalador do cinema falado.

Não há muita novidade nessa narrativa. “Cantando na Chuva”, de Stanley Donen e Gene Kelly, de 1952, já havia contado tudo isso num musical dos mais brilhantes da história do cinema. Só que, ali, o filme era feito com todos os recursos da época, inclusive a cor e o som, sem disfarces.

Em “O Artista”, simula-se um filme a la final dos anos 1920. Conta-se a história, procurando fazê-lo do modo como ela seria contada na época em que ocorre. É como se. Evidentemente, os recursos atuais do
cinema estão lá, mas procura-se criar um clima que remete àquele passado.

Duas cenas, pelo menos, nos trazem de volta ao presente cinematográfico. Peppy Miller se abraça ao casaco pendurado do astro e uma mão sai da manga e a acaricia. Em outro momento, George Valentin tenta falar e não é ouvido, mas todos os outros sons do camarim são ouvidos, como algo que bate ou cai, por exemplo.


Chamam a atenção as boas performances dos protagonistas, mas quem encanta a plateia é mesmo um cachorrinho sensacional, amigo inseparável de Valentin, e que tem papel decisivo na história.

“O Artista” faz uma homenagem ao cinema mudo, sua maneira de representar e contar histórias, reverenciando Hollywood, a sua fábrica de sonhos. Homenageia especialmente o cinema de entretenimento, embora reverencie também o seu lado artístico. Que é diferente do expressionismo alemão, que dominou a cena cinematográfica da década de 1920, com obras de grande porte. Havia também a comédia muda, centrada na ação física, de gente como Charlie Chaplin, Buster Keaton, o Gordo e o Magro, e era uma vertente diferente da dos romances, westerns e aventuras do tipo capa e espada. Sem falar nos filmes históricos ou policiais. Os gêneros cinematográficos foram se estabelecendo e se consolidando.

O cinema silencioso era um universo extremamente rico e variado. Voltar a ele, para relembrá-lo, é cultivar a história do cinema, uma arte que se impôs, evoluiu com tamanha rapidez e alcançou um significado cultural que seus pioneiros mal poderiam imaginar. A lembrança é oportuna, até surpreende que o filme tenha tido apoio para ser realizado e que se destaque dessa maneira. Deve ter deixado perplexo até mesmo o ousado diretor francês que o concebeu.

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