sexta-feira, 22 de maio de 2009

BUDAPESTE, O LIVRO E O FILME

Antonio Carlos Egypto





Quando li o romance “Budapeste”, de Chico Buarque, admirei muito sua escrita e o intrigante jogo do ser e não ser do escritor / ghost-writer. Encontrar-se e perder-se entre as mulheres, enfrentando o desconhecido, muito bem representado pelo húngaro, “a única língua que o diabo respeita”, é o drama do nosso protagonista, o José Costa, que em Budapeste vira Zsoze Kósta. A admiração pelo idioma húngaro, com seus desafios e sonoridade surpreendentes, encontra eco no amor ao idioma português, ofício do escritor e por meio do qual o ghost-writer vive sua experiência anônima. Ele a viverá também em húngaro. É, portanto, um livro sobre a dualidade da experiência e da vivência da língua e de sua cultura.

A Budapeste, onde desembarca o personagem, é também dual – é mistério, imaginação e realidade que se apresentam. Para o autor Chico Buarque, o mistério prosseguiria, era uma cidade que ele não conhecia até escrever o romance, embora tivesse colhido informações e imagens sobre ela. Era, portanto, uma Budapeste etérea aquela que o personagem experimenta ao longo do livro. O que é real ou imaginado se confunde todo o tempo, na realidade da mente do personagem.

Já no filme “Budapeste”, dirigido por Walter Carvalho, com base no livro de Chico Buarque, ainda que a fotografia possa produzir imagens mais indefinidas ou enevoadas, é na Budapeste real que estamos e tudo o que se passa tem existência física: as casas, os interiores, os amores, a chuva. É inevitável, portanto, que uma parte do clima sempre intrigante do livro se perca no filme. E a tentativa de pôr na tela a interação desejo/fato acaba deixando a trama um tanto truncada.

Trata-se, porém, de uma bela produção que envolveu Brasil, Hungria e Portugal, com um elenco que tem Leonardo Medeiros, Giovanna Antonelli, Paola Oliveira e a bela atriz húngara Gabriela Hãmori, com direito a uma ponta até do próprio Chico Buarque.

O filme é bonito, elegante, e Leonardo Medeiros deixa em aberto a figura do protagonista, ele é difuso, disperso e indefinido, o que se coaduna com a trama desenvolvida. As mulheres que povoam seu universo estão bem representadas no filme e o embate/encanto do encontro das culturas também está satisfatoriamente apresentado. De modo que o resultado, se não chega a impactar, como faz o livro, tem seus méritos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário