quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret



Tatiana Babadobulos

A Invenção de Hugo Cabret. (Hugo). Estados Unidos, 2011. Direção: Martin Scorsese. Roteiro: John Logan. Com: Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz e Christopher Lee. 126 minutos



Martin Scorsese, autor de filmes como “A Ilha do Medo”, “Os Infiltrados”, “O Aviador”, “Touro Indomável”, “Táxi Driver” resolveu juntar a tecnologia do cinema (3D) com os primórdios (cinema silencioso) e fazer uma grande homenagem à sétima arte. O resultado pode ser conferido em “A Invenção de Hugo Cabret” (“Hugo”), uma belíssima produção que chega aos cinemas nesta sexta-feira, 17.

Depois de os irmãos Lumière fazerem a primeira apresentação de cinema no dia 28 de dezembro de 1895, o mágico Georges Méliès ficou fascinado com o que o cinematógrafo era capaz de fazer e tratou de encomendar um aos conterrâneos franceses. Não conseguiu comprar o aparelho deles, mas se valeu de outros meios para conseguir um. Então, com o aparelho em mãos, filmou as suas mágicas e trucagens e apresentou-as em forma de filmes. Méliès produziu mais de 500 (que naquele tempo eram bem curtos) e o seu mais conhecido chama-se “Viagem à Lua”, de 1902, com oito minutos de duração e colorido à mão, fotograma por fotograma.



Mas o que tem a ver o longa-metragem de Scorsese com um dos pais do cinema? Na trama, que tem roteiro de John Logan (“Rango”, “O Aviador”), baseado no livro de Brian Selznick, o garoto Hugo (Asa Butterfield, de “O Menino do Pijama Listrado”) resolve remontar um robô, que seu pai (Jude Law, de “Contágio”, “Um Beijo Roubado”), um relojoeiro renomado na Paris dos anos 1930, deixou de lembrança. No meio do caminho, conhece um senhor, Georges (Ben Kingsley, de “Ilha do Medo”), que tem uma loja na estação de trem. Sua neta, Isabelle (Chloë Grace Moretz, de “(500) Dias Com Ela”), o ajuda em mais uma missão.

Se a história não parece empolgante, em um primeiro momento, é o visual que vai deixar o espectador estarrecido. Primeiro porque a história se passa em Paris, no começo do século 20, e as ambientações foram todas refeitas para receber as filmagens. A estação de trem onde mais tempo se passa a trama é hoje o Musée D’Orsay (museu com obras impressionistas) e, que, no passado, era realmente uma estação.

Enquanto Hugo vai tentando descobrir o segredo que seu pai lhe deixou, e procurando um novo lar, o espectador vai sendo inserido dentro do filme, com a ajuda da terceira dimensão.



Na primeira imagem, com a Torre Eiffel ao fundo, Scorsese já mostra que está em Paris. Embora toda a ambientação seja na capital francesa, os diálogos são todos em inglês. Este talvez seja um dos equívocos na produção, pois engana o espectador, já que os nomes das personagens e as placas dos estabelecimentos são em francês. No idioma de Molière só são pronunciados “monsieur” e “mademoiselle”. Esse tipo de opção há um propósito, é claro, já que os norte-americanos, geralmente o maior público do cinema de Scorsese, não tem o costume ir ao cinema para assistir à produções dubladas ou com legendas.

Para ambientar a narrativa na Europa, porém, o diretor preferiu atores britânicos, com exceção de Chloë. Também faz parte do elenco Sacha Baron Cohen (“Borat”), como o inspetor da estação, um funcionário atrapalhado, que foi pra guerra e hoje tem problema com uma das pernas. São protagonizadas por eles as melhores cenas de humor da fita.

Scorsese lembra, no material de divulgação para a imprensa, que Méliès “explorou e inventou basicamente boa parte do que fazemos hoje”. E continua: “É uma linha direta entre os filmes de ficção científica e fantasia dos anos 1930, 1940 e 1950 até o trabalho de (Steven) Spielberg, (George) Lucas, James Cameron. Está tudo lá. Méliès fez o que fazemos hoje com computadores, tela verde e tecnologia digital, mas ele conseguiu apenas com sua câmera e estúdio”.

“A Invenção de Hugo Cabret” é mais do que fantasia. É uma forma que Scorsese encontrou de homenagear quem começou a fazer cinema, e presentear os espectadores com belíssimas imagens e com 3D honesto e com finalidade. Uma nostalgia real e que mostra, cada vez mais, que o conteúdo precisa estar, sobretudo, acima da forma. E que utilizar a tecnologia para contar uma boa história é um bom negócio.

“A Invenção de Hugo Cabret” concorre a 11 estatuetas do Oscar, a maior indicação este ano. Dia 26 de fevereiro vamos conhecer os vencedores.

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