domingo, 21 de junho de 2009

TINHA QUE SER VOCÊ




Antonio Carlos Egypto


TINHA QUE SER VOCÊ (Last Chance, Harvey), Estados Unidos, 2008. Direção: Joel Hopkins. Com Dustin Hoffman, Emma Thompson, Eileen Atkins e Kathy Baker. 93 min.


Uma história de amor maduro, num filme que segue as convenções do gênero, incluindo o drama, o humor, as reviravoltas e surpresas da trama, o suspense e o desfecho. Tudo muito bem feito, embora sem grandes novidades.

O que o filme tem de interessante é o fato de abordar o enamoramento na maturidade, o que torna tudo mais complexo, cheio de nuances e mais difícil. As feridas de outras experiências, as decepções, as expectativas que vão repetidamente se frustrando e até a falta de disponibilidade para a experiência amorosa, que também aparece, tornam improvável esse enamoramento. Acresce-se a isso o investimento no trabalho ou no estudo, como fatores também compensatórios, e o declínio deles gerando um verdadeiro impasse na vida.

A solidão fala mais alto, se faz necessário enfrentá-la e superá-la, mas pode-se já estar acostumado a ela e pouco disposto ou disposta a mudar de hábitos, de lugar ou de vida. As relações familiares já constituídas formam uma barreira que, às vezes, parece intransponível. É esse conjunto de questões-problema que interfere no amor em plena maturidade. O amor parece que se apresenta fora de hora, desajeitado.

Ele parece encontrar sua tábua de salvação, ela procura fugir, com medo da rejeição e, sobretudo, de sofrer. Ele é Harvey (Dustin Hoffman), nova-iorquino que está prestes a perder um emprego de compositor de jingles, que limita seus dotes artísticos e que explora sua última chance de se enamorar, conforme o título original do filme. Ela é Kate (Emma Thompson), londrina, cuja vida se limita ao trabalho, a um curso sobre literatura e à atender e cuidar de uma mãe que exige a atenção dela o tempo todo. Ambos viverão a experiência amorosa que vai mudar suas vidas em plena maturidade.

O que o filme tem de melhor, mais cativante, é a fantástica interpretação, tanto de Dustin Hoffman, quanto de Emma Thompson. O filme é deles, que conseguem passar emoções complexas, com uma expressão, um olhar, um movimento. Aquele tipo de interpretação que pode dispensar as palavras. Elas são supérfluas porque os gestos e as ações já mostraram tudo. A sutileza impera onde transborda o talento. E é bonito de ver.
Eles fazem de seus personagens gente de carne e osso, dando a dimensão humana que os engrandece. “Tinha que ser você” é um filme de ator e atriz em estado de graça, desfrutando de sua maturidade de forma muito mais plena e tranquila do que a de seus personagens.

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